SP, MG e RJ são o “triângulo das Bermudas” de Bolsonaro

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Foto: ED ALVES/CB/D.A.Press

Com 61,6 milhões de eleitores (42% de todos os brasileiros aptos a votar), os três maiores colégios eleitorais do país são palco de intensas negociações partidárias, de olho na disputa presidencial de 2022. Estão em São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, a pouco menos de um ano do pleito, os principais pré-candidatos e as articulações mais importantes. Os movimentos políticos das últimas semanas sinalizam que, a partir desses estados, deve ser formado um poderoso cinturão contra o avanço do projeto de reeleição do presidente Jair Bolsonaro.

“Minas, Rio e São Paulo, por serem os maiores do ponto de vista populacional e de eleitorado, sempre foram extremamente importantes na definição dos rumos políticos do Brasil”, diz o cientista político e escritor Antônio Lavareda, pioneiro do marketing eleitoral no país (leia Duas perguntas para). Ele cita, por exemplo, o peso desses estados na eclosão do golpe militar de 1964 e também na transição democrática, após a ditadura.

No momento, em São Paulo, o maior colégio eleitoral do país, as articulações estão a todo vapor e apontam para possíveis composições políticas até pouco tempo inimagináveis. O ex-governador Geraldo Alckmin, prestes a deixar o PSDB, aproxima-se do PSB e vem sendo cotado como possível vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), que lidera as pesquisas de intenção de voto. O tucano também é objeto do desejo do presidente do PSD, o ex-ministro Gilberto Kassab.

No PSDB, o governador paulista, João Doria, é um dos candidatos à indicação do partido para concorrer ao Planalto no ano que vem. Nas prévias tucanas do próximo domingo, ele vai disputar essa credencial com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, e com o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio Neto.

Em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral brasileiro, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD), começa a sedimentar sua pré-candidatura ao Planalto, ao lado de outros atores políticos mineiros do mesmo partido, como o senador Antonio Anastasia e o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil. Este último, por sua vez, também vem sendo cotado como provável vice na chapa de Lula, enquanto o ex-presidente tem ainda uma outra opção no estado para compor sua chapa: o empresário Josué Gomes da Silva, atual presidente da Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp). Ele é filho de José Alencar, que foi vice do petista no Planalto.

No Rio de Janeiro, o terceiro maior colégio eleitoral, a costura é para que o prefeito Eduardo Paes (PSD) seja responsável pela montagem de um palanque para Lula na campanha presidencial. Também no estado, o ex-presidente da Câmara Rodrigo Maia, que está sem partido desde que foi expulso do DEM, deve engrossar as fileiras do PSD e ter papel importante tanto na sucessão estadual quanto na nacional.

O cientista político André Pereira César, da Hold Assessoria Legislativa, chama atenção para o fato de o PSD de Kassab estar por trás das articulações nos três maiores colégios eleitorais do país. “Kassab é o principal responsável por toda essa engenharia que está ligando esses três estados importantes. Ele está trabalhando intensamente nesse processo, nesse entendimento”, afirma o analista.

De acordo com ele, nessa costura política, é possível até que Pacheco venha a ser vice na chapa de Lula. “Kassab faz Anastasia candidato ao governo de Minas Gerais, bota Alckmin na disputa pelo governo de São Paulo e, no Rio, um candidato próximo do Eduardo Paes e do Rodrigo Maia. Pode ser o Rodrigo Maia, pode ser o Eduardo Paes ou pode ser outro nome. A questão é: você fecha um pacote muito importante, muito forte para as eleições”, avalia. “E mais: é Lula presidente e Pacheco, vice, a chapa é essa.” Para o especialista, essa eventual composição se fortaleceria ainda mais com o tradicional apoio da Região Nordeste ao líder esquerdista.

Antônio Augusto de Queiroz, analista político e diretor de documentação do Departamento Intersindical de Assessoria Parlamentar (Diap), também destaca o papel de Kassab na construção de um cinturão eleitoral ligando São Paulo, Minas e Rio de Janeiro. “São os estados que vão, em certa medida, ter candidaturas competitivas que impedem alianças significativas com Bolsonaro. E esses três estados têm um grande cabo eleitoral, que é Kassab. Ele tem filiado ao partido dele as principais lideranças capazes de transferir um volume significativo de votos. Então, Kassab é decisivo”, afirma Queiroz.

Ele ressalta, também, que nesses três estados, Minas Gerais é onde Lula tem menos força eleitoral no momento, mas que isso pode mudar caso Geraldo Alckmin venha a ser o vice do petista. “Se Lula trouxer o filho do José Alencar para ser vice ou Alckmin como vice, aí ele ganha uma entrada boa. Se pegar Alckmin, ele reforça em São Paulo. E, em Minas, (o deputado federal) Aécio Neves, embora no PSDB, iria despejar votos no Alckmin, com verdadeiro ódio ao Doria, se Doria for o escolhido nas prévias do PSDB”, destaca o diretor do Diap, ao citar desavenças antigas entre os dois tucanos.

Qual o papel de São Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro nas articulações para a sucessão presidencial?
Esses estados sempre foram, na história, nos momentos mais importantes, os que se mostraram decisivos para a orientação dos rumos do país. A gente deve lembrar, nessa direção, que quando, politicamente, o Rio era substituído pela Guanabara, o fato de que você elegeu, em 1962, três governadores à direita, que foram Magalhães Pinto, Adhemar de Barros e, na Guanabara, Carlos Lacerda, isso foi fundamental para dar condições à eclosão e ao sucesso do golpe de 1964. Esses estados sempre foram muito importantes. Na redemocratização, quando nós tivemos as primeiras eleições diretas para governadores, você teve, em São Paulo, o governo de Franco Montoro, o governador do Rio de Janeiro ainda era o Chagas Freitas, que era do MDB, e Tancredo Neves também. Isso foi fundamental para viabilizar, três anos depois, a transição democrática. Então, esses estados são protagônicos na política brasileira.

Já é possível prever a composição das principais chapas que vão concorrer ao Planalto em 2022?
A discussão ainda não está posta, na verdade. Está mais no terreno da especulação, e as especulações são normais, é muito exercício imaginativo, de imaginação política. Nada pode ser descartado, mas nada pode ser tratado como algo concreto. Meu raciocínio é que todo esse esforço de articulação, de coordenação e de movimentos no xadrez da sucessão nos estados, ele naturalmente se articula, ele naturalmente se dá em virtude da necessidade dos chamados caminhos alternativos, ou terceira via, como você queira chamar, enfrentarem e tentarem romper a bipolarização que, até o momento, tem predominado na disputa presidencial, em que só dois candidatos tendo atingido os dois dígitos nas pesquisas. Esse patamar, dos dois dígitos, é o que tecnicamente merece a denominação de candidatos competitivos.

Correio Braziliense  

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