“Nazismo exterminaria a maioria dos brasileiros”, diz historiador americano

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Foto: Reprodução

Na segunda-feira 07, o podcaster Monark levantou polêmica Brasil afora por ter afirmado que, em sua opinião, o país deveria permitir, por lei, a existência de um partido nazista. O produtor de conteúdo foi desligado da empresa responsável pelo podcast e posteriormente afirmou que estava “bêbado” quando fez a declaração.

VEJA conversou com Edwin Black, autor e historiador especializado em nazismo e Holocausto, sobre a fala de Monark.

O que pode ter levado Monark a dizer o que disse?

Mais do que bêbado, Monark estava em um estado profundo de ignorância. Se o nazismo ou o neonazismo firmasse raízes no Brasil, como desejam algumas pessoas, a maior parte dos brasileiros seria exterminada. Os nazistas acreditavam em uma raça suprema e tinham uma hierarquia de raças que seriam exterminadas em determinada ordem, com os judeus em primeiro lugar. Mas poloneses, russos, ucranianos, ciganos, negros, brancos de cabelo castanho e muitos outros também seriam mortos.

O que esse incidente representa?

Isso nos mostra que a falta de educação sobre o Holocausto está mostrando seu rosto horrendo. A maior parte de nós, historiadores, lembra do Holocausto não como algo ruim que aconteceu conosco, mas com milhões de outras pessoas, que foram vitimadas pelo nazismo. A cura para isso é a educação. É pela falta dessa educação que indivíduos como eu lutam diariamente para repassar a mensagem de que, quando dizemos “nunca mais”, falamos sério.

Onde traçar a linha entre liberdade de expressão e discurso de ódio?

A segunda camada do discurso de Monark, após a extrema ignorância, é a extrema ingenuidade. Todo direito é limitado. O meu direito à liberdade de expressão só vai até o ponto onde eu posso causar dano a outrem. O meu direito de levantar o punho em desafio acaba quando a minha mão se aproxima do seu nariz. O direito da mídia à expressão também é limitado: não se pode mentir, difamar, exagerar. Eu mesmo não posso publicar um livro que fira as regras do país onde ele será publicado.

A liberdade de expressão pode ser considerada um direito ilimitado?

Não é que todos tenham liberdade de expressão ilimitada, pois apenas pensamentos são de fato ilimitadamente livres. Mas nem todo pensamento, assim como nem todo mau cheiro, precisa ser compartilhado. Essa é uma ideia vazia, e nós esperamos mais de um formador de opiniões como Monark. Caso contrário, se os direitos fossem absolutos, eu poderia entrar na sua casa e roubar as suas coisas. Quando as pessoas começaram a falar sobre liberdade de expressão, elas falavam da possibilidade de se ficar em pé em uma caixa em praça pública e se expressar. Mas hoje o discurso foi transformado em arma, e precisamos reconsiderar o que é o discurso de ódio e o que essa liberdade total representaria. Exemplo disso é o fato de que uma das maiores democracias do mundo, a Alemanha, tornou o Partido Nazista ilegal.

Ignorância e ingenuidade bastam para explicar falas condescendentes para com o nazismo?

A terceira camada que o discurso de Monark reflete, após a ignorância e a ingenuidade, é a arrogância, que torna tudo isso combustível. Quando alguém tem um grande público, essa pessoa se sente à vontade para dizer o que quiser. Mas é preciso cuidado. Se você tem todo esse poder, faz parte do seu dever não ofender ou difamar ninguém, assim como não incentivar violência ou insurreições. Nem todo tipo de liberdade de expressão é legal ou adequado. Quando se detém o poder da persuasão, deve-se manter em mente que esse poder pode queimá-lo ou esquentá-lo. A história está cheia de pessoas que fizeram mau uso de suas plataformas.

Qual a solução para falas como a de Monark?

O antídoto é educar pessoas como Monark. Se ele quiser realmente entender o que ele estava apoiando quando disse o que disse, Monark pode me ligar diretamente para que eu explique tudo que esse discurso envolve e signfica. Também posso explicar os perigos de se usar uma plataforma de modo errado. Por fim, diria que ele deve ficar longe da bebida enquanto faz podcasts.

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O Blog da Cidadania representou contra grandes grupos de mídia na Justiça e no Ministério Público por práticas abusivas contra o consumidor, representou contra autoridades do judiciário e do Legislativo, como o ministro Gilmar Mendes, o juiz Sergio Moro e o ex-deputado Eduardo Cunha.

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