Bolsonaro acha que instaurar o PIX no país pode reelegê-lo

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Foto: Alan Santos / Presidência da República

Diante da dificuldade de alavancar as pautas econômicas ao longo dos três anos de seu governo e sem grandes resultados na área, o presidente Jair Bolsonaro vai apostar no Pix, instrumento de transferências bancárias em tempo real via internet, como bandeira eleitoral. Desenvolvido pelo Banco Central, o Pix alcançou enorme popularidade no país: em menos de um ano e meio, 109,8 mihões de pessoas já se cadastraram no sistema, além de oito milhões de empresas.

O comitê de campanha à reeleição discute ainda qual será a participação do ministro da Economia, Paulo Guedes, peça fundamental na disputa de 2018, na elaboração do novo programa de governo e não descarta a inclusão de um outro economista para debater as propostas que serão apresentadas na eleição deste ano.

Bolsonaro já começou a propagandear o Pix, lançado pelo Banco Central em setembro de 2020, como realização de seu governo. Ao ler sua mensagem ao Congresso, na quarta-feira, na Câmara, durante a abertura do ano legislativo, o presidente citou a ferramenta como um dos feitos de sua administração, o que deve ser repetir em próximos discursos. Para além dos números superlativos, conta a favor do instrumento o fato de ter alcançado correntistas das mais variadas camadas sociais. Virou rotina nas cidades brasileiras todo tipo de serviço ser pago através do sistema, desde transações comerciais maiores até compras de ambulantes nas ruas.

O sucesso do Pix, principalmente, fará do presidente do BC, Roberto Campos Netto, figura importante na campanha deste ano, embora ele não possa se engajar diretamente nas ações eleitorais em virtude das limitações que o cargo lhe impõe. No núcleo duro do presidente, Campos Netto tem sido lembrado por conta de diferentes ações consideradas positivas implementadas pelo BC, em contraste com parte da agenda do Ministério da Economia que não foi pra frente, como as privatizações, uma das principais promessas de campanha de Bolsonaro na última corrida eleitoral.

A condução da política monetária pelo BC também costuma render elogios entre aliados próximos de Bolsonaro. Além disso, Campos Netto é reconhecido por navegar bem entre parlamentares, outra característica que lhe coloca no extremo oposto de Guedes. O ministro da Economia já travou alguns duros embates com o Parlamento e, para boa parte dos congressistas, é visto como um autoridade que tem dificuldade para compreender a autonomia do Poder vizinho. Reservadamente, auxiliares de Bolsonaro dizem acreditar que Campos Netto pode assumir outro cargo num eventual segundo mandato, cogitando, inclusive, o próprio Ministério da Fazenda.

O ministro da Economia perdeu espaço desde o início do governo. Apelidado de “Posto Ipiranga” de Bolsonaro — em referência à propaganda que pregava que todas as dúvidas e necessidades podem ser encontradas no posto em questão — Guedes foi o fiador das políticas econômicas propostas na campanha de 2018. Nesse papel, tornou-se peça fundamental para atrair o voto do eleitor de centro e direita interessado na implementações de um perfil liberal na condução do país.

Na mais recente demonstração de desprestígio de Guedes junto ao chefe do Executivo, Bolsonaro editou um decreto que dá mais poder à Casa Civil na execução do Orçamento deste ano, diminuindo a autonomia do Ministério da Economia. O texto determina que a pasta comandada por Ciro Nogueira terá de dar aval para ações de abertura ou remanejamento ou corte de despesas do dia a dia dos demais ministérios.

Em contrapartida, integrantes do comitê de campanha de Jair Bolsonaro, como o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, dizem que Guedes segue com a confiança do presidente, apesar dos desgastes. A avaliação é que o ministro mantém imagem de um defensor de suas convicções e, principalmente, da responsabilidade fiscal do governo.

De todo modo, ainda não está definido se Guedes será o comandante do plano econômico para a campanha de um segundo mandato. Não está descartada a possibilidade de um outro nome se juntar ao projeto. Ainda não há definição, porém, de quem seria.

O Globo 

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