Presidente do PT de SP já aceita possibilidade de Alckmin vice
Foto: Iara Morselli
A preocupação de Geraldo Alckmin com o plano da cúpula do PT de revogar a reforma trabalhista, caso o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva seja eleito para o Palácio do Planalto, serviu para expor a contrariedade de setores do partido com a possível aliança com o ex-governador. Para o presidente do PT de São Paulo, Luiz Marinho, o ex-tucano precisa se mostrar “engolível”, se quiser ser vice de Lula.
“O Alckmin vai ter de passar a falar diferente. Ele tem de saber que estará defendendo um projeto que tem CPF, tem lado, tem CNPJ. Ele tem de se tornar engolível. É disso que se trata”, resumiu Marinho, um dos principais colaboradores de Lula.
Ex-ministro do Trabalho, ex-prefeito de São Bernardo do Campo e hoje candidato a deputado federal, Marinho afirmou que já foi mais crítico às negociações para uma dobradinha entre Lula e Alckmin. Disse ter percebido, porém, que, “se não houver outro caminho” para derrotar o presidente Jair Bolsonaro, terá de engolir o ex-governador.
“Infelizmente, não tem mais um Zé Alencar disponível na praça”, constatou ele, numa referência ao empresário que foi vice de Lula nos dois mandatos, de 2003 a 2010. Filiado ao PL, Alencar – morto em 2011 – só entrou na chapa, naquela ocasião, para acalmar o mercado.
“Eu, pessoalmente, tenho ojeriza ao perfil do Alckmin. Não como pessoa, porque ele é agradável no trato, mas é muito conservador no pensamento. Agora, tenho de reconhecer que ele pode sinalizar para um resultado interessante, desequilibrando o jogo em São Paulo a nosso favor”, justificou Marinho, numa referência à candidatura de Fernando Haddad ao Palácio dos Bandeirantes.
A cúpula do PT tem pesquisas mostrando que, sem Alckmin no páreo na disputa pelo governo de São Paulo, a chance de Haddad ser eleito aumenta significativamente. No passado, em mais de uma ocasião, o ex-tucano foi definido por Marinho como “um gestor do blá-blá-blá”. “Temos uma disputa histórica com o Alckmin na educação e na saúde. Além disso, ele foi o chefe da comissão de desestatização em São Paulo. Não vamos vender patrimônio na bacia das almas”, insistiu o ex-ministro. “Em relação à reforma trabalhista, o que está aí é uma tragédia. A palavra não é revogar, mas, sim, reconstruir.”
Na prática, desde que a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, disse que estava na hora de “revogar o que deu errado”, como lei do teto de gastos, reforma trabalhista e política de preços dos combustíveis – proposta também endossada por Lula –, houve mudanças de tom nesse debate.
Dirigentes do partido se apressaram em destacar que, se Lula vencer a disputa, a ideia não é fazer um “revogaço” amplo, geral e irrestrito nem rasgar contratos, mas, sim, discutir mudanças na lei trabalhista, por exemplo, em comissão formada por governo, empresários e trabalhadores.
Lançado pela Fundação Perseu Abramo e pelo PT no auge da pandemia de covid-19, em setembro de 2020, o “Plano de Reconstrução e Transformação do Brasil”, diz que “as regras fiscais austericidas constantes na Lei de Responsabilidade Fiscal, no Teto dos Gastos e na Regra de Ouro devem ser revistas e revogadas”. Com 215 páginas, o plano é hoje um roteiro para as discussões do programa econômico de Lula. Atualmente, o ex-presidente se debruça sobre o modelo da contrarreforma trabalhista na Espanha.
Em conversa na segunda-feira, 10, com o presidente do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva – conhecido como Paulinho da Força –, Alckmin demonstrou apreensão com o impacto no mercado de declarações sobre revogação de reformas. Desde então, dois movimentos se desencadearam no PT: emissários de Lula garantiram a ele que o ex-presidente propõe diálogo sobre o tema para ver o que é possível ser alterado para a retomada do emprego, e não um cavalo de pau. Outra ala do partido, por sua vez, ficou ainda mais irritada com o ex-tucano, chamado pela esquerda petista, nos bastidores, de “remédio amargo”.
De qualquer forma, no início desta temporada de 2022, as negociações para que Alckmin seja vice na chapa de Lula estão em compasso de espera. Sem partido desde 15 de dezembro, quando deixou o PSDB após 33 anos de filiação, Alckmin tem convites do PSB, do Solidariedade e do PV. O presidente do PSD, Gilberto Kassab, queria que ele concorresse ao governo de São Paulo pela sigla, mas o ex-governador, agora, mira o Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente.
Após conversar daqui e dali e tomar muito cafezinho em padarias, sempre levando a tiracolo um caderno universitário para anotar os problemas, Alckmin disse a amigos que prefere mesmo se filiar ao PSB, sigla com mais estrutura. O problema é que, até hoje, o partido não entrou em acordo com o PT porque exige apoio a seus candidatos aos governos de São Paulo, Rio, Espírito Santo, Pernambuco, Rio Grande do Sul e Acre.
“Em São Paulo, se o PSB quiser ter candidato, que tenha”, reagiu Marinho. “A chance de Haddad não disputar o governo é zero”. O pré-candidato do PSB ao Bandeirantes é Márcio França, aliado de Alckmin, que, procurado, não quis comentar as críticas.
A falta de acordo para os palanques regionais tem prejudicado o plano de pôr de pé uma federação com abrangência nacional para abrigar PT, PSB e PC do B, entre outros. Pela lei, um casamento assim, de papel passado, deve durar no mínimo quatro anos. Dividido, o PSB fez um movimento paralelo de negociação com o PDT de Ciro Gomes, mas nos próximos dias terá nova rodada de conversa com o PT.
“A aliança com Alckmin vai além do PSB”, argumentou o advogado Marco Aurélio de Carvalho, coordenador do grupo Prerrogativas e um dos organizadores do jantar que reuniu Lula e Alckmin, no dia 19 de dezembro, em São Paulo. “A tentativa de montar essa chapa é uma demonstração de que podemos deixar as divergências políticas e pessoais de lado para focar na tarefa de reconstruir e reconciliar o País”. Dos dois lados, porém, há quem diga que falta combinar com os russos.
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