Pesquisa diz que eleitores de Lula votam com a cabeça
Foto: Rovena Rosa/Agência Brasil
O principal motivo dos eleitores do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para votar no petista está baseado em razões objetivas, relacionadas à economia e a questões sociais. Os eleitores de Jair Bolsonaro (PL) dão justificativas mais vagas e emocionais para o apoio à reeleição do presidente; e o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos) é o dono da pauta da corrupção, hoje em baixa.
Já Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB) têm candidaturas frágeis, sem uma agenda específica; e o voto antipetista passou a ser secundário para a eleição ao Planalto. Essas são as conclusões da pesquisa Genial/Quaest ao perguntar aos eleitores o porquê de sua preferência entre os pré-candidatos a presidente em 2022.
Três anos depois, as principais justificativas para se votar no presidente Jair Bolsonaro, eleito com o forte discurso anti-PT e contra a corrupção, mudaram. De acordo com dados da pesquisa, enviados com exclusividade ao Valor, apenas 9% das razões de voto em Bolsonaro, reveladas pelos entrevistados, são motivadas pelo “combate à corrupção” ou “porque é honesto”.
Outros 7% disseram que votam no ocupante do Planalto porque ele representa “oposição ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT”, um percentual de antipetismo que já foi quase quatro vezes maior, e estava em 25% entre os eleitores de Bolsonaro, na pesquisa de agosto. A principal razão de voto no presidente, com 40% de respostas, é pelo “programa de governo/manter o mesmo rumo”, seguida de “admiração pelo candidato”, com 27%. A “defesa da pauta de costumes” aparece em quinto lugar, com 6% das justificativas.
Para o diretor da Quaest, Felipe Nunes, o perfil dos 25% de eleitores que apoiam Bolsonaro – menos da metade do que ele obteve ao se eleger no segundo turno em 2018 – é bem diferente dos simpatizantes das demais candidaturas.
A razão para se votar em Lula é essencialmente um voto objetivo, retrospectivo, “baseado na imagem de um governo que foi bom no passado”, voltado para questões sociais e econômicas, afirma. Já o voto no ex-juiz Sérgio Moro “é, claramente, pelo combate à corrupção”, diz. “Com Bolsonaro, a justificativa é diferente demais, é vaga, as pessoas não conseguem explicar, não é racional, é emocional”, compara.
“Manter o rumo do governo”, sugere Nunes, pode significar tanto a ideia de as pessoas terem liberdade extrema, como as que resistem à vacina e a medidas de restrição durante a pandemia, quanto representar simpatia pelo “jeito” de Bolsonaro ou o discurso de valorização da família. “Votam porque gostam dele. O combate à corrupção e o antipetismo estão bem pequeno nesse grupo de eleitores do presidente”, diz.
Já Lula é “o dono da pauta” da fome, da miséria, da defesa dos mais pobres, citada como justificativa de voto por 39% dos entrevistados que apoiam o ex-presidente. A “lembrança dos governos anteriores” do PT é motivo para 38% dos eleitores que votam em Lula.
Em seguida, vem “programa de governo/mudanças na economia”, com 18%, “admiração pelo candidato”, com 16%, e apenas 3% dizem que preferem o petista por ser oposição a Bolsonaro. “Lula é um candidato muito pautado por uma agenda. As pessoas sabem o que ele vai fazer se ele for eleito”, diz Nunes.
No caso de Sergio Moro, o diretor da Quaest lembra que o desafio do ex-juiz é deixar de ser um candidato de nicho. “O voto no Moro é baseado na Lava-Jato e no combate à corrupção, o que, como mostramos na pesquisa, não é a principal preocupação das pessoas”, afirma. Apenas 10% dos 2.037 entrevistados pela Quaest citaram a corrupção como o maior problema do país na atualidade.
“É um desafio grande. Se Moro quiser aumentar o eleitorado, tem que começar a dar outras razões para que as pessoas votem nele”, analisa. Entre os eleitores do ex-juiz, 31% justificam a preferência porque o associam ao apoio à Lava-Jato/combate à corrupção, seguido da “admiração pelo candidato”, com 27%; “porque foi juiz/inteligente/estudado” para 14%, e apenas 4% dizem que a motivação é a “oposição ao Lula/PT”. “Um retrato geral é que o antipetismo hoje é secundário como razão de voto”, destaca Nunes.
Quem prefere João Doria (PSDB) aponta como motivo a liderança do governador na vacinação contra a covid-19 e o programa de governo/defesa de reformas econômicas liberais, ambos com 16%. Mas a principal razão de voto no tucano (29% das respostas), assim como no pedetista Ciro Gomes (42%), de acordo com os eleitores desses presidenciáveis, é a “admiração pelo candidato”, o que denota uma fragilidade. “Isso é muito pouco, dado o volume de problemas que o país tem. Doria e Ciro são muito frágeis, porque a única coisa que lhes resta é a imagem, pessoal, não tem uma agenda específica”, diz o pesquisador.
Para Nunes, se a principal preocupação do país fosse corrupção o favorito em 2022 seria Moro; se fossem reformas econômicas liberais, Doria estaria mais bem posicionado. Mas eles encontram dificuldade porque o tema é economia, fome, miséria, a questão social, a inflação. Nunes destaca que Lula é quem está associado a essa agenda.
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