Por Bolsonaro, PL tenta anular acordo com Doria
Foto: Reprodução/ Valor Econômico
Em reunião com chefes de diretórios regionais do PL, o presidente da legenda, Valdemar Costa Neto, pressionou ontem para que São Paulo desista do acordo com o governador João Doria e o vice, Rodrigo Garcia, ambos do PSDB. O dirigente tenta, com isso, desfazer o principal entrave para o ingresso do presidente Jair Bolsonaro na legenda.
Valdemar escalou dois senadores bolsonaristas para falar com a imprensa enquanto a reunião ainda acontecida na sede do PL, em Brasília. Wellington Fagundes (MT) e Jorginho Mello (SC) afirmaram que o partido deu “carta branca” para Valdemar negociar com Bolsonaro a situação em cada Estado. E que, qualquer que seja a composição regional, os diretórios do PL apoiarão a reeleição do presidente, caso ele se filie à legenda.
“Eu acredito que está ficando muito difícil o Rodrigo Garcia ter o apoio do PL em São Paulo. Para fazer uma coligação, tem as dificuldades. Mas nós vamos receber o presidente da República […], com uma grande possibilidade de ser candidato à reeleição”, afirmou Fagundes.
Questionado, o senador confirmou que Costa Neto manifestou ao presidente da legenda em São Paulo, Tadeu Candelária, considerar inadequado o acordo feito com os tucanos.
O PL faz parte do governo Doria, que tenta se lançar candidato a presidente em chapa com Garcia para governador. Mas Bolsonaro não aceita o apoio da seção paulista do PL ao tucano, e ainda quer impor o ministro Tarcísio Freitas (Infraestrutura) como candidato a governador.
“O presidente Bolsonaro já manifestou interesse de lançar o Tarcísio como candidato a governador em São Paulo. E o PL já colocou aqui que teria essa possibilidade também”, afirmou.
Fagundes disse ainda que fazer alianças com partidos de esquerda nos Estados “não é proibido”, porém opinou que isso “dificilmente acontecerá”.
Jorginho Mello, entretanto, foi mais taxativo a esse respeito: “Não terá coligação com outro partido que não esteja alinhado com o presidente Bolsonaro”.
Um parlamentar presente à reunião disse não acreditar que Bolsonaro recue da filiação ao PL, embora São Paulo continue sendo o maior impasse.
Conforme adiantou o Valor, tudo depende do resultado das prévias do PSDB no domingo, entre Doria e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite.
A avaliação é que se Doria perder as prévias, Garcia fica vulnerável como candidato no PSDB. Valdemar poderia convidá-lo a se filiar ao PL e apoiá-lo ao governo, mas como candidato da legenda.
“Se Garcia recusasse, Valdemar ficaria desobrigado do compromisso porque não vai ‘dar abraço em afogado’”, disse essa fonte. “Se Doria vencer as prévias, será preciso mais conversa com Bolsonaro e o grupo dele para resolver São Paulo, porque Valdemar não estaria disposto a retirar o compromisso com Garcia.”
A avaliação dentro do PL de São Paulo é que a situação de Bolsonaro na corrida presidencial é delicada, e ele pode de fato perder a eleição. Para boa parte dos membros do partido, é mais vantajoso continuar no governo do PSDB, caso Garcia vença.
Em um cenário de derrota de um Bolsonaro filiado ao PL, além disso, ficará mais difícil para o partido fazer acordos no Congresso em uma eventual gestão Lula ou Doria. Outro fator que pesa na resistência ao grupo bolsonaristas é a visão de que parlamentares como Eduardo Bolsonaro e Carla Zambelli são “incontroláveis” e vão querer se apoderar do diretório do PL em São Paulo, como fizeram com o PSL.
Nas demais sessões estaduais, não há nenhum cenário tão sensível quanto São Paulo.
No Amazonas, caberá ao deputado Marcelo Ramos, vice-presidente da Câmara e opositor a Bolsonaro, decidir se fica ou sai da legenda. O presidente do diretório no Amazonas é o ex-ministro Alfredo Nascimento, tido como muito leal a Valdemar.
“Vou aguardar voltar ao Brasil para tratar com o presidente Valdemar, que merece todo meu respeito”, disse Ramos em Barcelona, onde participa de um evento de cidades inteligentes. “Só uma certeza: respeito qualquer decisão do partido, mas não estarei no palanque de Bolsonaro.”
No Piauí, o PL participa do governo do petista Wellignton Dias. E o presidente do diretório estadual, Fábio Xavier, vem dizendo que será um eleitor do ex-presidente Lula.
Após a reunião em Brasília, Xavier disse ao “Meio Norte”, um veículo local, que votará em Lula, mesmo que o candidato do partido seja Bolsonaro.
A maioria dos diretórios do Nordeste não se opõe a Bolsonaro. Na Bahia, onde Lula é hegemônico, o PL já rompeu com o PT em 2020. Está com ACM Neto desde então. O partido já acenou com o apoio à candidatura ao governo de ACM Neto, e tem uma secretaria municipal na gestão de Bruno Reis em Salvador.
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