Kassab e seu partido estão a um passo de aderir a Lula
Foto: Daniel Teixeira/Estadão
Conhecido no meio político por ser um estrategista de tino eleitoral aguçado, o presidente do PSD, Gilberto Kassab, não conseguiu, até agora, emplacar seu primeiro candidato ao Palácio do Planalto. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), em quem ele apostou todas as fichas, não saiu do lugar em pesquisas de intenção de voto e tudo indica que vá desistir. Mas isso, talvez, não importe tanto.
Pragmático, Kassab se movimenta com desenvoltura, da direita à esquerda, e não faz questão de esconder conversas com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), a quem considera apoiar no longo prazo. Até aliados o veem como um “camaleão”.
O problema é que a desistência de Pacheco, agora, lançaria uma ala do PSD “nos braços” de Lula desde já. Além disso, pelos cálculos de Kassab, o partido corre o risco de sofrer uma debandada se não tiver candidato próprio à Presidência, já que outra parte da bancada federal ameaça se filiar ao PL, partido do presidente Jair Bolsonaro.
É por isso que o ex-ministro e ex-prefeito de São Paulo não quer antecipar um jogo que pode ser feito mais adiante, embora Lula tente convencê-lo a selar logo essa aliança. Na prática, o PSD se tornou uma espécie de fiel da balança nas próximas eleições, tendo o apoio disputado por vários segmentos da política.
Fundado por Kassab em 2011 – na esteira de um racha no DEM e sob aplausos de petistas –, o PSD tem hoje 35 deputados e 11 senadores. Conta, ainda, com o terceiro maior número de prefeitos eleitos (654), incluindo o de Belo Horizonte (MG), e dois governadores (o do Paraná e o de Sergipe). Em eleições passadas, o ex-ministro ensaiou lançar candidaturas próprias, mas não tardou para que tomasse outro rumo e aceitasse alianças.
Logo após a criação do PSD, Kassab disse que o partido não seria “de esquerda, de direita, nem de centro”. Depois, ele mesmo viria a ser ministro das Cidades no governo de Dilma Rousseff. Com o impeachment da petista, aprovado por sua legenda, assumiu a pasta de Ciência, Tecnologia e Comunicações na gestão de Michel Temer. Atualmente o PSD se declara de centro, mas rejeita a pecha de Centrão, em que pesem a posição de seus congressistas e os cargos de segundo escalão ocupados no governo. O ministro das Comunicações, Fábio Faria, é filiado ao PSD, mas está prestes a mudar de partido. Kassab sempre disse que Faria era da “cota pessoal” de Bolsonaro.
O presidente do PSD sempre evitou embates. Quando prefeito, reagia de maneira calculada a reportagens críticas, sob o argumento de que a imprensa o “ajudava” a identificar problemas na cidade. Poucas vezes se descontrolava em público. Numa delas, em 2007, ficou marcado por enxotar, aos gritos de “vagabundo”, uma pessoa que reclamava numa unidade de saúde.
Kassab sempre foi capaz de deixar mágoas para trás em nome de interesses imediatos. Adversário do PT em São Paulo por diversos anos, agarrou-se ao partido para alavancar o PSD. A desavença com o ex-governador Geraldo Alckmin – hoje cotado para candidato a vice de Lula – ocorreu por causa da campanha municipal de 2008. À época, Kassab se elegeu com apoio de José Serra, de quem era vice-prefeito, rachando parte do PSDB.
Durante anos Kassab e Alckmin se fustigaram nos bastidores. Os embates só iam a público, porém, durante as disputas eleitorais. Mas o ex-prefeito levou o PSD a apoiar o então tucano na disputa presidencial de 2018, quando via chances de chegar ao Palácio do Planalto. Não foi daquela vez.
Em conversas reservadas, políticos avaliam que Kassab deseja se valorizar para ser vice de Lula, pretensão negada por ele. Aliados do ex-ministro também observam que uma dobradinha assim é algo improvável. Lembram que o ex-prefeito se afastou de cargos no Executivo, como a Casa Civil no governo de João Doria, por causa de processos judiciais. Se fosse vice, Kassab poderia, involuntariamente, dar munição a opositores, já que responde na esfera eleitoral a uma acusação de corrupção, originada na delação da JBS. Ele nega.
O ex-prefeito afirma que, até agora, tudo o que foi planejado deu certo: o apoio à eleição de Pacheco para o comando do Senado, a filiação dele ao PSD e o convite para disputar o Planalto. Mas desvia do assunto quando se insiste na provável desistência de seu afilhado. “Acho que ele será candidato, mas, como ocupa a presidência do Senado, as circunstâncias do País fazem com que a gente avalie com muita calma. Tudo o que a gente falou aconteceu. A tendência é esse último passo também acontecer”, afirmou.
De qualquer forma, Kassab também tem um plano B, tanto que convidou o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), para se filiar ao PSD (mais informações nesta página). Na sua avaliação, Leite pode até vir a ser o candidato ao Planalto. Mas o ex-prefeito também não negará um convite para a Esplanada dos Ministérios, caso Lula seja eleito. Se isso ocorrer, Kassab terá realizado uma profecia, porque o PSD pode reduzir o poder do MDB e se tornar o fiador da governabilidade no País.
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