Desigualdade digital prejudica o Brasil
Foto: Jeff Chiu / AP
A pandemia de Covid-19 acelerou a digitalização em diversas áreas no país, mas o Brasil tem dificuldades em avançar nesse processo já que o acesso à internet é desigual entre a população. Além disso, os equipamentos disponíveis não são adequados para a formação digital e menos de um terço da população pode ser considerada totalmente conectada.Trata-se de um verdadeiro abismo digital no país.
O resultado é que esse cenário trava a produtividade e produção de riqueza no Brasil e deixa um déficit de profissionais para atuar no mercado de trabalho digitalizado, com impacto negativo na renda.
Estas são algumas das conclusões do estudo O Abismo Digital no Brasil, elaborado pela consultoria PwC e pelo Instituto Locomotiva.
— Teremos um déficit de 537 mil profissionais de tecnologia até 2025, mas esse número pode ser ainda maior com os impactos da pandemia. Isso acontece em todo o mundo, mas no Brasil é mais gritante. Significa que teremos que investir 3, 4 vezes mais que países como EUA, Reino unido e Cingapura para formar esses profissionais —diz Marco Castro, sócio-presidente da PwC Brasil, lembrando que a falta desses profissionais cada vez mais reduz a participação do Brasil no ranking de atratividade de investimentos internacionais.
O levantamento criou o Índice de Privação On-Line, que permitiu definir quatro perfis de usuários brasileiros de internet. Os números mostram a desigualdade de acesso à internet.
Segundo o índice, os usuários plenamente conectados somam 49,4 milhões de pessoas. Em média, eles acessam informações na internet 29 dias por mês, estão nas regiões Sul e Sudeste do país, usam notebooks, são escolarizados, brancos e pertencem às classes A e B. Já os parcialmente conectados somam 44,8 milhões de brasileiros e acessam dados na web 25 dias por mês.
O que preocupa é que há uma legião de 75,7 milhões de brasileiros subconectados e desconectados. Os subconectados somam 41,8 milhões de pessoas, estão nas regiões Norte e Nordeste, pertencem às classes D e E e são negros. Os totalmente desconectados são majoritariamente homens, analfabetos, das classes C, D e E e idosos.
— Com menos acesso à internet, temos profissionais menos preparados, com menor renda. Não se pode normalizar essa desigualdade. O país precisa quebrar esse círculo vicioso. Profissionais conectados ganham mais, consomem mais e a economia gira — diz Renato Meirelles, presidente do Instituto Locomotiva.
O investimento das empresas em tecnologia é importante, mas é preciso que venha acompanhado de políticas públicas de inclusão digital. Sem isso, mostra o trabalho da PwC/Locomotiva, o mercado de trabalho do país tende a caminhar para mais informalidade.
— Ações isoladas têm impacto menor. Não adianta levar 5G para a periferia das grandes cidades, se as escolas públicas não conseguirem captar o sinal ou não houver uma política que permita o acesso à população de menor renda —diz Meirelles.
Marco Castro observa que quando se investe em tecnologia aplicada o retorno é exponencial. Ele cita por exemplo as startups que focam em tecnologia e conseguem fazer disrupções em negócios tradicionais.
— A inclusão digital vai iniciar uma onda de crescimento que vai tirar o país da armadilha de renda média -— afirma Castro.