Podemos já se incomoda com fragilidade política de Moro

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Foto: Dida Sampaio/Estadão

Filiado ao Podemos há pouco mais de um mês, o ex-ministro da Justiça Sérgio Moro já experimenta obstáculos na articulação para consolidar uma candidatura à Presidência em 2022. Além do ambiente hostil de parte do mundo político por causa de sua atuação como juiz da Operação Lava Jato, Moro ainda enfrenta resistência de setores do próprio partido. A tarefa de costurar eventuais alianças e apoios foi delegada à presidente da legenda, a deputada federal Renata Abreu (SP).

Chamada de “chefe” por Moro, a parlamentar carrega a procuração do pré-candidato para conversas partidárias que envolvem o varejo político regional. A agenda de Moro ficou concentrada em reuniões com apoiadores, entrevistas à imprensa e eventos para a divulgação de seu livro, cujo acesso chega a custar R$ 90.

Na última semana, Moro esteve nos Estados Unidos para trazer sua mulher, Rosângela, e seus dois filhos de volta ao Brasil definitivamente. Enquanto isso, Renata comandou a reunião considerada até agora a mais importante para uma futura candidatura do ex-juiz. Ela esteve com o presidente do PSL, Luciano Bivar, e o deputado federal Junior Bozzella (PSL-SP). Ambos costuram a fusão entre o PSL e o DEM que resultará no União Brasil. As siglas representam, juntas, a maior bancada do Congresso.

As conversas ocorrem desde outubro. Bozzella é defensor da ideia de que o ex-juiz deveria ter Bivar como vice em 2022. O problema é que até agora o futuro presidente do União Brasil não mergulhou no projeto Moro.

Para Bozzella, ainda há margem para tirar aliados do presidente Jair Bolsonaro. “É um processo, vai levar um período lá na frente para a caneta do Bolsonaro começar a esvaziar. As pessoas também vão mudar as suas posições”, disse.

Moro esteve ao lado de Renata com o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, logo após ele ser derrotado nas prévias do PSDB. Dirigentes do Podemos relataram que Renata deixou as portas abertas do partido para Leite, indicando a possibilidade de ele eventualmente ocupar o posto de vice. Pela lógica das negociações políticas, uma chapa pura tem menos chance de se concretizar, pois afasta possíveis alianças.

Empresária e advogada, Renata herdou do pai e do tio o comando do PTN – então um partido nanico –, que ela transformou no Podemos. Além de Moro, sua cartada maior, a legenda terá na eleição outros nomes que agregam uma imagem “lavajatista” e de centro-direita: Deltan Dallagnol e o general da reserva Carlos Alberto Santos Cruz. A presidente do Podemos tenta agora convencer Rosângela Moro a disputar uma vaga na Câmara, segundo afirmam aliados do ex-juiz. No entanto, a ideia ainda enfrenta resistência do casal.

Regionalmente, Moro continua a ter problemas internos no partido. O assunto foi discutido durante uma reunião no Rio, no último dia 9. Em Roraima, o dirigente da legenda, Pastor Isamar, já recebeu Bolsonaro em sua igreja e deixou o Podemos para se filiar ao PTB.

Outro reduto bolsonarista está no diretório de Mato Grosso, cujo maior representante é o deputado federal José Medeiros, também fechado com o presidente. Dirigentes do partido disseram ter dado um ultimato para que Medeiros anunciasse apoio de maneira clara e pública ao ex-juiz ou deixasse a legenda. O Estadão não localizou Medeiros. Seu gabinete não respondeu aos contatos da reportagem.

Outra preocupação está na relação entre o líder da bancada na Câmara, Igor Timo (MG), e o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), outro pré-candidato à Presidência. Questionado sobre quem é seu favorito, Timo declarou apoio a Moro, ao lado de Pacheco: “A chapa dos sonhos”.

Na Bahia, um dos mais antigos quadros do Podemos, o deputado federal João Carlos Bacelar, declarou abertamente, durante uma visita de Lula, apoio a Jacques Wagner (PT) para governador. Ele, no entanto, já deu declarações públicas de que vai apoiar o candidato de seu partido ao Planalto. Procurado, o deputado não se pronunciou.

Ao avaliar internamente o resultado da mais recente pesquisa Ipec de intenção de voto à Presidência, divulgada na semana passada, dirigentes do Podemos consideram que ainda é cedo e há tempo para Sérgio Moro crescer. “Como a presidente do Podemos, Renata Abreu, tem dito, a meta é ter 15% até março do ano que vem”, afirmou Timo.

A pesquisa Ipec apontou que o ex-juiz tem 6% das intenções de voto, patamar distante dos primeiros colocados Jair Bolsonaro (21%) e Luiz Inácio Lula da Silva (48%). Dirigentes do Podemos afirmam, entretanto, que pesquisas internas dão a Moro 11%. “Já estamos muito próximos do objetivo inicial”, disse Timo. “É bom lembrar que Moro se filiou ao Podemos e entrou para valer no jogo político há pouco mais de 30 dias.”

A equipe de marketing do ex-juiz avalia que a distância do período eleitoral faz das pesquisas uma amostragem diferente do que será o resultado das urnas. A avaliação é de que Moro tem potencial de roubar votos dos eleitores de Bolsonaro.

O cientista político Humberto Dantas afirmou que, na maioria das pesquisas, Moro “não descola, de forma absoluta, como terceira via”. “O primeiro desafio: quem testa rejeição tem visto o ex-juiz com bastante dificuldade.” Segundo Dantas, Moro também precisa se “descolar da pauta anticorrupção”, que não deveria se “sobrepor aos temas mais sociais e econômicos gritantes atuais”.

O cientista político ainda avaliou que o ex-juiz “precisa se encontrar politicamente, abrir espaço no partido, abraçar prefeito, viver a realidade” longe de Brasília: “Precisa encarar a sociedade e imprimir uma marca que o coloque perto das pessoas”.

É fato que Moro tem se esforçado, aproveitando as viagens para divulgar seu livro Contra o Sistema da Corrupção. No Recife, por exemplo, ganhou um chapéu de sertanejo e fez questão de posar para fotos com o adereço.

Estadão 

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