Conheça o Moro coreano
Após ter se inspirado na Espanha, que está revertendo uma reforma trabalhista, o PT fará uma imersão na Coreia do Sul, por meio da Fundação Perseu Abramo. O governo do país asiático criou um pacote de US$ 133 bilhões para estimular o crescimento, apelidado de New Deal sul-coreano.
O PT também quer analisar a candidatura presidencial do ex-procurador-geral Yoon Seok-youl, uma espécie de Sergio Moro sul-coreano, acusado de ter cometido abusos em nome do combate à corrupção.
O economista Uallace Moreira, professor da Universidade Federal da Bahia, será a principal referência da fundação presidida pelo ex-ministro Aloizio Mercadante (PT). Ele está passando uma temporada no país asiático como professor visitante da Seoul National University (SNU) e estuda o tema há 15 anos.
O paralelo com o caso brasileiro se dá pelo acompanhamento do projeto de restituição dos direitos trabalhistas e de geração de emprego por parte do atual presidente, Moon Jae-in, e do estudo do caso de um membro do Judiciário que, por meio de uma operação supostamente anticorrupção, construiu uma plataforma para se lançar na política —e que sofre danos de imagem por meio de acusações de abusos, perseguições e corrupção.
Yoon Seok-youl é hoje candidato presidencial e disputa a ponta com Lee Jae-myung, do Partido Democrata de Moon.
“Quando veio a crise da Covid-19, o presidente lançou o New Deal. É um plano inicial de investimento de quase 10% do PIB, tanto que a Coreia do Sul tem um dos maiores déficits públicos recentes, por causa do dinheiro que está injetando na economia para socorrer pequenas e médias empresas na crise. Ao mesmo tempo, no plano, havia o projeto de criar 1,9 milhão de vagas de emprego no setor público”, diz Moreira ao Painel.
“O New Deal é um pacote de investimento com três pilares”, explica. “O chamado Digital New Deal, investir na economia digital, o Green New Deal, da sustentabilidade, e também a geração de emprego”.
Moreira diz que a Coreia do Sul foi um dos países que na pandemia menos sofreram com queda no PIB (-1%), teve redução da taxa de desemprego (2,6%) e agora apresenta uma das maiores previsões de taxa de crescimento, 3,5%.
Esses resultados, segundo ele, impulsionam o crescimento das intenções de voto em Lee, candidato de Moon que atualmente disputa cabeça a cabeça com Yoon as eleições presidenciais, marcadas para março.
“A popularidade do presidente Moon e de Lee melhorou com os efeitos do New Deal e as evidências dos crimes de perseguição de Yoon”, analisa.
No meio do ano passado, Yoon passava dos 30% de intenções de voto, ao passo que Lee chegou a ficar abaixo dos 20%, destaca Moreira.
Em sua campanha, ex-procurador-geral propõe a liberação de jornadas de trabalho semanais de até 120 horas (o atual governo estabeleceu teto de 52 horas por semana) e o estreitamento dos laços diplomáticos com os Estados Unidos.
Lee, por sua vez, tem uma proposta social-democrata de aprofundamento da proteção aos direitos trabalhistas, diz Moreira.
Folha de SP