Ciro vira ‘adolescente gamer’ para tentar reagir nas pesquisas

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Foto: Sérgio Lima/Poder 360

Cercado por figuras do Pac-Man e canecas do Super Mario Bros, o apresentador conversa de forma descontraída diante do microfone. Ao fundo, há luzes coloridas e um quadro com a frase “Mais amor, por favor”. Em torno da mesa, estão duas cadeiras gamers, muito apropriadas para o cenário. Mas aqui não se trata do “host” do seu vlog favorito, ou de um típico streamer narrando jogos na Twitch, plataforma mais conhecida para isso. Quem está falando é o pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT).

De olho no eleitorado jovem, o pedetista tem apostado numa estratégia de peso nas redes sociais. Sob o comando do marqueteiro João Santana, responsável pela chapa Dilma-Temer em 2014, Ciro exibe uma persona mais jovial e bem-humorada, fincada no mote da “esperança e rebeldia”, algo para tentar contornar sua fama de brigão e apresentá-lo como alternativa ao bolsonarismo.

Com canais em todas as grandes plataformas, do TikTok ao YouTube, Ciro tem promovido lives semanais com especialistas, personalidades e até gameplays (sessões em que se exibe jogando um game) com o filho e a esposa. A novidade mais curiosa são os “reacts”, trechos das lives em que assiste e comenta vídeos de forma “espontânea” — no caso, sempre vídeos de adversários na corrida presidencial.

Os “reacts” foram popularizados na internet com a febre dos streamers, usuários que fazem transmissões ao vivo na web, tradicionalmente relacionadas a jogos. No Brasil, uma das maiores referências no assunto é o carioca Casimiro, que virou fenômeno de audiência. No dia 24 de janeiro, por exemplo, ele bateu recorde ao reunir 540 mil espectadores simultâneos num “react” sobre Neymar.

O político cearense tenta repetir parte da fórmula encontrada nas redes: o cenário nerd, o clima informal e os cortes que rendem publicações por dias e dias — ou seja, o vídeo original é picotado em vários pedaços.

O que distingue o “react do Cirão”, porém, é o seu fim inteiramente político. Sentado em seu trono gamer, o ex-ministro pode rebater seus adversários e promover suas propostas, sem a mediação da imprensa, como nas entrevistas, ou as contestações diretas dos debates tradicionais. Bom orador, Ciro parece se sentir confortável na posição.

“Foi a grande ‘sacada’ até aqui. Os ‘reacts’ são populares no digital, e permitem uma ‘tiração de onda’ que fica leve, interessante, sem deixar de ter conteúdo”, diz Felipe Nunes, cientista político e diretor da Quaest Pesquisa. “Ter inaugurado esse formato para a eleição deste ano lhe dá a autoria original da linguagem na política”.

Nunes afirma que, apesar dos jovens serem mais desinteressados por política em geral, mirá-los pode trazer benefícios, já que “eles são mobilizados, conectados, e influenciam seus pais”. “Ou seja, é um prato cheio para quem precisa melhorar seu desempenho eleitoral”, diz ele.

Na estreia do quadro, no último dia 26, Ciro comentou a entrevista de Sergio Moro (Podemos) ao podcast Flow. O pedetista o chamou de “charlatão” e criticou a recusa do ex-juiz em participar de um debate. “Se ele se recusa a debater, eu vou debater unilateralmente. Eu vou ‘react’ às maluquices e o despreparo chocante desse cidadão”, disse Ciro.

Atualmente, os dois disputam o lugar da chamada terceira via na disputa presidencial. Segundo a última pesquisa Datafolha, de 16 de dezembro, eles estão tecnicamente empatados em terceiro lugar nas intenções de voto do primeiro turno, com 7% do pedetista, ante 9% de Moro (Podemos).

Na ponta, com liderança folgada, está o ex-presidente Lula (PT), com 48%.O presidente Jair Bolsonaro (PL), por sua vez, está em segundo, com 22%.

O programa sobre Moro rendeu mais de 4 milhões de visualizações, de acordo com a assessoria de Ciro. O desempenho convenceu a campanha a continuar apostando na ideia. “A repercussão foi tão grande que ficou decidido: daqui pra frente, vai ter ‘react’ em toda CIRO GAMES!”, diz ele, se referindo ao programa de lives. No início de fevereiro, lançou uma série de vídeos reagindo ao presidente Jair Bolsonaro (PL).

O pré-candidato revela que o nome do programa, “CIRO GAMES”, foi sugerido por Igor Coelho, apresentador do Flow podcast, quando o pedetista participou da atração em junho do ano passado.

Para André Eler, diretor-adjunto da consultoria Bites, uma dificuldade que se impõe à investida digital de Ciro é a de soar natural, o que “nem sempre acontece quando candidatos tentam embarcar em memes e tendências”, diz ele.

“É óbvio que o Ciro, de certa forma, vai virar piada. Se ele levar numa boa, isso pode ser muito positivo. Mas é muito comum que o público estranhe um pouco e perceba que há alguma artificialidade, uma tentativa de acenar para um público que não é exatamente o dele”.

Desde o ano passado, a campanha do pedetista tem tentado se aproximar de grupos que não foram “totalmente ganhos pelo PT”, segundo Eler, como os “zoomers”, outro termo para Geração Z, e grupos evangélicos.

Nas lives, Ciro tem feito, por exemplo, acenos ao mercado gamer brasileiro durante jogatinas com o seu filho, Gael. “Eu quero fazer isso, mostrar que temos um mercado de mais de 2 bilhões de dólares, quase tudo importado. Se a gente der uma forcinha, o Brasil passa a ser um protagonista global”, disse ele.

“Isso também é oportunidade de empreender, de trabalho e emprego para muita gente. Lembrando que o mundo dos games dá mais grana do que [o mercado do] cinema e [da] música juntos”.

Os gamers, aliás, formaram uma das bases mais sólidas do governo Bolsonaro desde o seu início, embalados pelas semelhanças entre a linguagem de bolsonaristas e fãs de videogames nas redes. O presidente, inclusive, distribuiu afagos à comunidade, como uma redução de imposto de importação para o setor, anunciada em 2019. Aos poucos, entretanto, viu uma crescente míngua de apoio dentro do nicho, principalmente entre os influenciadores streamers.

Por ora, a estratégia digital de Ciro vem alavancando um crescimento nas redes — ainda que tímido, segundo Eler. O diretor-adjunto da Bites aponta que, nas últimas duas semanas, período em que Ciro lançou os “reacts”, foram 25 mil novos inscritos no Youtube, 6,3 mil novos seguidores no Instagram e 8,5 mil no Twitter.

Desde outubro, Ciro está em terceiro no IPD (Indíce de Popularidade Digital), medido pela Quaest, atrás de Lula e Bolsonaro, afirma Felipe Nunes, diretor da consultoria. “Foi possível perceber resultados positivos dessa estratégia, mas de uma maneira geral, captamos mais estabilidade do que variação positiva”.

Na eleição de 2018, o pedetista ficou em terceiro lugar, com 13.344.366 de votos, ou 12,47% dos votos válidos. Na reta final, sua campanha intensificou a mobilização nas redes sociais, com memes e linguagem viral para o conteúdo ser distribuído naturalmente. A hashtag #viraciro chegou a ganhar força, mas não foi suficiente para levá-lo ao segundo turno.

Ainda é cedo para saber como o movimento deste ano se refletirá no desempenho eleitoral em outubro, dizem os analistas, mas a adoção de novos formatos digitais, bem como a busca por uma “suavização” da imagem dos líderes políticos já são apontadas como tendências em 2022.

Folha  

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