Pastores ameaçam Congresso caso Mendonça não seja aprovado

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Foto: Dida Sampaio / Estadão

Lideranças de igrejas apostam no fator urna, em 2022, para garantir a aprovação de André Mendonça como novo ministro “terrivelmente evangélico” do Supremo Tribunal Federal (STF). Dizem que os senadores não ousariam desagradar a 31% da população brasileira, estimativa do Datafolha para os evangélicos, sobretudo aqueles 27 que renovam seu mandato no ano que vem. Bispos e pastores desembarcaram em Brasília, mas ainda não arriscaram um placar. O Palácio do Planalto também não.

“A adivinhação para nós é coisa do capeta, mas sei que ele vai vencer”, disse o pastor Silas Malafaia, da Assembleia de Deus Vitória em Cristo. “Qual senador, que é voto majoritário, quer contrariar 30% da população? Estamos antenados, na rede social. Quem vai votar contra?”

A votação no Senado é secreta, o que dificulta a identificação dos “infiéis”. O ex-ministro da Justiça e Segurança Pública e ex-advogado-geral da União precisa ter seu nome aprovado no plenário do Senado por 41 dos 81 senadores. O Placar do Estadão mostra que ele tem 29 apoios declarados, maior número desde que começou sua campanha. Dos dois lados, pró e contra, a previsão é de votação apertada. O cenário otimista dos aliados de Mendonça é de 53 votos favoráveis.

Antes do plenário, ele passa na manhã desta quarta-feira, dia 1º, por uma sabatina na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ).

O presidente Jair Bolsonaro entrou na campanha. Na véspera da sabatina, abriu o Palácio da Alvorada para pastores, parlamentares e ministros. A primeira-dama Michelle Bolsonaro, da Igreja Batista Atitude, participou da recepção noturna. André Mendonça compareceu e discursou pedindo apoio.

Mais cedo, o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), porta-voz do pai na Casa, afirmou que seria “impossível prever” o resultado e argumentou que ele representa apenas um voto. O presidente também se vacinou contra a derrota: o argumento é que a decisão é do Senado. “Espero que seja aprovado. Eu não indico para o Supremo, eu indico para o Senado. Sabemos que existe um embate ideológico, que um colega quer uma pessoa de perfil diferente, sabemos disso”, disse Bolsonaro.

A sessão de questionamentos na CCJ estava travada desde que Mendonça foi indicado em julho. O presidente da comissão, senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), segurou o processo, apesar de ser judeu – segmentos evangélicos se apropriaram da simbologia judaica, por referências bíblicas a Israel. Ele negou se tratar de um embate religioso.

Numa concessão à bancada da bíblia, Alcolumbre indicou como relatora a senadora Eliziane Gama (Cidadania-MA), que apesar de ser oposição, é de família evangélica – o pai e o irmão são pastores no interior do Maranhão.

Bolsonaro fez uma ofensiva final nos últimos dias. Gravou vídeos com Mendonça para as redes sociais, o que os pastores consideraram uma demonstração de empenho. E também chamou o senador Davi Alcolumbre ao Planalto na segunda-feira, dia 29. Após o encontro, o presidente relatou aos pastores que há muito “jogo baixo e mentira”.

Mais longe de algumas benesses do poder, como a distribuição de recursos que fez no orçamento secreto quando era presidente do Senado, Alcolumbre manifestou suas queixas. Segundo ministros palacianos, ele não gosta de Mendonça e acha que o indicado é da linha punitivista, associado à Operação Lava Jato, por isso trabalha pela rejeição.

Um bispo influente em Brasília e que tem canais diretos com Alcolumbre disse que ele “se fechou” e não quis dialogar com o lobby crente. Ele opina que o desempenho na sabatina será crucial para a aprovação. Outro pastor televangelista, que conversou com Bolsonaro, afirmou que o senador “blefa” ao acenar que a indicação será derrubada.

Mendonça tem dito aos senadores, no périplo por gabinetes, que pretende ser garantista. Ele começou a dar esses sinais depois que enfrentou um movimento com as digitais de ex-colegas do primeiro escalão governamental. Eles tentaram convencer Bolsonaro a substituir a indicação. A bancada evangélica gritou.

O ministro havia sido escolhido por Bolsonaro depois de uma bolsa de apostas, com direito até a listas de nomes. Ele recebeu apoio da maioria dos líderes evangélicos de igrejas com trânsito no Palácio do Planalto. É o grupo de pastores pentecostais e neopentecostais, mais estridentes e midiáticos na relação com o governo. Mas também agradou integrantes de igrejas protestantes históricas. Mendonça faz parte da última linha – é reverendo da Igreja Presbiteriana Esperança de Brasília.

Na reta final, Mendonça viu surgir no próprio meio evangélico resistências a seu nome, vindas de entidades classificadas como progressistas. Entre elas, estão: CONIC (Conselho Nacional de Igrejas Cristãs), ABB (Aliança de Batistas do Brasil), Coalizão Evangélica contra Bolsonaro, Evangélicxs pela Diversidade, MNE (Movimento Negro Evangélico) e o NEPT (Núcleo de Evangélicos e Evangélicas do PT).

Elas pediram a rejeição ao Senado, porque consideram que a escolha se deu “por razões de filiação religiosa”, o que representa um desvio dos requisitos constitucionais e viola a separação entre Igreja e Estado. Associações de juízes, policiais e advogados antifascistas, ligados à esquerda, usaram a mesma argumentação.

O pastor Silas Malafaia menosprezou a ofensiva: “São famosos anônimos, otários que não representam 1% dos evangélicos, só para fazer firula, para dizer que são contra”.

Estadão 

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