Governador do ES terá que apoiar Lula na marra

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Foto: Edilson Dantas/O Globo

A disputa política no Espírito Santo será menos polarizada do que as eleições anteriores. Eleito no primeiro turno em 2018, com 55% dos votos, depois que o então governador Paulo Hartung (sem partido) desistiu de concorrer à reeleição, o governador Renato Casagrande (PSB) encontra agora um ambiente diferente, com adversários mais organizados e em maior número.

Neste cenário, a aliança nacional do PSB com o PT o impede de se desassociar do palanque do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), como chegou a tentar. O governador capixaba sempre manteve distância regulamentar do petismo.

Desde 2003, Hartung e Casagrande se revezam no cargo. Entre 2003 e 2010, o governador foi Hartung. Em 2011, entrou Casagrande. Em 2015, Hartung voltou para o terceiro mandato. Executivo de uma entidade patronal em São Paulo, Hartung não é mencionado como uma opção para o governo estadual.

Do Legislativo estadual, surge o projeto do presidente da Assembleia, Erick Musso (Republicanos), de 35 anos, para quem um ciclo da política capixaba se esgotou. Aos 30 anos, o deputado federal Felipe Rigoni (União Brasil), eleito ao primeiro mandato pelo PSB de Casagrande, vai na mesma linha.

Rigoni pretende galvanizar uma nova e ampla força política, mas tem como dever de casa a própria construção partidária. Há dez dias, Rigoni venceu a disputa pelo controle do União Brasil, sigla que terá o maior fundo eleitoral e tempo de TV para a campanha. Mas a vitória já provoca uma debandada de aliados da família Ferraço, preterida na queda de braço. A família é capitaneada pelo ex-senador e ex-vice-governador Ricardo Ferraço.

Embora PSB e PT tenham uma aliança nacional, no Espírito Santo a tendência é a divisão. O pré-candidato do PT é o senador Fabiano Contarato, recém-ingressado no partido. É outro que bate na tecla do ciclo que se encerra. “A eleição de 2018 já mostrou que o eleitor está cansado dos mesmos [políticos] e com os mesmos resultados”, diz o parlamentar, neófito na política que fez carreira como delegado da Polícia Civil e surpreendeu ao ser eleito há quatro anos.

Em dezembro, Contarato trocou o Rede Sustentabilidade pelo PT e lançou-se ao governo em fevereiro, uma semana após Casagrande receber o ex-juiz federal Sergio Moro, pré-candidato do Podemos à Presidência. A visita de um dos principais desafetos de Lula irritou o PT e teria precipitado o lançamento. O senador nega: “Foi coincidência”.

Eleito com uma megacoligação de 18 partidos, Casagrande diz que ainda confirmará se será candidato à reeleição – postura semelhante à que seu velho antagonista utilizou para o surpreender em 2014, quando Hartung entrou na disputa na undécima hora, lhe roubando aliados e margem de recuperação para se reeleger.

Sobre o discurso dos adversários, o governador rebate: “É natural que os candidatos que querem se colocar busquem uma narrativa. É legítimo. Mas quem vai dizer se o ciclo chegou ao fim ou não, se está cansado de Paulo Hartung ou de Renato Casagrande, ou do projeto que representamos, é o eleitor”, diz o governador.

Entre os presidenciáveis, além de Moro, Casagrande já recebeu o ex-ministro Ciro Gomes (PDT), os governadores de São Paulo, João Doria, e do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, ambos do PSDB, e o deputado federal André Janones (Avante), agradando aos múltiplos partidos que estão em sua base de governo.

Casagrande nega que esteja evitando a associação com Lula, para quem, afinal, o seu PSB fará campanha nacionalmente. “Na política hoje, qualquer um tem desgaste. Não é essa a avaliação. É porque tenho evitado antecipar o debate nacional para não contagiar o governo”, afirma.

Ele diz que prefere “fazer de tudo para fugir dessa polarização” entre Lula e o presidente Jair Bolsonaro e lembra que era defensor no PSB de um nome alternativo. Mas reconhece que o duelo está consolidado e que apoiará o petista. “Lógico. O PSB, coligado com o Lula, vai fazer a campanha do Lula. O PT vai fazer a campanha do Lula. Cada partido faz a campanha de seu candidato nacional”, diz.

Contarato, por sua vez, defende Lula com fervor e afirma ter mais legitimidade para ser o palanque do ex-presidente. “Tenho o maior prazer de receber o presidente Luiz Inácio Lula da Silva, falar e pedir voto para ele. Temos muito mais legitimidade para levantar e sustentar essa bandeira. Se o governador tiver essa propensão, deveria ter feito há um bom tempo e não ficar recebendo ou acenando para uma possível terceira, quarta, quinta, sexta via, como o ex-ministro Sergio Moro”, diz o senador, para quem Casagrande faz um “grande Centrão” e procura se desvincular do PT.

Nem Rigoni e nem Musso estão em partidos que já definiram apoio para algum presidenciável. O palanque de Bolsonaro no Estado é representado pelo ex-deputado federal Carlos Manato (PL). Ele acredita que, “se der tudo errado”, terá como piso os 27% de votos obtidos há quatro anos, quando ficou em segundo lugar. Manato argumenta que teve bom desempenho mesmo sem Bolsonaro visitar o Espírito Santo, devido ao atentado a faca. “Agora ele ficou de vir pelo menos duas vezes”, empolga-se. O candidato ao Senado do PL será o ex-senador Magno Malta, que perdeu a reeleição para Contarato e Marcos do Val (Podemos).

Quem também é cotado para concorrer à vaga única ao Senado é Paulo Hartung. O ex-governador está mais voltado ao plano nacional – no qual seria o plano C do PSD para a corrida presidencial. Mas muitos veem suas digitais na articulação de vários nomes a governador, ou “hartunguetes”. Entre eles estão o delegado da Polícia Federal Eugênio Ricas; o prefeito de Linhares Guerino Zanon (MDB); o ex-prefeito de Serra Audifax Barcelos (Rede); o secretário de Fazenda de Vitória, Aridelmo Teixeira (Novo); e o ex-vice-governador César Colnago.

“O Paulo Hartung sempre incentiva candidaturas para confundir o mercado e provocar um segundo turno”, afirma o consultor Fernando Carreiro.

Erick Musso nega que faça parte do grupo: “O ex-governador tem o meu respeito, admiração, mas ele tem o projeto dele e nós temos o nosso”. Procurado, Hartung não respondeu às perguntas do Valor.

Valor Econômico