Moro encontra resistência ao seu nome junto a partidos
Foto: Mathilde Missioneiro/Folhapress
A negociação para que a União Brasil apoie o ex-ministro Sergio Moro (Podemos) na briga pela Presidência da República ainda depende do desempenho do ex-juiz em pesquisas eleitorais e esbarra em candidaturas estaduais da nova sigla.
Os palanques regionais são um empecilho ainda maior para o avanço de conversas para um cenário considerado atualmente remoto: uma possível migração de Moro, que se filiou em novembro ao Podemos, ao novo partido.
O diálogo sobre o assunto vem sendo feito por Luciano Bivar (PE), atual presidente do PSL, principal defensor da ideia.
Mas caciques do novo partido, como ACM Neto (BA), presidente do DEM, querem evitar dar apoio explícito a qualquer candidato para não perder votos e alianças com outras legendas.
Neto diz a aliados contar hoje com o apoio do PDT e do PSDB na Bahia, ambos com pré-candidatos à Presidência: Ciro Gomes e João Doria, respectivamente.
Além disso, o Nordeste é reduto do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), cujos eleitores rejeitam Moro.
Por isso, declarar apoio ao ex-juiz e fazer campanha para ele, avaliam integrantes da União Brasil, poderia minar alianças para a candidatura de Neto, que é considerada competitiva no estado.
O governador de Goiás, Ronaldo Caiado, que buscará a reeleição, também tem falado a aliados em evitar comprometer-se com candidatos específicos.
No estado, a preocupação também é com os eleitores de Jair Bolsonaro (PL), que rechaçam apoiar Moro. O ex-juiz deixou o Ministério da Justiça fazendo uma série de acusações ao presidente.
Dirigentes da União Brasil dizem que qualquer apoio a Moro dependerá principalmente do desempenho dele nas pesquisas e, por isso, só deve ser conversado após o mês de março.
Se o ex-magistrado se mostrar viável, a União Brasil deverá inclusive indicar o vice na chapa, mas não vai obrigar o apoio ao candidato nos estados. Já as chances de Moro se filiar ao novo partido são consideradas remotas.
A avaliação é a de que mesmo que o partido apoie um candidato à Presidência é possível manter a neutralidade nos estados ou abrir palanque para mais de um candidato.
Mas se Moro for filiado à sigla, a coisa muda de figura porque praticamente obrigaria os candidatos nos estados a darem palanque ao ex-magistrado.
A percepção é que filiar Moro ao partido pode limitar as articulações regionais. Eleger governadores competitivos e eleger uma bancada robusta no Congresso é uma prioridade da União Brasil.
Dirigentes dizem ter o objetivo de chegar a cerca de 70 deputados federais, uma meta ousada.
Nesta quarta-feira (19), Moro afirmou, em entrevista à rádio Jovem Pan Maringá, que negocia com três partidos e quer fazer “uma construção conjunta” de projeto para um eventual governo. O ex-juiz citou a União Brasil, o Novo e o Cidadania.
Em outra entrevista, para a Rádio Difusora de Nortelândia-MT, ele minimizou a possibilidade de migrar de partido. “Não tem nada concreto. Estou no Podemos”, afirmou Moro.
A presidente do Podemos, Renata Abreu, também diz que as chances são pequenas. “Alguns parlamentares do União pediram para avaliarmos esta possibilidade, mas não temos de fato nada concreto”, disse à Folha.
Nos bastidores, em conversas com dirigentes da União Brasil, Renata admite ceder e negociar a filiação de Moro à sigla ao dizer que não quer ser a responsável inviabilizar um projeto de terceira via.
A presidente do Podemos reconhece que a candidatura de Moro precisa de musculatura para tornar-se competitiva e por isso precisa do apoio do partido que virá a ser formado a partir do DEM e do PSL porque ele terá tempo de televisão e um fundo eleitoral robusto.
Entusiasta da candidatura do ex-ministro da Justiça, o deputado federal Júnior Bozella (PSL-SP) diz que os partidos terão de ter desprendimento, se necessário, para tornar viável o nome do ex-magistrado.
“A minha tese é: unir a terceira via. Ter um bom candidato, que é o Moro, que performa bem”, afirmou.
A ideia de filiar Moro à União Brasil partiu do presidente do PSL, Luciano Bivar. A avaliação no partido é que o deputado tenta construir alternativa ao seu futuro político porque existe a percepção de que ele não terá condições de se reeleger deputado em Pernambuco.
Por isso, avaliam pessoas próximas, ele busca protagonismo ao tentar ter um candidato à Presidência no partido que irá presidir.
Mesmo que Bivar leve adiante o projeto de filiar Moro, integrantes da União Brasil dizem que podem barrar a iniciativa em instâncias do partido. Para que qualquer decisão partidárias seja tomada, é necessário aprovar no diretório nacional, composto hoje por 51 representantes do PSL ligados a Bivar e 49, do DEM.
Para haver deliberação, é preciso ter 60% dos votos, dizem dirigentes da União.
O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta, que já foi considerado pré-candidato ao Planalto, não é mais tratado como tal por não ir bem nas pesquisas.
O governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), era visto por caciques da União Brasil como o candidato de centro ideal para o Planalto, mas a ideia de filiá-lo ao partido ainda não vingou.
Em outras frentes, as candidaturas de João Doria (PSDB) e Rodrigo Pacheco (PSD-MG) são tidas como frágeis.
O nome alternativo a Lula e Bolsonaro visto como mais competitivo por líderes da sigla hoje é o de Moro, mas que ainda enfrenta uma série de entraves para que seja concretizada uma aliança.
Se isso ocorrer, há ao menos três nomes na União Brasil citados como possibilidade de candidatos a vice-presidente: o do próprio Luciano Bivar, o de Mandetta, e o do ex-ministro da Educação Mendonça Filho.
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