Doria apela a pauta Bolsonarista para melhorar popularidade
Foto: Reprodução/ Folha
A base de deputados do governo de São Paulo na Assembleia Legislativa de São Paulo quer aprovar na semana que vem o projeto de lei 410/2021, apelidado de PL da grilagem de João Doria (PSDB) por seus críticos. Eles encerraram a discussão do texto na Casa nesta terça-feira (23).
O projeto do governo propõe a transferência de terras pertencentes ao estado para produtores assentados, de forma definitiva.
Em sua formulação mais ampla, o projeto parece dar a segurança jurídica almejada por assentados, mas seus críticos apontam armadilhas que, segundo eles, fazem com que o texto seja muito mais benéfico ao agronegócio e potencialmente danoso aos pequenos produtores.
O PL dá permissão, por exemplo, para que os assentados vendam seus lotes após 10 anos da titulação, o que poderia fazer com que empresários do agronegócio e grandes latifundiários então os adquirissem, abrindo espaço para especulação imobiliária, privatização dessas áreas e reconcentração de terras.
Isso também implicaria em efeito danoso à agricultura familiar e, portanto, à segurança alimentar.
O texto prevê também a cobrança de 10% do valor total da terra a ser pago pelo assentado para ter a posse do terreno, considerado muito alto para os assentados, ainda mais em áreas localizadas em regiões muito valorizadas, o que poderia gerar endividamento. O valor baixou para 5%, ainda considerado muito alto, após uma emenda apresentada ao projeto ter sido acatada.
Esse mecanismo também permitiria, segundo seus críticos, a regularização de áreas ilegalmente ocupadas por grileiros mediante pagamento, eliminando assim a possibilidade de arrecadá-las para implantar novos assentamentos rurais.
A proposta terá impacto especialmente na região do Pontal do Paranapanema, que concentra historicamente conflitos fundiários e é foco de atuação de Luiz Antônio Nabhan Garcia, secretário especial de Assuntos Fundiários do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa) e aliado próximo de Bolsonaro.
A região possui dezenas de assentamentos que mobilizam disputas entre ruralistas e assentados e que seriam atingidos pelas mudanças propostas no projeto de lei.
Lideranças de oposição a Doria na Alesp e movimentos de luta pela terra como o MST (Movimentos dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) dizem enxergar na nova investida do governador no chamado “PL da grilagem” uma tentativa de disputar o eleitorado do agronegócio e do latifúndio com Bolsonaro, que planeja enfrentar na disputa presidencial em 2022.
Em nota, o MST afirma que a proposta tem potencial de gerar “empobrecimento da população rural e urbana de inúmeros municípios no estado, desconfiguração dos assentamentos enquanto comunidades de direitos, trabalho e vida, ‘inchaço’ das periferias das cidades, redução da produção e encarecimento dos alimentos, ameaçando, também, a segurança alimentar e nutricional da população paulista.”
“Sabendo que em torno de 70% dos alimentos básicos que compõem a mesa dos brasileiros são produzidos pela agricultura familiar, a eventual aprovação do PL e a consequente reconcentração fundiária e estímulo a arrendamentos nas áreas de assentamentos rurais, com substituição das áreas de produção de alimentos básicos por produção de commodities destinadas à exportação, contribuirá para agravar a crise alimentar vivida por milhares de pessoas nas centenas de municípios paulistas”, acrescenta.
Apresentado originalmente em junho, o texto já foi alvo de críticas da Associação dos Funcionários da Fundação ITESP (Afitesp), da Comissão de Direitos Humanos da OAB e de diversos pesquisadores universitários.
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