Efeito Lula-Alckmin seduz apoiadores que estiveram com Bolsonaro em 2018
Foto: Ricardo Stuckert
Políticos que tiveram embates nas eleições de 2018 estarão lado a lado na campanha que deve ganhar as ruas do país nos próximos meses. O “efeito Lula-Alckmin” chegou aos estados e adversários que estavam em lados opostos há quatro anos devem se unir em 2022.
As mudanças devem acontecer tanto entre aliados do presidente Jair Bolsonaro (PL) como entre apoiadores do ex-presidente Lula (PT). Seguem a lógica da construção de palanques competitivos com candidatos unidos em torno de um objetivo comum.
Aqueles que surfaram a onda antipetista e apoiaram Bolsonaro em 2018 começam a fazer alianças locais com o PT e apoiar Lula.
Elas são resultado do movimento de aproximação do petista com políticos de centro-direita, escancarado com as negociações para o adversário histórico Geraldo Alckmin (sem partido) para ser candidato a vice-presidente.
Em Santa Catarina, estado onde Bolsonaro teve 75% dos votos há quatro anos, Gelson Merísio, candidato a governador derrotado no segundo turno em 2018, desfiliou-se do PSDB e declarou apoio a Lula.
O anúncio foi feito após um encontro com o ex-presidente intermediado pelo ex-deputado Décio Lima, pré-candidato do PT ao Governo de Santa Catarina.
Deputado estadual por três mandatos e com passagem por partidos como PSD e DEM, Merísio diz que apoiou Bolsonaro em 2018 porque entendeu que era momento de romper o ciclo de governos petistas. Hoje, contudo, diz que o governo Bolsonaro é marcado por uma sucessão de equívocos.
“Nunca votei no Lula, mas entendo que no momento atual é preciso fazer um esforço olhando para frente. Vamos construir uma liga entre pessoas que pensam diferente”, disse à Folha.
Merísio afirmou ainda que, a despeito de Santa Catarina ter um eleitorado conservador, a população está frustrada com as posições adotadas por Bolsonaro, sobretudo em relação ao combate à pandemia da Covid: “O caso das vacinas é inconcebível”.
Outro adversário no estado também tem feito movimentos de aproximação: o senador Dário Berger (MDB), que negocia filiar-se ao PSB para concorrer ao governo catarinense em outubro e também tenta se aproximar de Lula.
Em meio ao Carnaval, Berger esteve em São Paulo para uma conversa com Geraldo Alckmin, que também caminha para se filiar ao PSB.
No Rio Grande do Norte, os dois principais adversários na eleição de 2018 devem se juntar em uma única chapa. Candidata à reeleição, a governadora Fátima Bezerra (PT) negocia o apoio do ex-prefeito de Natal Carlos Eduardo Alves (PDT), que deve ser o seu candidato na sua chapa.
Em 2018, os dois enfrentaram uma disputa acirrada pelo governo estadual, em uma campanha cercada por críticas mútuas. No segundo turno daquela eleição, Carlos Eduardo contrariou a orientação de seu partido e anunciou apoio a Jair Bolsonaro para a Presidência.
“Fiz a minha autocrítica lá atrás. Quem não erra? Eu errei e me arrependo. De lá para cá, tenho mantido uma posição crítica ao governo. Estou em sintonia com o meu partido que é diametralmente oposto a Bolsonaro”, afirma Carlos Eduardo.
Ele diz ainda que as críticas a Fátima Bezerra também ficaram para trás e que já foi aliado da hoje governadora: “A gente sempre teve muito mais encontros do que desencontros”.
Prefeito de Macapá entre 2013 e 2020, Clécio Luís encaminhou sua filiação ao Solidariedade e anunciou apoio ao ex-presidente Lula. Agora, trabalha para construir uma coalizão ampla para disputar o Governo do Amapá em uma chapa com o senador Davi Alcolumbre (União Brasil), que concorrerá à reeleição.
Deve ter o apoio até mesmo do governador Waldez Góes, adversário histórico que há oito anos fez com que DEM e PSOL subissem no mesmo palanque em oposição à sua candidatura.
Clécio ainda quer trazer para a aliança o senador Randolfe Rodrigues (Rede), de quem está afastado desde a eleição municipal de 2020.
Também houve uma reaproximação entre PT e PSB em estados como Piauí, Pernambuco e Sergipe. Neste último, os dois partidos estarão juntos em torno da candidatura ao governo do senador petista Rogério Carvalho, que se afastou do governador Belivaldo Chagas (PSD).
“Temos mais convergências que divergências. Estivemos em palanques diferentes em 2018 pelo contexto do momento, mas não fomos adversários diretos”, afirma Valadares Filho, presidente estadual do PSB e candidato derrotado ao governo há quatro anos.
Rompida com o PSB desde 2014, por divergências internas com o então governador Eduardo Campos, a deputada federal Marília Arraes (PT-PE) poderá se aliar ao PSB em 2022 se for escolhida candidata ao Senado pelo PT na chapa com Danilo Cabral, deputado federal e pré-candidato do PSB a governador de Pernambuco.
A parlamentar saiu do PSB para o PT em 2016 e se colocou como opositora do antigo partido, mesmo nos momentos em que as duas siglas estiveram juntas.
Em 2022, ela sinaliza a interlocutores que está disposta a ajudar no projeto nacional de Lula, sem criar embaraços, indicando que aceitaria ser escolhida para a disputa do Senado.
No campo bolsonarista houve uma aproximação de adversários no Paraná. O governador Ratinho Júnior (PSD) selou uma aliança com o PP, comandado no estado pelo líder do governo Bolsonaro na Câmara, Ricardo Barros.
Em 2018, Ratinho Júnior enfrentou a então governadora Cida Borghetti, esposa de Ricardo Barros, na disputa pelo Governo do Paraná. Ela buscava a reeleição após assumir um mandato tampão com a renúncia de Beto Richa (PSDB). Já Ratinho se colocava como opositor da gestão tucana.
Segundo maior colégio eleitoral do país, Minas Gerais também deve ter uma união de ex-adversários. O PSDB vai apoiar Romeu Zema (Novo) quatro anos depois de ter sido derrotado pelo hoje governador.
A vitória de Zema em 2018 implodiu o PSDB mineiro, que perdeu o protagonismo que tinha no estado. Agora, os tucanos tentam voltar ao centro do palco como coadjuvante do governador.
O vínculo inclui a filiação ao partido do vice-governador do estado, Paulo Brandt, e a ascensão do deputado estadual Gustavo Valadares (PSDB) para a liderança do governo na Assembleia Legislativa.
“Boa parte do que foi implementado pelo governador eram propostas do PSDB há quatro anos. Essa aproximação não traz nenhum desconforto porque nosso principal adversário em 2018 era o PT”, afirma Valadares à Folha.
Na Bahia, o deputado federal Marcelo Nilo se desfiliou do PSB e deixou a base do governador Rui Costa (PT) com críticas duras ao PT. Agora, deve migrar para o arco de alianças do ex-prefeito de Salvador, ACM Neto (União Brasil), onde trabalha para ser candidato ao Senado.
Adversário histórico de Antônio Carlos Magalhães (1937-2007), avô de ACM Neto, Nilo foi um aliado fiel dos governos petistas na Bahia e por dez anos comandou a Assembleia Legislativa. Mas, ao lado dos petistas, não conseguiu realizar seu desejo de concorrer a um cargo majoritário.
No Rio de Janeiro, PSD e PDT voltaram a se aproximar após troca de rusgas na eleição municipal de 2020. Os pré-candidatos a governador Felipe Santa Cruz (PSD) e Rodrigo Neves (PDT) fecharam uma aliança para sair um candidato único do grupo ao governo do estado.
Há pouco mais de um ano, os então candidatos Eduardo Paes, à época no DEM e hoje presidente do PSD do Rio, e Martha Rocha (PDT) trocaram farpas às vésperas do primeiro turno. Em um encontro reservado em janeiro, Paes pediu desculpas a Martha pelas críticas na campanha de 2020.