Senadores derrotados em disputa pelo TCU abrem guerra contra o Planalto
Foto: Cristiano Mariz/O Globo
Por Malu Gaspar e Mariana Carneiro
A saída do senador Fernando Bezerra (MDB-PE) da liderança do governo, dizendo-se traído após perder a disputa por uma vaga de ministro do Tribunal de Contas da União (TCU), não foi a única consequência da votação que escolheu Antonio Anastasia (PSD-MG) para o cargo.
Desde a eleição do mineiro, apoiado pelo presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, começou uma artilharia entre aliados de Bezerra, da senadora Kátia Abreu (PP-TO) e do Palácio do Planalto, em torno de quem seria o responsável pela derrota.
Bezerra e Katia, que acreditavam serem eles os candidatos do governo – agora dizem ter certeza de que o Palácio do Planalto fez um acordo às escondidas com Pacheco para colocar Anastasia no posto.
Nos últimos dias, três desses “cabos eleitorais” disseram à equipe da coluna estarem certos de que o acordo foi feito.
Em resposta, interlocutores do governo têm dito que ambos nunca foram candidatos do governo e estão criando teses para justificar a derrota. Segundo esses aliados de Bolsonaro e Ciro Nogueira, tanto Katia como Bezerra tentaram até a última hora usar o nome do governo para derrotar o candidato do presidente do Senado. “Eles subestimaram o poder do Rodrigo Pacheco”, disse um desses aliados.
Consultado pela coluna, o presidente do Senado enviou nota negando qualquer acordo e disse que as condições mencionadas por esse grupo “não têm nexo”.
As condições seriam as seguintes: em troca de aceitar o fatiamento da PEC dos Precatórios, que libera o governo para gastar mais no ano da eleição, Pacheco teria negociado não apenas os votos do governo para Anastasia como também a garantia do Executivo de que o valor das emendas de relator seria aumentado.
Aliados de Anastasia disseram ainda à coluna que o fatiamento da PEC, aprovado na semana passada, foi negociado e coordenado diretamente pelo próprio Bezerra em nome do Planalto, e por isso a tese não faria sentido.
A disputa feroz entre os senadores pela vaga no TCU terminou com ampla vitória de Anastasia, que teve 52 votos de um total de 78 senadores presentes no plenário na noite de terça-feira (14). Pela regra, a cadeira que será ocupada por Anastasia é de preenchimento do Senado Federal.
Antes da votação, tanto Bezerra quanto Katia diziam ter certos entre 30 e 35 votos. Os partidários de Anastasia diziam ter 40 ou 41. Terminada a apuração, Kátia recebeu apenas 19 votos e Bezerra, 7. Para os derrotados, a única forma de Anastasia ter amealhado 52 votos seria o apoio de senadores fiéis ao governo.
Passada a surpresa com o resultado, os dois senadores e seus “cabos eleitorais” saíram em conversas de pé de ouvido com os colegas de Parlamento para tentar entender por que a derrota havia sido tão fragorosa.
Uma das informações que colheram foi a de que, antes da votação, Bolsonaro enviou uma mensagem a vários senadores da base governista dizendo estar “neutro” na disputa.
Na quinta-feira, já estavam convencidos de que foram “feitos de bobos” pelo Palácio do Planalto. E responsabilizavam em particular o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, do mesmo partido de Kátia Abreu.
A senadora ficou especialmente contrariada com o fato de ter levado a família toda do Tocantins para Brasília, apenas para acompanhar sua derrota no plenário. “O governo resolveu o seu problema e deixou os dois bestas no sereno. E o mais grave dessa história toda foi o Ciro Nogueira deixar a Kátia passar vergonha”, disse um desses cabos eleitorais.
Na véspera Ciro foi até a casa de Kátia e ajudou a contar votos favoráveis com aliados da senadora, como Renan Calheiros (MDB-AL). E segundo presentes, a senadora confiava em sua vitória.
Revendo os lances da noite da votação, os senadores ainda justificam suas suspeitas por um fato que consideram atípico: último a votar, o filho do presidente, Flávio Bolsonaro, pareceu ter tirado uma foto de seu voto na urna.
Aliados de Bezerra dizem nos bastidores que a foto foi tirada para provar a Pacheco que o acordo tinha sido cumprido. “Se o governo não tivesse se metido, Bezerra teria mais de 20 votos”, diz esse senador.
Consultado pela coluna, Ciro Nogueira negou que tenha havido um acordo às escondidas, disse que o presidente Bolsonaro o orientou a ficar neutro e usou como argumento o voto para Kátia dado pela sua mãe, a senadora Eliane Nogueira, que é suplente dele.
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