Parlamentares aderem ao Centrão em busca de verbas

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Foto: Ueslei Marcelino/REUTERS

O poder de barganha do Centrão na disputa presidencial vai aumentar com a última janela de mudanças partidárias antes das eleições de outubro. Às vésperas do período que permite a troca de legenda sem perda de mandato por infidelidade (de 3 de março a 1º de abril), líderes e presidentes das siglas avaliam como deve ficar a nova correlação de forças na Câmara e contabilizam perdas e ganhos.

Na prática, o Centrão atrai deputados federais a legendas que ampliaram sua capacidade de garantir votos com cargos influentes no governo de Jair Bolsonaro e verbas milionárias do orçamento secreto. Os principais partidos desse bloco – Progressistas, PL e Republicanos – trabalham para aumentar sua influência na Câmara.

Hoje na condição de terceira maior bancada, com 43 deputados, o PL, presidido por Valdemar Costa Neto, ocupará a primeira posição na Câmara, saltando para 65 parlamentares, e o União Brasil, uma fusão do DEM e do PSL, com 61, a segunda. No troca-troca, o PT cairá da segunda para a terceira posição, apesar de também crescer. O partido passará dos atuais 53 parlamentares para 54 – o deputado licenciado Josias Gomes, atual secretário de Desenvolvimento Regional na Bahia, voltará ao plenário. Já o Progressistas, legenda do presidente da Câmara, Arthur Lira (AL), deve aumentar de 42 para 52 parlamentares, e o PSD, comandado por Gilberto Kassab, espera crescer de 35 para 40. Ambas as siglas, que respectivamente são a quarta e a quinta maiores bancadas, devem seguir nas mesmas colocações.

Na estrutura do orçamento secreto, o presidente da Câmara e o ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, presidente licenciado do Progressistas, são quem, na prática, organizam a divisão das indicações de verbas entre os governistas. Já o PL, além de ter filiado o próprio presidente Jair Bolsonaro, tem espaço privilegiado por comandar ministérios como a Secretaria de Governo, com Flávia Arruda, e Desenvolvimento Regional, com Rogério Marinho.

Apesar de não se declarar base de Bolsonaro, o União Brasil tem prestígio na escolha da destinação de recursos. O senador Marcio Bittar (PSL-AC) foi relator do Orçamento de 2021 e a destinação das verbas privilegiou o PSL, que fará parte do União. O deputado Elmar Nascimento (DEM-BA), outro nome que comporá a nova sigla, também tem influência e foi o responsável por indicar o presidente da Companhia de Desenvolvimento dos Vales do São Francisco e do Parnaíba (Codevasf). A estatal é um dos principais meios operados para aplicar o orçamento secreto.

Entre os partidos que vão perder filiados estão o PSDB, que deve ser reduzido de 32 para 27 deputados; o PDT, de 25 para 22; o PROS, de dez para sete, e o PTB, que, ao que tudo indica, terá a bancada diminuída pela metade, de dez para cinco.

Outro efeito será uma maior clareza para os partidos que ainda estão indecisos sobre a eleição presidencial. Legendas grandes e que vão exercer um papel essencial na disputa pelo Palácio do Planalto vão ter mais segurança para negociar. É o caso do União Brasil – que hoje se divide entre estar com o ex-juiz Sérgio Moro (Podemos), o governador de São Paulo, João Doria (PSDB), o presidente Bolsonaro (PL) e não ter uma posição formal de apoio, liberando os diretórios – e do PSD, que avalia lançar um candidato próprio ou estar com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Com a definição de quais parlamentares sairão e quais entrarão, os partidos vão conseguir debater de forma mais clara, em abril, o apoio ao candidato à Presidência, pois o tamanho de cada um dos grupos internos será definido após a janela. A partir do dia 2 de abril também começa outro período importante para a eleição, que é o intervalo no qual os políticos que quiserem concorrer a qualquer cargo (que não a reeleição ao posto anterior) devem se desincompatibilizar e ainda não poderão mais trocar de legenda.

No PSD, o discurso atual é o de que haverá candidatura própria ao Palácio do Planalto. O presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), era visto como única opção, mas, diante do desânimo do senador em participar da disputa, Kassab disse que pensa em atrair o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite (PSDB), e o ex-governador do Espírito Santo Paulo Hartung para a legenda como alternativas nas eleições.

Apesar disso, na quarta-feira, 9, Kassab admitiu pela primeira vez que as portas do PSD não estão 100% fechadas para Lula no primeiro turno e que “alguns companheiros” na sigla são aliados do PT. O ex-prefeito de São Paulo tem conversado com Lula sobre a sucessão presidencial. Petistas têm oferecido apoio ao PSD em Estados como Minas Gerais, onde o prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, pretende concorrer ao governo, e Sergipe, onde o deputado Fábio Mitidieri tenta ser o candidato do partido de Kassab.

O PSD fez parte do grupo de partidos que se aproximou de Bolsonaro em 2020 e chegou a controlar estruturas como a do Ministério das Comunicações e da Fundação Nacional da Saúde (Funasa). No entanto, desde o ano passado, Kassab tem comandado um movimento de afastamento e feito diversas críticas ao governo. Hoje no PSD, o ministro das Comunicações, Fábio Faria, vai para o Progressistas durante a janela.

Mesmo se o PSD decidir ficar fora da coligação do petista, alguns diretórios estaduais já avisaram que vão apoiar Lula desde o primeiro turno. Presidente do partido na Bahia, o senador Otto Alencar afirmou que tem “estima, respeito e admiração” por Pacheco, mas que já havia firmado um compromisso de apoiar Lula e vai mantê-lo.

“O PSD está com a pré-candidatura do Rodrigo Pacheco. O partido não tem em todos os Estados a unanimidade com essa decisão. Aqui na Bahia mesmo a nossa posição é de preservar nossa aliança com o PT, PP, esses partidos todos da base, PCdoB, PSB, aqui vamos caminhar com Lula”, disse Alencar ao Estadão.

O partido de Kassab já confirmou a filiação de Luiza Canziani (PTB-PR) e deve atrair também Laura Carneiro (DEM-RJ), Pedro Paulo (DEM-RJ) e Marcelo Calero (Cidadania-RJ). Entre as saídas confirmadas estão o ministro Fábio Faria (deputado eleito pelo RN) e o deputado Eder Mauro (PSD-PA).

Após a janela, o Centrão vai ganhar ainda mais força e consolidar o declínio da tríade – MDB, PSDB e PT – que costumava disputar protagonismo na Câmara antes de 2018. A bancada do PL será turbinada com bolsonarista e deve alcançar o melhor resultado da história do partido na Câmara. “Vai ser o maior partido do Brasil agora já em março com a vinda dos 25”, disse o deputado Capitão Augusto (PL-SP), vice-presidente da legenda de Bolsonaro.

Augusto afirmou que a expectativa é eleger pelo menos 60 deputados federais em 2022 e ter maior fundo eleitoral e partidário a partir do ano que vem. O deputado negou que a sigla possa se desidratar e sofrer grandes debandadas com opositores de Bolsonaro, principalmente no Nordeste: “Daqui a pouco, dois anos, tem as eleições municipais, e você, com o maior partido do Brasil, provavelmente vai ter o maior fundo partidário, um partido com governo, não tem porque abrir mão de um partido desse”.

Em segundo lugar como maior legenda virá o União Brasil, que espera ter 61 deputados, contando com o desembarque de até 30 bolsonaristas e a vinda de pelo menos dez novas pessoas. Mesmo estando em segundo, a nova sigla terá o maior cofre (cerca de R$ 1 bilhão) para a eleição deste ano, já que o cálculo leva em conta o número de eleitos do PSL e do DEM em 2018.

Entre os que devem se filiar ao União Brasil estão Clarissa Garotinho (PROS-RJ), Capitão Wagner (PROS-CE), Vaidon Oliveira (PROS-CE), Danilo Forte (PSDB-CE), Pedro Lucas Fernandes (PTB-MA) e Daniela do Waguinho (MDB-RJ).

O deputado Elmar Nascimento, ex-líder do DEM e que deve comandar a bancada da nova legenda, também disse que o partido quer ser o maior do País após as eleições de 2022. A expectativa do grupo é eleger 70 deputados, mas Elmar admitiu que a concorrência do PL e do PT é significativa.

“A gente está querendo ser maior, mas vai depender muito do desempenho dos outros. Não sei como vai o PL na esteira do Bolsonaro. O PL e o PT, por terem dois candidatos a presidente fortes, são os únicos partidos que podem ter alguma surpresa”, afirmou.

Elmar reforçou que a nova legenda ainda não possui candidato definido ao Planalto e disse que é natural os partidos terem divisões. “Isso é a realidade do Brasil. Em um país com dimensão continental, nenhum partido consegue ser homogêneo”, argumentou.

Com recursos bilionários e penetração regional, o União Brasil tem oferecido condições melhores para os parlamentares garantirem seus mandatos. É o caso de Danilo Forte, que vê adversidades em disputar pelo PSDB. “É a questão local dele lá do Ceará. Ele no PSDB sozinho não faz bancada, não faz quociente, é situação local mesmo”, disse Elmar.

Os recursos também serão importantes para Capitão Wagner, que quer concorrer ao governo do Ceará. Em dezembro, o deputado postou uma foto vestindo uma blusa com o número 44, que será usado pela nova legenda, e disse: “Quem sabe esse 44 não vira rotina partidária?”.

Outro partido do Centrão que espera crescer é o Progressistas. A expectativa é ficar próximo do PT e aumentar a atual bancada de 42 para 52 deputados. O Progressistas já confirmou a vinda dos ministros das Comunicações, Fabio Faria, hoje no PSD, e da Agricultura, Tereza Cristina, atualmente no DEM. Os dois vão reassumir o mandato na Câmara para poder disputar as eleições.

Mais dois deputados que devem se filiar são Sheridan Oliveira (PSDB-RR) e Pedro Lupion (DEM-PR). O Republicanos deve aumentar de 31 para 34 deputados com a vinda de Luis Miranda (DEM-DF), Wilson Santiago (PTB-PB) e Liziane Bayer (PSB-RS).

Do outro lado, o PSDB vive uma guerra interna e pelo menos seis deputados vão se desfiliar da legenda e migrar para partidos como União Brasil, PSD, PL e Progressistas, reduzindo a bancada de 32 para 27 deputados, pior resultado da história da legenda. Já a deputada Joice Hasselmann (PSL-SP) vai se juntar aos tucanos. Nas fileiras tucanas, uma ala de caciques tem cobrado Doria para desistir da candidatura presidencial devido ao baixo desempenho nas pesquisas, à rejeição e pela divisão dos recursos financeiros entre as campanhas para o Congresso e à Presidência.

O MDB, hoje com 34 deputados, deve manter mais ou menos o tamanho atual, e Daniela do Waguinho (RJ), de saída para o União Brasil, deve ser uma das poucas a se desfiliar.

PSB e PDT vão perder deputados que, desde 2019, têm discordado das orientações da legenda em votações da pauta econômica, como a reforma da Previdência e a autonomia do Banco Central. No PSB, a redução deve ser de 30 para 28.

O PDT também vai diminuir por causa da discordância com o projeto presidencial de Ciro Gomes; o deputado Tulio Gadelha (PDT-PE) já avisou que vai para a Rede. Em compensação, o deputado David Miranda (RJ) anunciou que sairá do PSOL para o partido de Ciro. Subtenente Gonzaga (PDT-MG), Marlon Santos (PDT-RS) e Alex Santana (PDT-BA) estão de saída após desobedecerem a orientação do partido nas votações. No saldo final, o partido deve cair de 25 para 22 parlamentares.

Proporcionalmente, o maior derretimento deve acontecer no PTB. O partido enfrenta hoje uma crise interna por disputa de comando, e a maioria dos deputados eleitos pela legenda discordam do rumo bolsonarista radical que o ex-deputado e presidente afastado da sigla, Roberto Jefferson, tem tomado.

Dos atuais 10 deputados, a expectativa é que somente dois continuem filiados – Eduardo da Costa (PA) e Marcelo Moraes (RS) -, mas a legenda deve atrair quadros bolsonaristas como Otoni de Paula (PSC-RJ), Daniel Silveira (PSL-RJ) e Luiz Philippe de Orleans e Bragança (PSL-SP).

No Podemos, três deputados devem sair por não concordar com a candidatura de Moro. São eles José Medeiros (MT) e Diego Garcia (PR), que apoiam Bolsonaro, e Bacelar (BA), que apoia Lula. Do outro lado, Kim Kataguiri (DEM-SP) e Maurício Dziedricki (PTB-RS) vão entrar no partido justamente por causa do apoio ao ex-juiz.

Estadão 

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