Facebook e Instagram começam a faturar alto com eleições

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Foto: Reprodução

A menos de sete meses das eleições, partidos e pré-candidatos já começam a lançar mão do impulsionamento em redes sociais para ampliar seu alcance digital e mirar segmentos específicos do eleitorado. É o que revela um levantamento do GLOBO a partir de dados da biblioteca de anúncios da Meta, empresa controladora do Facebook e Instagram. Ao todo, as duas plataformas receberam R$ 9,9 milhões em anúncios com temas sociais, eleições e política nos últimos três meses, de acordo com dados das próprias redes.

A prática é permitida pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE). De acordo com a resolução do tribunal, o impulsionamento fica liberado, desde que não haja disparo em massa por meio de aplicativos de mensagem instantânea e pedido explícito de votos. Ainda de acordo com a norma, a moderação de gastos deve ser respeitada. Não há, no entanto, um cálculo definido para estipular eventuais valores gastos.

Entre os presidenciáveis, a pré-candidata do MDB, a senadora Simone Tebet (MS), é por enquanto quem mais gastou. Nos últimos 30 dias, o partido desembolsou R$ 138 mil para patrocinar conteúdo. Tebet tem poucos seguidores na comparação com os demais nomes da disputa: 154 mil no Facebook e 120 mil no Instagram.

Postagens patrocinadas de Simone Tebet

A senadora tem patrocinado conteúdo voltado principalmente para o eleitorado feminino no Mato Grosso do Sul e em São Paulo. Ao todo, são 42 peças que já receberam impulsionamento. Entre os temas mais comuns das postagens, estão o combate ao feminicídio e à pobreza menstrual, além de mensagens que reforçam um tom moderado, como alternativa para a polarização, e vídeos em que Tebet apresenta sua trajetória política.

Sigla do ex-ministro Sergio Moro, o Podemos investiu R$ 46 mil nos últimos meses com postagens que exaltam a Operação Lava-Jato. O conteúdo, no entanto, é compartilhado na página do partido e não na de Moro. O foco tem sido atingir homens entre 25 e 34 anos das regiões Sudeste e Sul.

Postagens do Podemos focam na Lava-Jato

“Você quer a volta da Lava Jato?” e “Eu apoio a Lava Jato e você?” são algumas das frases usadas junto com fotos de ações da Polícia Federal no âmbito da operação. No início do ano, o Podemos também lançou mão de fotos de Moro com frases como “O Brasil precisa de Sergio Moro candidato em 2022? #EuApoio #JuntosPodemos”.

Com investimento um pouco menor, de R$ 34 mil, o PT tem usado o impulsionamento para divulgar cadastros e seus aplicativos para acessar conteúdo pró-Lula. Uma dessas iniciativas, batizada de Lulaverso, foi alvo de bloqueios do WhatsApp no último dia 11.

Postagem do PT divulga cadastro para apoiadores

No âmbito estadual, um dos destaques é o deputado federal Marcelo Freixo (PSB-RJ), com quase R$ 60 mil gastos em impulsionamento pelo PSB nos últimos três meses. Em fevereiro, o pré-candidato ao governo do Rio patrocinou postagens em que se apresenta como candidato do ex-presidente Lula. No vídeo compartilhado, o ex-presidente declara apoio a Freixo durante uma entrevista.

Mais recentemente, Freixo passou a divulgar um vídeo em que apresenta como proposta para combater os efeitos da pandemia na aprendizagem escolar um programa de reforço escolar. Os anúncios têm sido mais direcionados a mulheres jovens do estado do Rio. “O governo do Estado tem o dever de dar suporte aos nossos alunos para que eles não tenham prejuízos na aprendizagem. Minha proposta é criar um programa de reforço escolar com estudantes universitários que estão se preparando para serem professores”, diz uma das publicações na página de Freixo.

Freixo patrocina apoio de Lula

Nome do União Brasil em Pernambuco, o prefeito de Petrolina Miguel Coelho gastou R$ 66,8 mil nos últimos três meses para divulgar dados sobre sua gestão na cidade. Na mesma linha, o pré-candidato do PSDB ao governo de São Paulo, o vice-governador Rodrigo Garcia, tem usado as postagens patrocinadas para divulgar o impacto das ações do governo paulista contra a pandemia.

O tucano também passou a patrocinar fotos e vídeos em que aparece com a família e postagens em que demonstra proximidade com pautas ligadas ao campo e aos produtores rurais. O PSDB gastou R$ 36 mil com os anúncios no último mês. As mulheres jovens também são o principal público-alvo do vice-governador.

Especialista em Direito Eleitoral e vice-presidente da Comissão de Proteção de Dados e Privacidade da OAB do Rio, Samara Castro explica que a liberação do impulsionamento antes do pleito partiu de uma mudança recente de entendimento da Corte Eleitoral e destaca que os pré-candidatos precisam tomar alguns cuidados com a propaganda impulsionada:

— Há uma compreensão da Justiça Eleitoral de que tudo o que é permitido na campanha é também na pré-campanha. Essa foi a mudança de entendimento do tribunal. A regra é que não pode existir propaganda paga na internet, com exceção do impulsionamento, o que passa a valer na pré-campanha. Mas é preciso tomar alguns cuidados. Um deles é que não é permitido impulsionar conteúdo eleitoral. O pré-candidato não pode, por exemplo, pedir voto. Outro é não impulsionar propaganda negativa. Nesses casos, pode ser aplicada multa.

O entendimento amplo sobre o que pode ser enquadrado ou não como conteúdo eleitoral permite que nomes colocados na disputa antecipem a campanha. Os pré-candidatos também são obrigados a ter moderação nos gastos para impulsionamento. Na prática, porém, não há uma definição clara sobre o critério para o cálculo de valores ideais.

Especialista em comunicação digital e professor da Faculdade de Comunicação Social da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), Camilo Aggio destaca que, com o mundo digital, o calendário eleitoral se tornou “fictício”, já que as redes permitem campanhas de forma permanente, o que explica o uso do impulsionamento cada vez mais comum na pré-campanha. Ele vê no impulsionamento uma estratégia de ampliação da exposição do candidato, mas destaca que a tática não é suficiente para garantir voto.

— O impulsionamento é uma estratégia de ampliação de exposição, mas é preciso que se faça uma composição de imagem condizente com o contexto e conjuntura política, com as demandas e predileções ideológicas e políticas do eleitorado. É um trabalho contínuo, de formiguinha. Quem ainda não compreendeu isso e espera o horário gratuito para começar a disputa está fadado a ser extinto — avalia.

O Globo