Sob Queiroga, Anarquia toma o ministério da Saúde

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Foto: Walterson Rosa / Ministério da Saúde/Divulgação

Jair Bolsonaro transformou o Ministério da Saúde no melhor retrato do seu governo — um lugar onde muitos mandam, inclusive ele, e cada um faz o que bem entende.

Sua crença no “milagre” em pílulas contra o vírus da Covid-19 pode até ser caso de estudo de psicopatia na política, da mesma natureza que o levou, quando deputado federal, a liderar o lobby da liberação da fosfoetanolamina, “a pílula da cura do câncer”.

Nunca houve comprovação científica de eficácia, mas a comercialização das pílulas miraculosas do “dr.” Bolsonaro acabou autoridades em lei pelo Congresso e sancionada por Dilma Rousseff. O Supremo vetou, a pedido de entidades médicas.

Na pandemia, essa obsessão por um elixir conduziu o governo a atuar contra o interesse público. A substituição da política de Saúde pela política na Saúde produziu um pandemônio na gestão governamental da pandemia.

Na contagem de 622 mil mortos até ontem à noite está refletida a perda de controle da maior tragédia sanitária do século num país equipado com um sistema de saúde reconhecido pela eficiência na vigilância e controle de epidemias pela vacinação em massa — do sarampo à meningite.

Nesse trágico enredo, o Ministério da Saúde virou um centro operacional de interesses pessoais, políticos e eleitorais sob a guarda, primeiro, do general Eduardo Pazuello, depois do cardiologista Marcelo Queiroga.

A diferença entre eles é que o general parecia sincero na confissão pública ao lado do chefe: “Um manda, outro obedece.”

O médico Queiroga simula. Numa sexta-feira (15) comandou mais um “ato” público de vacinação contra Covid-19 no Hospital Universitário Lauro Wanderley, em João Pessoa.

Ele tem percorrido o Estado num ritual de pré-campanha, pontuado por discursos contra adversários, recheados de autoelogios e permeados pela defesa do “governo conservador que tem o compromisso com a inocência das crianças nas escolas”.

Está na lanterna nas pesquisas para o governo estadual, cerca de 37 pontos percentuais abaixo do governador João Azevêdo, do Partido Cidadania, que batalha pela reeleição.

Menos de uma semana depois, na última quinta-feira (20), Queiroga desembarcou em Lençóis Paulista, a mil quilômetros de Brasília. Viajou a pedido de Bolsonaro, acompanhado de Damares Alves, ministra da Mulher e da Família, para visitar uma criança que sofrera parada cardíaca horas depois de ser vacinada contra a Covid-19.

Como Queiroga, Damares demonstra ansiedade por uma candidatura em outubro. Os movimentos dos ministros-candidatos em Lençóis ajudou a semear suspeitas sobre a vacinação de crianças.

Damares, por exemplo, fez estardalhaço sobre a visita mas “esqueceu” de mencionar o laudo técnico isentando a vacina da parada cardíaca.

Faz parte do seu padrão de comportamento. Numa reunião ministerial, em abril de 2020, chegou a dizer que pediria “a prisão de governadores e prefeitos” porque “idosos estão sendo algemados e jogados dentro de camburões no Brasil, mulheres sendo jogadas no chão e sendo algemadas” quando supostamente resistiam às medidas de prevenção sanitária. Como ela nunca provou nada, do episódio restou apenas o tom delirante.

Queiroga seguiu na trilha de Damares, também omitiu o laudo, e somente 24 horas depois autorizou o ministério a confirmar a conclusão a favor da vacina.

Enquanto isso, um de seus secretários, Helio Angotti, divulgava uma nota “técnica” contra a vacina e a favor da difusão da cloroquina e seus derivados no “tratamento” da Covid-19.

Foi além, ao jogar no lixo o conjunto de diretrizes apresentado por uma comissão técnica do próprio ministério sugerindo a vacinação em massa e desqualificando as pílulas miraculosas do kit Covid, prescritas pelo “dr.” Bolsonaro.

Queiroga fez de conta que nada viu, leu ou ouviu falar, confirmando a diluição da própria autoridade no ministério onde muitos mandam e cada um faz o que bem entende.

À distância, Julio Croda, pesquisador da Fiocruz, desabafou: “Já passou de ato de autonomia médica para algo criminoso”.

Por sorte, o eleitorado percebeu os riscos da liquefação da governança na pandemia, e, com receio da morte, reduziu Bolsonaro e o seu talibã da cloroquina à absoluta irrelevância: ontem à noite mais de 148 milhões de brasileiros (69% da população) já estavam totalmente imunizados, com duas doses ou dose única de vacina contra a Covid-19.

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