Alckmin se encanta com Leite e aliança com Lula fica mais longe no 1o turno

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Foto: Maicon Hinrichsen / Palácio Piratini

Após o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD-MG), anunciar que desistiu de concorrer à Presidência da República, o PSD mantém a estratégia de buscar uma candidatura própria ao Palácio do Planalto, o que gera pessimismo no PT quanto a uma aliança no primeiro turno.

Nesta quinta-feira (10), o presidente do PSD, Gilberto Kassab, disse em conversas reservadas com aliados que, caso queira, o governador Eduardo Leite (PSDB-RS) será o candidato da sigla.

Leite, por sua vez, afirmou publicamente que tomará a decisão nas próximas semanas.

“Então isso será uma prioridade para mim quando voltar ao Brasil. E isso [o debate] está acontecendo agora, pelo WhatsApp”, afirmou nesta quinta em um evento do think tank Atlantic Council, em Washington. Ele retornará ao Brasil no próximo dia 15.

O convite para que o governador gaúcho se filie ao PSD foi feito ainda no mês passado, antes de Pacheco anunciar a decisão a respeito da eleição presidencial.

O dirigente do PSD já trabalhava um plano B ao presidente do Senado na expectativa de que ele declinasse do plano de se candidatar à Presidência.

O anúncio da desistência de Pacheco ocorreu na quarta-feira (9). Nesta quinta, Kassab divulgou nota com vários elogios ao mineiro, um dos “principais nomes da renovação política brasileira”, e dizendo que respeita a decisão.

Diante da movimentação do partido, alas do PT seguem céticas e consideram pequena a chance de uma aliança entre o partido e PSD no primeiro turno das eleições, como quer o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

No PT, a avaliação de uma ala de aliados de Lula é que ele não deve procurar Kassab porque já expressou em mais de uma reunião a vontade de ter o PSD ao seu lado e se dispôs a fazer gestos em palanques estaduais para atrair o partido. O ex-presidente tem dito que é preciso respeitar o tempo de Kassab.

A prioridade do dirigente partidário para 2022 é eleger uma bancada robusta no Congresso. Nas conversas com integrantes do PT, ele tem estabelecido como meta eleger cerca de 20 senadores e 45 deputados – hoje ele tem 11 e 35, respectivamente.

A principal preocupação é com o Senado, onde o dirigente agora buscará a reeleição de Pacheco à presidência da Casa.

Como argumento, Kassab diz que ter um nome representando seu partido nas urnas facilitará a eleição de quadros ao Legislativo. A decisão de não apoiar Lula no primeiro turno também evitaria um racha dentro do PSD, que tem líderes tanto apoiadores do petista como aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL).

Já para o PT, uma aliança com o PSD significaria mais espaço na propaganda eleitoral e a atração de um partido de centro à sua coligação. Para atrai-los, além de concessões regionais, Lula propôs a filiação de Geraldo Alckmin (sem partido) ao partido para que ele fosse o vice na chapa.

Kassab, porém, sempre rechaçou essa possibilidade dizendo que, caso coubesse a ele a indicação do vice, o dirigente gostaria de poder escolher o nome. A posição levou petistas, inclusive, a ventilar que o próprio Kassab teria o desejo de compor a chapa com Lula.

Atualmente, como mostrou a Folha, a filiação de Eduardo Leite ao PSD é dada como certa pela cúpula do partido e também entre tucanos. Mesmo que ele não vá, líderes pessedistas dizem ser mais provável Kassab buscar outro nome para representar o partido na eleição do que apoiar Lula.

Leite tem até 1º de abril, quando acaba a janela partidária, para deixar o governo do Rio Grande do Sul e migrar do PSDB para a outra sigla. Políticos que conversam com o gaúcho dizem que ele quer ter a certeza de que não será abandonado pelo PSD mais à frente caso o partido constate que ele não será competitivo eleitoralmente.

A decisão terá impacto no tabuleiro das pré-candidaturas que buscam uma terceira via na eleição, como a de João Doria (PSDB), Sergio Moro (Podemos) e Simone Tebet (MDB). A União Brasil também pretende lançar um nome na disputa com a expectativa de afunilar a decisão em torno de um só nome, que seja mais competitivo, em meados do ano.

Dirigentes do MDB e da União Brasil avaliam que a candidatura de Leite só servirá para dividir ainda mais os votos que são anti-Lula e anti-Bolsonaro e manter baixo o patamar das candidaturas da terceira via. Nenhuma delas passou de dois dígitos ainda em pesquisas de intenção de voto.

Integrantes desses partidos também veem com maus olhos a decisão do governador gaúcho de insistir numa candidatura à Presidência, mesmo em outro partido, após perder as prévias internas do PSDB para Doria.

Em conversa nesta quinta-feira, Leite atribuiu a derrota nas prévias ao fato de o estado de São Paulo ter maior população do que o RS e, assim, gerar mais visibilidade a Doria. Leite alegou que, apesar da decisão do PSDB, pesquisas mostram que ele pode ser mais competitivo do que governador paulista.

“Algumas pesquisas têm mostrado que eu tenho uma posição melhor [na corrida eleitoral] do que ele [Doria]. Eu respeito ele e a decisão do partido, mas o que está sendo mostrado é que nós podemos ter uma condição melhor para discutir uma alternativa com as pessoas”, afirmou.

Na conversa com o Atlantic Council, Leite fez uma defesa enfática da necessidade de uma terceira via nas eleições no Brasil e de reformas no Estado para reduzir impostos.

“Temos de contribuir para criar uma alternativa ao país. Muitas pessoas pensam que eu poderia contribuir sendo candidato nesta eleição. Estou discutindo a possibilidade de candidatura, mas isso não deve ser uma decisão pessoal”, disse o tucano.

“Uma candidatura presidencial precisa ter mais condições para ser apoiada”, completou Leite, que disse que pode levar também membros do PSDB na candidatura.

O governador realiza uma viagem aos Estados Unidos nesta semana, em uma agenda cheia de eventos com investidores, empresários, centros de pesquisa e universidades, entre outros.

Folha