Nanico que empara com Doria é fenômeno da internet

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Foto: Gabriela Biló/Estadão

Eleito para o primeiro mandato em 2018 como o terceiro deputado federal mais votado em Minas, André Janones (Avante) apareceu pela primeira vez em uma pesquisa eleitoral do Ipec (substituto do Ibope) nesta semana com 2% das intenções de votos para a Presidência, o mesmo patamar do governador de São Paulo, João Doria (PSDB). O pré-candidato do Avante se tornou um fenômeno nas redes sociais com lives sobre auxílio emergencial e acumula números comparados aos de celebridades. Só no Facebook (seu canal preferido) são 8 milhões de seguidores, mais que os 4,7 milhões do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o líder na corrida eleitoral.

No ano passado, uma transmissão ao vivo de Janones foi o vídeo mais comentado do mundo ocidental. Ele compara sua estratégia de campanha à de Jair Bolsonaro (PL), em 2018. “A gente é a zebra da história”, disse o parlamentar.

Ex-cobrador de ônibus, o deputado foi filiado ao PT por nove anos e será mais um na campanha a atacar Bolsonaro, a quem chama de “genocida”, mas também não poupa críticas a Lula. “Ninguém que vota no Lula acha que ele é honesto, vota ciente do que aconteceu. Ele não tem orgulho do voto, sabe que está votando em um corrupto”, disse Janones, que adota a mesma lógica para o atual presidente. “A grande maioria dos eleitores do Bolsonaro não está orgulhosa de votar nele. Sabe que é um louco, um genocida, um negacionista, sabe as falhas que ele teve durante a pandemia, a gestão da crise da pandemia.”

Qual a sua principal proposta de campanha?

A propositura da nossa eleição é algo que nasceu agora. Não tenho nenhum problema em admitir, não tinha propostas. A minha principal força é nas redes sociais. A primeira vez que eu mencionei a possibilidade de uma pré-candidatura foi no dia 20 de janeiro. Mas de lá para cá eu falei pouco sobre isso. Partiu primeiro das pessoas que acompanham meu trabalho nas redes. Quem acessa, fala direto, 40 milhões de usuários únicos por mês, esse é o número de engajamento que eu tenho nas minhas redes. Então a gente partiu dessas pessoas primeiro, depois o partido encampou, mas está tomando corpo realmente agora. Ao contrário de Ciro, Lula, Bolsonaro, que estão há quatro anos em cima do palanque fazendo campanha, eu continuo no meu trabalho aqui, dentro das minhas limitações, como deputado federal, exercendo o meu trabalho da melhor maneira possível porque tenho essa responsabilidade e não vou me furtar dessa responsabilidade para fazer campanha eleitoral agora.

O senhor se considera como terceira via?

Eu não enxergo terceira via em nenhuma das candidaturas que estão sendo colocadas. A gente pode trocar a “via” por “caminho”. Teria que ter um primeiro caminho, um segundo caminho, um terceiro caminho. O que eu vejo daquelas ditas terceiras vias são mais do mesmo. São projetos muito semelhantes com as ditas primeiras e segundas vias. Quando a gente fala em terceira via, a gente fala em algo de fato diferente do ponto de vista estrutural, programático, na questão de incluir toda a população brasileira no debate político. Não vejo isso. Não vejo uma terceira opção real. Acho que por isso uma “terceira via” não decolou até agora porque não é uma terceira via. As pessoas estão esperando uma opção de fato diferente. Eu não reconheço essa dita terceira via em um dos nomes que estão colocados aí.

O que o diferencia dos outros nomes que disputam o mesmo eleitorado que não é Lula nem Bolsonaro?

Hoje eu consigo dialogar com um público que está deixado de fora, está excluído do debate político, que é a base da pirâmide, a camada mais pobre da população. Pobre não só no sentido financeiro, mas no sentido de informação. Quando o Congresso Nacional, presidente da República, uma parte da imprensa, formadores de opinião, enquanto as pessoas estão debatendo linguagem neutra, escola sem partido, as pessoas lá na base estão preocupadas com o preço do arroz, do feijão, da gasolina, problemas reais que afetam o dia a dia delas. É nesse sentido que eu estou querendo dizer que não enxergo terceira via nas candidaturas, é mais do mesmo, discussão ideológica, fortalecimento da polarização. Esses debates não incluem o que eu chamo de povo, aqueles 70% da população brasileira que estão mais preocupados com os problemas reais, que os afetam no dia a dia. A minha candidatura se justifica uma vez que eu dialogo com essas pessoas. A prova disso é que a rede social que eu sou mais forte hoje é aquela que na visão de muitos está morrendo, que é o Facebook, mas não está morrendo, é onde a base da pirâmide se comunica.

Qual é o principal problema hoje do País?

São vários, mas a fonte de todos eles é a desigualdade social. De onde tudo vai partir, a polarização, nós contra eles, o discurso do ódio, onde você tem que escolher entre fazer pelos mais pobres ou pelo empresariado. Como se a economia não fosse uma roda, onde você colocando dinheiro na mão dos mais pobres vai chegar no mais rico também. Pobre não coloca dinheiro debaixo do colchão ou na poupança. Pobre gasta, não investe. Eu militei muito, durante um ano e meio, quando o assunto auxílio emergencial tomou conta das pautas econômicas do nosso País. Se você pegar os dados, vai ver que todos melhoraram, todos aumentaram a arrecadação enquanto o auxílio era pago. Só em aumento de tributos e arrecadação tributária relacionada ao auxílio foi um aumento de 115%. Boa parte desses recursos volta para os cofres do Estado.

O senhor é um fenômeno nas redes sociais, chegou a ter o vídeo mais comentado do mundo no Facebook em um dia. Tem alguma estrutura que o auxilia a ter esse alcance?

Eu pego meu celular e começo a falar com a população, só. As pessoas que me seguem têm feito isso sem estrutura, sem equipe, totalmente verdadeiro. Eu já tive inclusive ofertas do meu partido para me dar suporte, já propuseram contratar empresa, assessoria, mas acho que o sucesso da minha comunicação nas redes sociais é justamente essa naturalidade, essa coisa verdadeira. As pessoas que estão ali se identificam, vê que você é de verdade e por isso que está dando tão certo. Não pretendo profissionalizar a minha comunicação.

Como pretende furar a concorrência dos outros nomes na disputa?

Eu só tenho alguma chance por não ter estrutura. Se eu tivesse estrutura estaria fora do jogo, porque o povo já percebeu que essas estruturas saem do bolso delas, que essa estrutura é para enganá-los. Por isso que Bolsonaro ganhou em 2018, porque não usou essa estrutura, usou essa mixaria, fez uma live comendo pão com manteiga e pão com café. O (candidato do MDB) Henrique Meirelles tinha milhões e milhões para gastar, tinha o presidente da República apoiando e perdeu feio. É o que vai acontecer no ano de 2022. Se eu tivesse essa estrutura seguramente eu não ganharia. Sou totalmente ciente que a gente é a zebra da história, mas eu não estaria nem no jogo se a gente tivesse estrutura. Por isso eu tenho evitado todas as propostas para profissionalizar minha comunicação. Sou eu com meu celular e é assim que nós vamos. Bolsonaro se perdeu aí, deixou a comunicação verdadeira dele. Independente de todas as críticas, uma coisa é inegável, ele se comunicava de uma maneira muito espontânea e foi cedendo, cedendo, cedendo, se profissionalizando. E é aí que a pessoa se perde.

Em 2018, sua eleição foi atribuída à militância em favor dos caminhoneiros. Como se tornou um porta-voz da categoria sem nunca ter dirigido um caminhão?

Do ponto de vista local, ali no Triângulo Mineiro, eu já era uma pessoa pública. Eu militei politicamente na minha vida, fui da União Nacional dos Estudantes (UNE), participei de greve estudantil, de movimentos, participei da retomada do terreno lá na praia do Flamengo na bienal da UNE de 2007. Tenho história na militância política, fui filiado ao PT de 2003 a 2012 e participei da juventude petista. Eu me formei advogado em 2008 e durante dez anos fiz um trabalho de advocacia gratuita para famílias carentes que aguardavam na fila da SUS. Cirurgias, medicamentos, exames, a pessoa não conseguia, me procurava, eu entrava na Justiça, ganhava a liminar e depois usava minha rede social para cobrar o prefeito ou o governo do Estado para cumprir aquela liminar. A gente começou a ganhar, ganhar, ganhar e isso foi me dando uma relevância local. Tinha 55 mil seguidores no Facebook. No total (das redes sociais) eu tinha uns 100 mil seguidores até 2018, era uma referência local. Veio a greve de 2018, a imprensa local não estava cobrindo os caminhoneiros da minha região. O pessoal me liga: “Janones, a gente está parado na rodovia desde ontem, a imprensa não está divulgando, não tem como vir aqui fazer vídeo?”. Eu fui e fiz o vídeo, explodiu para o Brasil todo, mais de um milhão de compartilhamentos, mais de 20 milhões de visualizações. 48 horas depois de eu fazer esse vídeo, com a repercussão, a liderança da greve dos caminhoneiros me liga. “A gente reunido aqui e indo para Brasília depois de amanhã. A greve não tem um líder definido, uma liderança centralizada, essa greve está partindo principalmente dos caminhoneiros autônomos então a gente não tem uma liderança centralizada. A gente viu seu vídeo, gostou, você é advogado, se comunica bem, a gente queria te fazer um convite. Seus vídeos estouraram no Brasil todo, está a cara da greve, a gente queria te convidar para liderar a greve”. Eu aceitei de imediato, encontrei com eles em Uberlândia, de lá a gente foi para Brasília e tudo começou a acontecer. 48 horas depois, de 100 mil seguidores, eu tinha 500 mil. Foi crescendo e todo o Brasil começou a conhecer o meu trabalho.

Sem a greve dos caminhoneiros eu seria deputado? Muito dificilmente, acredito que eu teria uns 25 mil, 30 mil, mas dificilmente seria eleito. Mas só com a greve dos caminhoneiros eu seria deputado? Indiscutivelmente não, tanto que a outra liderança da greve que se candidatou pelo Estado de Goiás (Wallace Landim, conhecido como “Chorão”) teve 14 mil votos, eu tive 180 mil. A greve trouxe visibilidade para o meu nome, as pessoas entravam nas minhas redes, mas olhavam o histórico: “olha, esse cara faz fiscalização de prédio público”. Tinha vídeo meu invadindo prefeitura para fiscalizar, denunciando caso de corrupção, que é o trabalho que eu faço até hoje, de fiscal do povo, onde eu coloco colete e vou receber denúncia de corrupção, de má prestação de serviço público e vou in loco para a cidade investigar, denunciar até resolver aquele problema. As pessoas viram tudo isso, tudo foi acontecendo e consegui ser o terceiro deputado mais votado do Estado.

E avalia que vai conseguir superar os 2% da pesquisa, que é mesmo patamar do governador de São Paulo, que tem grande exposição e a estrutura do cargo?

Não tenho pretensão de sair desse bolo agora porque não tem eleição agora. Não queria ter 50% dos votos agora porque não resolve nada, não temos eleição agora, só em outubro. A gente tem um ‘case’ de Minas Gerais, que para mim reflete o que vai acontecer nas próximas eleições. Em 2018 tinha os (ex-governadores Fernando) Pimentel e (Antonio) Anastasia na frente, e o (atual governador, Romeu) Zema, a 15 dias da eleição, com 6% das intenções votos. No fim o Zema ganhou no segundo turno com 71,8% dos votos. A percepção que eu tenho que eu tenho é que brasileiro tem vergonha do seu voto. Ninguém que vota no Lula acha que ele é honesto, vota ciente do que aconteceu, mas fala: “Temos que tirar esse louco (Bolsonaro) da Presidência”. Ele não tem orgulho do voto, sabe que está votando em um corrupto. E o contrário também acontece, o eleitor do Bolsonaro, exceto os fanáticos, mas a grande maioria dos eleitores do Bolsonaro não está orgulhoso de votar nele. Sabe que é um louco, um genocida, um negacionista, sabe as falhas que ele teve durante a pandemia, a gestão da crise da pandemia. Só que o cara fala: “não podemos voltar para o PT, não podemos deixar se instalar de novo o sistema de corrupção no Palácio do Planalto, então, fazer o que? Vou votar no Bolsonaro”. Na hora que as pessoas perceberem que existe uma terceira via viável, uma opção real, eu acredito que essa terceira via estará no segundo turno.

As pesquisas mostram hoje um possível segundo turno entre Lula ou Bolsonaro. Em quem votaria?

Em um eventual segundo turno entre Lula e Bolsonaro não apoiaria nenhum dos dois. Não apoiei em 2018. Teria um posicionamento independente como fiz quando venci as eleições para deputado, não apoiei ninguém no primeiro turno, não apoiei ninuém no segundo turno. Não sou obrigado a apoiar projetos que não acredito. Eu não acredito em nenhum dos dois.

Chegou a falar com outros pré-candidatos?

Recebi uma ligação do presidenciável, o ex-juiz Sérgio Moro. Me convidou para um jantar, mas eu estava em uma outra agenda, em viagem, não tinha possibilidade de encontrar naquele dia, mas ele já nos procurou para a gente poder conversar, dialogar.

Ele pediu apoio?

Só convidou para um jantar para a gente conversar. Falou que estava acompanhando a minha pré-candidatura e que acha que a gente precisa dialogar. Concordo com ele. Ele acha que é um momento de união, que a gente precisa fortalecer a democracia, independente de cada um ter o seu projeto, ir atrás de um diálogo é muito bom e essa é a melhor resposta que a gente dá para essa polarização que a gente vive, esse crescimento do discurso ódio que tem tomado conta. A resposta que a gente dá a isso é o diálogo. Acho importante esse diálogo com outros pré-candidatos para que a gente estar podendo construir isso.

Se algum candidato mais bem posicionado te procurar oferecendo uma vaga de vice ou de senador, pode aceitar?

Não existe nenhuma possibilidade de recuo, nem para vice, nem para Senado. Caso eu não viesse candidato a presidente da República, eu viria candidato à reeleição para deputado federal, sempre deixei isso claro dentro do partido. Sei que não existiria uma terceira opção, se a gente optasse por não seguir o caminho da disputa presidencial, eu viria novamente candidato a deputado. Estou fazendo um bom trabalho e se for para continuar no Legislativo, eu continuaria como deputado, não vejo que justificaria uma candidatura ao Senado agora.

Estadão 

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