Bolsonaro retalia Weintraub por inconfidências e críticas
Foto: Isac Nóbrega/PR
O presidente Jair Bolsonaro decidiu que não renovará a indicação do ex-ministro da Educação Abraham Weintraub no Banco Mundial, disseram fontes do primeiro escalão do governo ao Valor. No governo e no Congresso, acredita-se ser esse o maior motivador das declarações polêmicas e críticas proferidas por ele ao avanço do Centrão no governo.
Weintraub foi demitido em junho de 2020 e em seguida indicado para um mandato tampão no Conselho da Diretoria Executiva do Banco Mundial. Em outubro daquele ano, foi eleito para ocupar por dois anos a cadeira destinada ao Brasil, com um salário de cerca de US$ 230 mil por ano – R$ 1,280 milhão, na cotação atual.
Na estrutura da instituição, o Brasil faz parte de um grupo chamado EDS 15, composto também por Colômbia, República Dominicana, Equador, Haiti, Panamá, Suriname e Trinidad e Tobago. Weintraub é o atual diretor-executivo do EDS-15.
Sua chegada ao banco foi cercada de polêmicas. Uma associação de funcionários chegou a pedir ao comitê de ética do organismo internacional uma investigação sobre as falas preconceituosas do ministro a respeito da China e também sobre a defesa que ele fazia da prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).
Bolsonaro bancou a nomeação à época, porém o quadro mudou, conforme a chamada “ala ideológica” foi sendo isolada por ele e o Centrão tomava conta de espaços cada vez maiores do governo.
A informação de que Bolsonaro não pretende reconduzir Weintraub, que já vinha circulando no Palácio do Planalto desde a semana passada, ganhou força ontem, após uma “live” no canal de YouTube “Conservatalk”, em que ele proferiu críticas ao Centrão. Também participaram os ex-ministros Ernesto Araújo (Relações Exteriores) e Ricardo Salles (Meio Ambiente).
“Uma das frentes que a gente está sofrendo grandes ataques, os conservadores, é justamente uma turma do Centrão”, disse Weintraub. “Um grande obstáculo que nós conservadores estamos passando, estamos sendo atacados continuamente, e fomos substituídos por essa turma do Centrão.”
Bolsonaro queixou-se da fala em um grupo de WhatsApp que mantém com ministros e outros membros do governo. Em uma mensagem, o presidente afirmou que Weintraub “não está para colaborar, mas para tumultuar”.
Weintraub deu outra declaração polêmica recentemente, quando insinuou que o presidente tinha conhecimento prévio de uma operação da Polícia Federal contra o senador Flávio Bolsonaro (PL-RJ), seu filho.
Aliados de Bolsonaro no Congresso dizem crer que Weintraub está tentando mostrar que “sabe de coisas” e deveria ser “contemplado” de alguma forma, com algum apoio na eleição, pois precisa de foro. A aposta, no entanto, é que o ex-ministro não tem tanta informação quanto quer fazer crer.
Concorrer ao Palácio dos Bandeirantes com o apoio de Bolsonaro era um sonho de Weintraub quando embarcou para os Estados Unidos. Mas o candidato do presidente é o ministro Tarcísio de Freitas (Infraestrutura).
Bolsonaro também está insatisfeito com o comportamento de Araújo, que vem se queixando da perda de influência da ala ideológica. Na “live”, Araújo afirmou que o Centrão “começou a dominar o governo e pautar o governo”, prejudicando a política externa. Disse ainda que conservadores foram “substituídos por essa turma”. Hoje, o Centrão controla os ministérios da Casa Civil, com Ciro Nogueira, da Secretaria de Governo, com Flávia Arruda, da Cidadania, com João Roma, e das Comunicações, com Fábio Faria.
Em caráter reservado, parlamentares da ala ideológica da base governista até concordam com algumas críticas feitas por Weintraub ao Centrão, mas ponderam que o bloco faz parte do grupo que sustenta o presidente e será fundamental para ampliar as chances dele nas urnas em outubro. Para eles, não é o momento de ensaiar uma guerra com as legendas, já que elas ingressaram no governo por convite do próprio Bolsonaro.
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