Conheça os pastores que pilotavam o MEC sem habilitação

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Foto: Instagram Milton Ribeiro – 13/01/2021

Os pastores evangélicos Gilmar Santos e Arilton Moura estão no centro da crise envolvendo o Ministério da Educação. Como revelou o Estadão, eles interferem na agenda do ministro Milton Ribeiro e atuam para facilitar e acelerar o empenho de recursos para determinados municípios. Nesta terça, 22, a série de reportagens iniciada na semana passada mostrou que Moura cobrou propina para dar andamento a demandas da prefeitura de Luís Domingues (MA) no MEC. De acordo com o prefeito Gilberto Braga (PSDB), o pastor pediu R$ 15 mil, mais um quilo de ouro. A dupla também conseguiu emplacar um homem de confiança na Secretaria Executiva da pasta, o órgão que gerencia e administra a estrutura do ministério.

Moura é braço direito de Santos e assessor de assuntos políticos da Convenção Nacional de Igrejas e Ministros das Assembleias de Deus no Brasil, presidida por Gilmar Santos, que também é líder do Ministério Cristo para Todos, um ramo da Assembleia de Deus com sede em Goiânia.

Ambos se aproximaram do governo Bolsonaro ainda antes de Ribeiro assumir o MEC. Quem abriu as portas do Executivo federal à dupla, segundo integrantes da bancada evangélica, foi o deputado João Campos (Republicanos-GO), pastor da Assembleia de Deus Ministério Vila Nova.

Em 2019, eles foram recebidos pelo presidente Jair Bolsonaro duas vezes, uma delas ao lado general Luiz Eduardo Ramos, que é da igreja Batista, então ministro da Secretaria de Governo.

Nas redes sociais, Santos tem cerca de 150 mil seguidores e costuma publicar suas pregações na igreja.

Nesta terça-feira, 22, ele compartilhou um trecho da Bíblia sobre “estar em paz” e publicou um vídeo se dirigindo aos fiéis, possivelmente reagindo à publicação das reportagens. Embora não mencione o gabinete paralelo, o pastor pede que os membros de sua igreja acreditem que ele continua sendo o mesmo “homem de Deus” que vem pregando e “inspirando” há quatro décadas.

“Família Cristo para Todos, obreiros amados de todo o Brasil que há quase quatro décadas escutam o homem de Deus pregar a mensagem bíblica (…) Estou aqui para lhe dizer: aqui está o mesmo pastor Gilmar Santos, convivendo com a verdade (…) Este servo de Deus, a quem Deus sempre usou para ministrar a palavra dele, a cura, o milagre e a inspiração é o mesmo que está aqui”, diz ele.

 

Entre vídeos e transmissões de suas pregações, o Instagram de Gilmar tem fotos e depoimentos de políticos. Em 30 de setembro de 2021, o religioso publicou um vídeo do ministro Milton Ribeiro parabenizando-o pelo seu aniversário. Na postagem, o titular da Educação chama o pastor de “meu amigo, meu irmão”.

 

Gilmar parece orgulhoso da relação que tem com parlamentares. Na mesma ocasião, ele também postou um vídeo do deputado João Campos o parabenizando. Há algumas semanas, o senador Weverton Rocha (PDT-MA) e o deputado Cleber Verde (Republicanos-MA) gravaram um vídeo recomendando uma Bíblia de estudos lançada pelo pastor.

 

Como assessor político da convenção de ministros, Arilton Moura traz no currículo o fato de já ter ocupado diferentes cargos públicos. Em 2018, foi secretário extraordinário para Integração de Ações Comunitárias no governo Simão Jatene, no Pará. Ele também foi presidente estadual do antigo PHS, hoje Podemos, no Estado.

Foi Arilton quem pediu um quilo de ouro para protocolar demandas junto ao Ministério da Educação, segundo o prefeito de Luís Domingues (MA), Gilberto Braga (PSDB). No áudio, revelado pelo Estadão, Gilberto diz que esse tipo de conduta era “normal” nos encontros com o pastor, de tal modo que ele nem ao menos pedia segredo: “era um papo muito aberto”.

Diferentemente de Gilmar, Arilton não tem perfil aberto nas redes sociais. Ao pesquisar seu nome nas ferramentas de busca, é possível encontrar agendas suas no MEC, como a de 6 de janeiro de 2021, quando ele se encontrou com o assessor especial da pasta, Alberio Junio Rodrigues de Lima, no gabinete do ministro. Em 10 de setembro de 2020, ele foi recebido por Milton Ribeiro para entregá-lo um “convite” em nome da Assembleia de Deus, entre outras ocasiões.

Estadão