Alta dos combustíveis mostra que guerra chegou no Brasil
Foto: Edilson Dantas / O Globo
Depois de 57 dias sem reajuste, a Petrobras subiu os preços da gasolina, do diesel e do gás de cozinha. O aumento reflete principalmente a piora no mercado mundial de energia, por causa da invasão da Rússia à Ucrânia. Isso tornou inevitável que a empresa fizesse o repasse, apesar dos fortes aumentos que os combustíveis já tiveram no país. Como alegou a própria Petrobras, o risco era de desabastecimento porque 20% do mercado é suprido por empresas importadoras. Se ela mantivesse a defasagem, a importação iria diminuir muito.
Para se ter uma ideia do que aconteceu no mercado de energia, com a guerra, desde a última elevação, no dia 12 de janeiro, o preço do petróleo do tipo brent saltou de US$ 84,67 para US$ 111,40, no fechamento de ontem. Acumulava uma alta de 31,56%. No pregão desta quinta, o barril sobe mais 6%, com o fracasso nas negociações entre a Rússia e a Ucrânia. A queda do dólar nas últimas semanas nem de longe compensa esse aumento. A moeda americana caiu de R$ 5,53 para R$ 5,01, até ontem, recuo de 9,4%. Hoje, o dólar também sobe mais 1%.
Recentemente, a Petrobras privatizou uma refinaria na Bahia, que já aumentou em 35% os seus preços. Quem é obrigado a comprar no estado, por questões de logística, está pagando mais caro, o que deixou a empresa sob pressão para equalizar os preços no mercado interno.
O economista-chefe do Banco Alfa, Luis Otávio Leal, diz que o aumento de hoje terá um impacto de 0,75 ponto no IPCA deste ano, mas parte desse aumento já estava incorporada nas projeções de inflação do mercado. Ele acredita que muitos economistas vão esperar para ver se os projetos de lei que tramitam no Congresso vão ser aprovados, antes de revisar novamente as estimativas.
– Pode ter algum tipo de subsídio e há também a proposta para mudar a forma de cálculo do ICMS. A incorporação da isenção dos impostos federais no diesel é no gás de cozinha ajuda a segurar os preços – explicou.
Amanhã o IBGE vai divulgar a inflação de janeiro, que deve ficar em torno de 1%, muito elevada, o que manterá a taxa em 12 meses na casa dos dois dígitos. Em relatório, o economista Eduardo Velho, da JF Trust Gestão de Recursos, diz que o reajuste de hoje pela Petrobras reforça sua estimativa para o IPCA deste ano, em 7%, acima do teto da meta.
Com tudo isso, é certo que o Banco Central irá subir novamente a Selic na semana que vem. Os juros no país ficarão mais altos e por mais tempo com os efeitos da invasão russa à Ucrânia. Os impactos da guerra no país serão mais inflação e menos crescimento.