Governo todinho quer demitir o presidente da Petrobras
Foto: Ruy Baron/Valor – 27/7/2018
Alvo de críticas públicas do presidente Jair Bolsonaro, o presidente da Petrobras, general da reserva Joaquim Silva e Luna, também tem tido seu desempenho na crise dos combustíveis questionado por colegas da caserna que fazem parte do governo. A avaliação de integrantes da ala militar do governo é que faltou a Silva e Luna, até o momento, “sensibilidade social” para lidar com o problema.
Embora Silva e Luna tenha esclarecido que não poderia ter adotado outro comportamento, pela responsabilidade com a empresa e com os acionistas em obediência à política de preços em vigor, o presidente Bolsonaro reclamou com vários auxiliares e outros interlocutores que o anúncio do reajuste de 18% na gasolina e quase 25% no diesel, poderia ter aguardado mais um ou dois dias, prazo do desfecho da votação do pacote de combustíveis no Congresso. Foram 57 dias sem nenhum aumento.
Ontem, Bolsonaro voltou à carga. Ele disse em uma entrevista à TV Ponta Negra, do Rio Grande do Norte, que na semana passada foi comunicado que a companhia aplicaria reajuste nos combustíveis e fez contato com a estatal sugerindo que a medida fosse adiada em um dia. Porém, reclamou, não foi atendido. Ele também não descartou mudanças no comando da Petrobras, que desde o início da guerra na Ucrânia viu suas ações ordinárias se desvalorizarem 6,95% e as preferenciais caírem 9,91%. Os cálculos foram feitos pelo Valor Data.
“Por um dia a Petrobras cometeu esse crime contra a população, esse aumento absurdo no preço dos combustíveis. Isso não é interferir na Petrobras, a ação governamental. É apenas bom senso. Poderiam esperar”, declarou.
Perguntado sobre a possibilidade de o governo propor um fundo de estabilização dos preços, em parte com recursos da estatal, o presidente disse que a medida já está desenhada e poderá ser utilizada em eventual novo reajuste. “Todo mundo no governo, ministros, secretários, diretores de estatais, pode ser substituídos se não estiver fazendo trabalho a contento. Não quer dizer que vai ser trocado ou não vai ser trocado”, acrescentou.
O presidente também tratou do assunto com apoiadores, dizendo que a Petrobras “não é aquilo que eu gostaria”.
Já a reclamação entre integrantes da ala militar do governo é que Silva e Luna também poderia fazer outros “acenos” que transmitissem alguma sensibilidade social por parte da Petrobras. Uma fonte deu exemplo do que poderia ter sido um desses gestos: renunciar a alguma parcela dos bônus devidos à diretoria pelo Programa Prêmio por Performance (PPP). Conforme divulgado, o presidente receberá cerca de R$ 1,4 milhão – o prêmio para toda a diretoria é estimado em cerca de R$ 13 milhões.
A mesma fonte acrescentou que Silva e Luna poderia ter a iniciativa de propor, ao menos, a discussão sobre eventual revisão da política de preços da estatal, ainda que temporariamente, na conjuntura de crise internacional. A proposta poderia não prosperar, mas seria um aceno à sociedade.
O vice-presidente Hamilton Mourão, que já defendeu publicamente a permanência de Silva e Luna no comando da Petrobras, também voltou a comentar o tema e disse que o mercado de petróleo começa a dar sinais de reequilíbrio. Para ele, houve “muita histeria” sobre o recente reajuste aplicado pela empresa, tendo em vista os impactos mundiais da pandemia e da guerra.
“O mercado começa a se reequilibrar. Bateu nos US$ 139 [o barril do petróleo], já está em US$ 99, US$ 98. É óbvio, essa flutuação, acredito que a Petrobras ela vai encaixar isso aí e vai haver uma redução”, disse o vice a jornalistas. “Uma realidade a gente tem que entender: o preço do combustível, fruto até da questão da transição energética que nós temos de viver, não vai voltar aos patamares que a gente gostaria. Não vamos mais, na minha visão, pagar R$ 4 por litro de gasolina, vai ser difícil isso acontecer”. De acordo com ele, por outro lado, seria possível que voltasse à casa de R$ 6 na bomba.
“Essa questão do preço do petróleo é muita histeria porque houve uma variação violenta no preço do petróleo. Fruto, primeiro, da questão da pandemia, do retorno da atividade econômica, e, posteriormente, desse conflito absurdo lá na Rússia, na Ucrânia”, acrescentou. “Pode baixar aí, voltar para meia dúzia [R$ 6]. Mas vamos lembrar que uns dois ou três anos atrás estávamos pagando R$ 4,50, R$ 4,60”, disse o vice.
Hamilton Mourão apontou ainda o que considera uma “cartelização”” no setor, o que, para ele, precisaria ser enfrentado por órgãos de defesa do consumidor junto aos postos.