Inflação pode explodir neste ano

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Foto: Brenno Carvalho / Agência O Globo

O cenário é de mais inflação. As pressões vêm de todos os lados. A inflação de fevereiro em 1,01% não tem ainda o impacto da guerra. Como tenho dito aqui, essa é uma guerra que chega no posto de gasolina, na padaria no supermercado. E já está chegando.

O número de hoje veio dentro das previsões do mercado. Com essa forte alta, a taxa em 12 meses permaneceu em dois dígitos, em 10,54%. Quando mais tempo a taxa ficar nesse patamar, maior será a indexação, com reajustes se espalhando por outros setores da economia, como aluguéis e salários.

No mês, segundo o IBGE, todos os grupos pesquisados tiveram alta, mostrando uma inflação espalhada. O grupo que mais pesou foi o da educação, que tem reajustes nesta época do ano, seguido por alimentação e bebidas, e transportes.

Olhando para frente, o impacto do aumento dos combustíveis será mais inflação e mais juros. Quanto? Os analistas fazem contas diferentes, mas os mais pessimistas trabalhavam com 6% de inflação para o ano. Agora estão falando em 8% e muito poderá acontecer nos próximos meses. O alívio que viria nos preços este ano está sumindo.

O aumento de 18,77% da gasolina e de 24,9% – por que não dizer 19% e 25%? – é violento. Um dos mais fortes dos últimos tempos provando que segurar preços não adianta, quando vem, vem de amargar. Atinge o consumidor violentamente e não resolve por completo o problema da Petrobras.

A Petrobras atua em um mercado híbrido. Ela é dominante, mas não é mais monopolista. Tentou segurar os preços por 57 dias, mas o risco que o país enfrentava era de desabastecimento, porque hoje há uma refinaria privada e há importadores independentes de combustíveis. Portanto, se a Petrobras mantivesse o preço artificial, o importador não importaria e ficaria faltando no mercado. A refinaria privada que havia aumentado os preços em 35% já não encontrava comprador. As distorções estavam se acumulando, porque a Petrobras já estava segurando preços quando veio a guerra. Reajustou quando o petróleo estava a US$ 80 dólares e já hoje oscila em torno de US$ 110.

Preço de combustível bate em todos os outros preços, portanto, alimentos em geral vão subir. Vai subir material de limpeza ligada diretamente ao petróleo. E está subindo todos os produtos derivados do trigo. O governo se preocupa com o combustível porque ele é que tem o maior potencial de afetar Bolsonaro eleitoralmente.

O PT, curiosamente, é que fez o caminho que pode dar algum alívio, ao propor, relatar e defender a criação da Conta de Estabilização de Preços, o auxílio-gasolina, a possibilidade de mudança do ICMS, que já foi aprovada nesta madrugada também na Câmara e agora vai a sanção presidencial.

Nada disso, no entanto, terá efeito imediato. Mas Bolsonaro comemorou a aprovação porque poderá dizer que está agindo.

O Globo