Geraldo Alckmin deixa PSDB após 33 anos
Foto: Patricia Stavis/Folhapress
Fundador do PSDB e tucano há mais de 30 anos, o ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin concretizou, nesta quarta-feira (15), sua saída do PSDB —movimento ensaiado há meses. Aliados apostam, porém, que a decisão sobre a nova filiação deve ocorrer apenas no ano que vem.
A mudança do ex-governador tem relação com seus planos eleitorais para 2022, que não poderiam ser viabilizados no PSDB. Alckmin avalia duas opções.
Uma é a filiação ao PSD, de Gilberto Kassab, para concorrer ao Governo de São Paulo e tentar novamente sentar na cadeira que já ocupou por mais de 12 anos.
Outra é integrar a chapa do ex-presidente Lula (PT) como candidato a vice-presidente —nesse caso a filiação mais provável seria ao PSB. A aproximação com o petista, confirmada por ambos, tem torcedores e detratores no mundo político.
Em encontro com dirigentes de centrais sindicais, no dia 29 de novembro, Alckmin obteve apoio para a dobradinha e disse que a hipótese caminhava.
Alckmin lidera as pesquisas para o Governo de São Paulo, algo que rivais minimizam atribuindo a recall. Mas, se migrasse sua candidatura para o plano nacional, abriria espaço, no estado, para Márcio França (PSB) e Fernando Haddad (PT), que tentariam buscar alguma composição.
Depois de sofrer, em 2018, a pior derrota do PSDB em eleições presidenciais, terminando com 4,76%, Alckmin pretendia retomar o Palácio dos Bandeirantes em 2022. Viu seus planos frustrados em maio, quando o atual governador, João Doria (PSDB), filiou seu vice, Rodrigo Garcia, ao PSDB, para ser o candidato tucano a sua sucessão.
Desde então, Alckmin abriu conversas com diversas siglas e, em paralelo, tornou-se opção de vice para Lula.
Agora rival de Doria, de quem foi padrinho político, Alckmin decidiu só se desfiliar do PSDB após as prévias presidenciais tucanas para dar seu voto a Eduardo Leite (RS), a quem ajudou na campanha, articulando apoios em São Paulo.
Parte dos tucanos trabalhou para manter Alckmin no partido —inclusive Doria afirmou que preferia sua permanência. Para isso, porém, o ex-governador teria que concorrer ao Senado ou à Câmara, algo que descartou.
Nesta quarta, em rede social, Alckmin disse que é hora “de traçar um novo caminho” após 33 anos no partido. “Um soldado sempre pronto para combater o bom combate com entusiasmo e lealdade. Agora, chegou a hora da despedida.”
Segundo a sigla, o ex-governador, “de forma cordial, fez uma ligação ao presidente nacional do PSDB, Bruno Araújo, confirmando sua desfiliação.”
É um novo tempo! É tempo de mudança!
Nesses mais de 33 anos e meio de trajetória no PSDB procurei dar o melhor de mim. Um soldado sempre pronto para combater o bom combate com entusiasmo e lealdade. Agora, chegou a hora da despedida. Hora de traçar um novo caminho.
— Geraldo Alckmin (@geraldoalckmin) December 15, 2021
Alckmin, que costuma lembrar ter sido a sétima assinatura na fundação do PSDB, confirmou em agosto que estava de saída do tucanato, diante da escolha de Doria por Garcia.
A ironia é ter sido Alckmin o responsável por colocar Doria na vida pública. Embora a relação entre padrinho e afilhado já estivesse deteriorada há mais tempo, a saída do PSDB consolida a rivalidade entre eles. Doria, que já é visto com muitas ressalvas entre tucanos, terá que arcar com mais um desgaste interno.
A filiação de Garcia agravou a oposição entre simpatizantes de Doria e Alckmin no partido e ocasionou o rompimento do presidente do DEM, ACM Neto, com o governador de São Paulo, que tenta conquistar aliados para sua candidatura ao Planalto.
Alckmin, que já foi governador por mais de 12 anos em quatro mandatos, lidera a corrida eleitoral com 26% das intenções de voto, segundo o Datafolha.
Em seguida aparecem Haddad (PT), com 17%; França (PSB, com 15%, empatado tecnicamente com o petista) e o líder de movimentos de moradia Guilherme Boulos (PSOL, com 11%).
Em um cenário sem Alckmin, Garcia aparece em quinto lugar, com 5%. A pesquisa foi realizada de 13 a 15 de setembro com 2.034 pessoas em 70 cidades do estado. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
Alckmin tem até abril de 2022 para se filiar a alguma sigla com o objetivo de concorrer na eleição. Aliado de França, que foi seu vice-governador e também é pré-candidato ao Governo de São Paulo, Alckmin pode repetir essa chapa em 2022.
Aliados de Doria afirmam que foram dadas opções a Alckmin —a de concorrer em prévias estaduais contra Garcia ou de disputar uma vaga no Congresso.
O prazo de inscrição nas prévias estaduais se encerrou em 20 de setembro, com apenas Garcia inscrito, o que consolidou o processo de saída de Alckmin do PSDB. A candidatura de Garcia foi homologada em novembro.
Parte dos tucanos aliados de Alckmin chegou a estimular o ex-governador a concorrer nas prévias, mas ele se recusou, argumentando que a disputa seria desleal e que não tinha confiança no processo —já que Doria e Garcia têm usado recursos de programas do estado e filiações para ampliar sua base política.
A decisão de concorrer em 2022 marca o fim de uma espécie de período sabático de Alckmin, que se dedicou à medicina desde a derrota de 2018.
Alckmin faz curso de acupuntura no Hospital das Clínicas e, por isso, atende no ambulatório semanalmente. Ele também dá aulas na Uninove, onde faz doutorado.
Mesmo assim, o ex-governador não parou completamente sua atividade política. Conforme as eleições se aproximam, Alckmin tem intensificado suas visitas ao interior, reuniões com sindicatos e cafezinhos com políticos para afinar uma coligação de apoio.
Alckmin é conhecido pelo estilo interiorano, simples, simpático e contador de histórias —estratégia usada também para se esquivar de embates e posicionamentos contundentes. É, nesse sentido, representante da característica tucana de ficar “em cima do muro”.
Tudo isso contrasta com o hábito dinâmico e marqueteiro do afilhado João Doria. Quando Doria chegou ao Palácio dos Bandeirantes, casa de Alckmin nos anos anteriores, reformou toda a sede do governo, trocando os móveis antigos e clássicos por tons de cinza e preto.
Alckmin bancou, em 2016, a candidatura de Doria à Prefeitura de São Paulo, se opondo a outros tucanos históricos no processo de prévias, como Ricardo Tripoli (PSDB) e Andrea Matarazzo (PSD), que deixou o PSDB contrariado com Doria.
Na época, o ex-senador José Aníbal (PSDB) e o ex-governador Alberto Goldman (PSDB) acusaram Doria de abuso de poder econômico na eleição interna.
Até então, era Alckmin que sustentava o apoio a Doria no partido, apesar da coleção de inimizades internas. Mas, já em 2017, o então prefeito de São Paulo começou a causar dores de cabeça ao seu padrinho, provável candidato tucano ao Planalto em 2018.
Com viagens pelo país, Doria, que se elegera como “gestor e não político”, tentou se cacifar para a disputa da Presidência da República no ano seguinte, brigando por espaço com Alckmin, que acabou levando a indicação.
Doria disputou prévias em 2018, se tornou candidato ao Governo de São Paulo e se elegeu fazendo campanha com o nome de Bolsonaro, algo que Alckmin desaprovou. Após o primeiro turno, em reunião tucana, Alckmin disse a Doria: “traidor eu não sou”, em um episódio que marca o afastamento entre eles.
Alckmin iniciou a vida política com a eleição para vereador e, posteriormente, prefeito de Pindamonhangaba, sua cidade natal, nos anos 1970. Em seguida foi eleito deputado estadual e federal pelo MDB, até ajudar na criação do PSDB em 1988.
Em 1994 e 1998, Alckmin foi eleito e reeleito vice-governador de São Paulo na chapa de Mário Covas (PSDB), que morreu em 2001, deixando a cadeira para seu substituto.
Em 2006, Alckmin concorreu à Presidência da República, mas foi derrotado —assim como quando tentou se eleger prefeito de São Paulo, em 2000 e 2008.
Ele voltou ao Palácio dos Bandeirantes em 2011, eleito em primeiro turno no ano anterior. O mandato ficou marcado pela série protestos, em 2013, contra o aumento da tarifa de metrô e ônibus, que acabou revogada pelo tucano e pelo então prefeito de São Paulo, Haddad.
Alckmin foi reeleito, também em primeiro turno, em 2014, apesar da crise hídrica no estado, que se tornou o principal tema da campanha. Na época, o governador segurou o aumento da tarifa para os “gastões” no ano eleitoral de 2014 e somente autorizou a medida após conquistar a reeleição. Antes do pleito, congelou o aumento anual da tarifa de água.
Em um debate na TV, afirmou que não faltava água em São Paulo, quando os relatos de torneiras secas eram crescentes e bairros da periferia já sofriam com um forte racionamento de água sempre negado no discurso oficial.
Na eleição presidencial de 2018, Alckmin passou a usar a superação da crise hídrica paulista como uma plataforma política nacional. No auge da seca, porém, a gestão de Alckmin foi alvo de fortes críticas. ANA (Agência Nacional de Águas, órgão federal) e TCE (Tribunal de Contas do Estado) apontaram falta de planejamento mesmo diante dos indícios de que uma forte seca atingiria São Paulo.
Em abril de 2018, Alckmin deixou o Governo de São Paulo com índice de aprovação de 36%, segundo pesquisa do Datafolha realizada após sua renúncia para disputar a Presidência. França assumiu a gestão e concorreu ao cargo de governador, mas foi derrotado por Doria.
Entre os eleitores paulistas, 40% classificaram sua gestão como regular e 22%, como ruim ou péssima.
De forma geral, os governos tucanos em São Paulo são lembrados pelos atrasos e casos de corrupção em obras do metrô e do Rodoanel, cujas suspeitas atingem também a gestão Alckmin. O PSDB comanda o governo de São Paulo desde 1995 —à exceção de breves períodos em que vices de outras legendas assumiram .
Em 2020, a Justiça Eleitoral de São Paulo tornou Alckmin réu sob a acusação de corrupção e lavagem de dinheiro, além de receber caixa dois da Odebrecht.
A acusação se refere a pagamentos para as campanhas eleitorais de 2010 e 2014. Segundo o Ministério Público de São Paulo, o ex-governador recebeu R$ 2 milhões em espécie da Odebrecht na campanha de 2010 e R$ 9,3 milhões quando disputou a reeleição.
A defesa de Alckmin afirma que ele “nunca recebeu valores a título de contribuição de campanha eleitoral que não tenham sido devidamente declarados nos termos da legislação vigente, nem tampouco praticou qualquer ato de corrupção, como, aliás, nunca fez durante mais de 40 anos de vida pública”.
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