Filiação de Moro provoca entra-e-sai no Podemos

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Foto: Cleia Viana/Câmara dos Deputados

A filiação do ex-juiz Sergio Moro para ser candidato à Presidência começa a provocar mudanças no Podemos, com a saída e chegada de deputados federais e construção de candidaturas aos governos estaduais que podem servir de palanque para ele. A maioria das mudanças, porém, deve esperar a “janela” de março, quando os parlamentares poderão trocar de partido sem perderem o mandato por infidelidade.

Ao menos dois deputados devem deixar a legenda para apoiar a candidatura do presidente Jair Bolsonaro, que segue sem partido: José Medeiros (MT) e Diego Garcia (PR). “Sou base de apoio do presidente há quase quatro anos na Câmara, defendi as pautas. Não posso nos 45 do segundo tempo mudar de lado”, disse Garcia, que ainda estuda para qual legenda vai.

O Valor não conseguiu falar com Medeiros, mas colegas da bancada disseram que ele já avisou que mudará de sigla porque não apoiará Moro, mas Bolsonaro, e pretende inclusive concorrer ao Senado com o apoio dele.

Outras saídas podem ocorrer entre os deputados do Podemos no Nordeste, mais alinhados ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), mas eles ainda avaliam se Moro deslanchará como candidato antes de decidirem. Um deles relatou ao Valor que acredita que o ex-juiz só terá chance se tiver o apoio do União Brasil, partido que nascerá da fusão entre DEM e PSL, o que daria a ele um tempo expressivo de propaganda na TV e estrutura. Nesse caso, ficaria mais difícil negociar com a cúpula a liberação para se aliar a outros presidenciáveis.

Por outro lado, pelo menos dois deputados federais já estão com a filiação acertada ao Podemos: Rose Modesto (PSDB), que deve concorrer ao governo do Mato Grosso do Sul e Maurício Dziedricki (PTB-RS). Nenhum deles, porém, por causa de Moro.

“Quando decidi pelo Podemos, eu sequer sabia da filiação dele. Há seis meses que estamos conversando”, disse Dziedricki, que busca aval da Justiça para se filiar dia 4 de dezembro, na convenção estadual do Podemos, com a participação do ex-juiz. “Ele é da linha política que temos adotado aqui há bastante tempo, vou apoiá-lo sim”, afirmou.

A presidente nacional do Podemos, deputada Renata Abreu (Podemos-SP), disse que outros seis deputados estão apalavrados para se filiarem em março, mas que não pode revelar os nomes para que não sofram retaliação dos partidos.

Um parlamentar do União Brasil conta que alguns na sigla eleitos na onda do “lava-jatismo” estudam entrar no Podemos para atrelar a imagem a de Moro, na tentativa de viabilizar as próprias reeleições.

O Podemos, por enquanto, teria apenas quatro palanques estaduais para ajudar na candidatura dele: os deputados federais Rose Modesto no Mato Grosso do Sul e Léo Moraes em Rondônia, o ex-prefeito de Araguaia Ronaldo Dimas em Tocantins e senador Reguffe (Podemos) no Distrito Federal. Todos em Estados bolsonaristas. Os três primeiros já estão conversados antes da entrada do presidenciável, enquanto Reguffe ainda decide se disputa a reeleição ou se tenta o governo distrital.

A construção de candidaturas nos Estados com maior eleitorado ainda patina e dependerá de alianças. Em São Paulo, ainda depende do resultado das prévias para saber quem será o candidato do PSDB, mas é possível apoiar o deputado estadual Arthur do Val, do Movimento Brasil Livre (MBL), se o Patriota se aliar a Moro.A sigla começou uma consulta interna para decidir se terá candidato próprio ou se apoia alguém. Outra possibilidade é o deputado federal Vinícius Poit, se o Novo se aliar a Moro.

Em alguns Estados, o partido admite que o palanque terá que ser compartilhado com outros presidenciáveis. No Rio de Janeiro, por exemplo, a sigla pretende focar na disputa do Senado e apoiar a reeleição do governador Cláudio Castro, do PL, partido que está mais próximo de filiar Bolsonaro. “A candidatura dele [Moro] extrapola um pouco as candidaturas de palanque. Tem um voto de opinião muito forte, que não sai de uma base político-partidária”, minimiza Renata.

Em Minas Gerais, há chance de uma aliança com o governador Romeu Zema (Novo). “A gente está conversando de ter um alinhamento de terceira via não só com o Novo, que tem uma ideologia muito próxima da nossa, mas com o Patriota também, com o União Brasil. Ver lá na frente quem está mais viável”, disse Renata. Uma aliança com Novo e Patriota já daria a Moro mais tempo de propaganda na TV e rádio do que o PSDB sozinho.

O deputado Julian Lemos (PB), primeiro-vice-presidente do PSL, disse que esperava que Moro se filiasse ao União Brasil, mas que, como isso não ocorreu, trabalha pelo apoio a ele. “Acho uma candidatura viável e a única capaz de fortalecer a via que foge da polarização”, afirmou. A nova sigla será a com maior tempo de TV e maior fatia do fundo eleitoral.

Valor Econômico

 

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