Eleitorado quer emprego e renda
Foto: Nilson Fukuda/Estadão
Uma pandemia e inúmeras crises políticas depois e os temas que eleitores consideram como prioritários na hora de escolher seus candidatos às vésperas da disputa de 2022 mudaram drasticamente, na comparação com os assuntos que prevaleceram no pleito de 2018, forçando candidatos a adaptarem seus discursos.
Quatro anos atrás, tópicos como segurança pública e corrupção lideravam as pesquisas. Hoje, a perda da renda e o desemprego são questões prioritárias para os brasileiros, segundo levantamentos feitos por analistas e institutos de pesquisas.
A percepção da mudança de foco tem alterado a forma como os potenciais concorrentes preparam suas estratégias eleitorais. Para ser eleito, o presidente Jair Bolsonaro aproveitou uma onda antipetista e anticorrupção em uma campanha que surgiu no contexto de intervenção na segurança pública do Rio de Janeiro. Agora, com vistas à reeleição, ele tem como desafio apresentar saídas para uma crise econômica que já arranha o seu governo.
“Vivemos um momento em que o combo ‘pandemia, desemprego e inflação’ afetou demais a vida das pessoas. Nas classes mais baixas, a situação é trágica. Não dá para a gente passar pela eleição sem discutir retomada econômica. As outras pautas são importantes, mas são adjacentes quando estamos em situação trágica como essa”, afirmou Bruno Soller, cientista político do Instituto Travessia Estratégia e Marketing.
Pesquisas sobre a percepção de eleitores do Nordeste também confirmam o predomínio dos temas relacionados à renda e ao poder de compra. Segundo o cientista político e professor da Universidade Federal de Pernambuco Adriano Oliveira, a característica surge em amostragens quantitativas e qualitativas que foram feitas pela região.
“Em 2018, o tema mais presente era corrupção, seguido de segurança pública. Mudou a conjuntura. Tínhamos resquício da Lava Jato e forte debate sobre corrupção. Hoje, temos em destaque a economia, em virtude da inflação e da crise econômica, seguida de saúde, por causa da pandemia”, disse o especialista.
O reflexo dessa mudança de prioridades dos eleitores também provocou um ajuste nas bandeiras do ex-ministro da Justiça Sérgio Moro (Podemos), ícone da Lava Jato e símbolo do combate à corrupção no País. O ex-juiz tenta mostrar que não é um candidato de uma nota só ao incluir questões econômicas em sua agenda. Além de ter incluído o combate à pobreza entre os temas de seu discurso de filiação, há duas semanas, nesta terça-feira, 23, deve ir ao Senado defender uma versão alternativa do Auxílio Brasil, programa social que prevê o pagamento de R$ 400 à população mais pobre.
A frente nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, vê sua vantagem aumentar justamente nas faixas de eleitores com menor renda. Não por acaso seu discurso tem sido o de atacar as desigualdades no País e apelar à lembrança de programas sociais criados nas gestões do PT, como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida.
Decisivas em 2018, as questões relacionadas à violência também perderam espaço na escala de prioridades não por queda nos principais indicadores. Em 2020, mesmo com a pandemia, o total de mortes violentas cresceu 4%, após dois anos de quedas.
“A preocupação com a segurança é menor não porque as coisas estejam melhores nesse campo, mas porque a situação da saúde, da pandemia, da crise econômica, está muito mais pesada. A violência e a segurança impactam a crise econômica e o aumento das desigualdades tendem a ter impacto na violência. Mas isso sai da agenda porque a questão da perda de renda é premente”, explicou Carolina Ricardo, diretora-executiva do Instituto Sou da Paz.
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