Malafaia, Feliciano e outros rifaram o pastor que dirige o MEC

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Foto: Evaristo Sá/AFP/04-02-2022

Desde que surgiram as notícias sobre o lobby de dois pastores da Assembleia de Deus no Ministério da Educação, a bancada evangélica e líderes das principais igrejas brasileiras não saíram em defesa de Milton Ribeiro e o deixaram abandonado no debate público.

As rusgas entre o ministro e os dois principais interlocutores do presidente Jair Bolsonaro no segmento, o pastor Silas Malafaia, líder da Assembleia de Deus Vitória em Cristo, e o deputado federal Marco Feliciano (PL-SP), explicam a postura dos líderes de se afastar dos escândalos.

Em abril do ano passado, Ribeiro irritou Feliciano, quando ignorou a demanda do parlamentar pela demissão da presidente da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes). Feliciano foi para as redes sociais na ocasião dizer que a nomeação de Claudia Mansani Queda de Toledo significava alçar a um posto importante na Educação alguém que defendia “valores ligados à esquerda, como o método de ensino desenvolvido pelo educador Paulo Freire”.

Por não ser atendido por Ribeiro, Feliciano colocou o cargo de vice-líder no Congresso à disposição de Bolsonaro. A crise subiu de patamar quando o deputado e o ministro trocaram ofensas em conversa telefônica. Logo depois, Ribeiro passou a compartilhar na sua lista de contatos vídeos antigos dos tempos em que Feliciano apoiava a ex-presidente Dilma Rousseff.

No caso de Malafaia, a insatisfação com Ribeiro é anterior à sua nomeação. O líder da Assembleia de Deus desejava nomear para o cargo em agosto de 2020 o reitor do Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), Anderson Corrêa. Na primeira metade do mandato de Jair Bolsonaro, Malafaia ainda não gozava de tanto prestígio junto ao Planalto – no mesmo ano, por exemplo, o pastor não conseguiu emplacar um ministro evangélico no Supremo Tribunal Federal e teve que engolir a indicação de Kassio Nunes Marques para o lugar de Celso de Mello.

Desde a posse, Bolsonaro nunca entregou as chaves do MEC para Feliciano ou Malafaia e preferiu travar a “guerra cultural” na pasta com os chamados olavistas (primeiro com Ricardo Vélez Rodriguez e, depois, com Abraham Weintraub). E Olavo de Carvalho, ex-guru do bolsonarismo, já detonou ambos em vários momentos – chamou Feliciano de “burro” certa vez e já provocou Malafaia nas redes por ter apoiado Lula na eleição de 2002.

Ao tirar o ministério da órbita de Olavo e entregar para os evangélicos, Bolsonaro seguiu sem ouvir seus principais conselheiros no segmento. Privilegiou uma sugestão do ex-AGU e agora ministro do Supremo Tribunal Federal, o presbiteriano André Mendonça. Em conversas com interlocutores, Malafaia sempre se incomodou com o excesso de espaço dado na administração federal para igrejas históricas como a presbiteriana em detrimento de denominações pentecostais como a Assembleia de Deus. Em abril do ano passado, O GLOBO revelou que o atual presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Sóstenes Cavalcante, afilhado político de Malafaia, reclamou com o Planalto por ser preterido na indicação de cargos e pela falta de prioridade orçamentária dada para as comunidades terapêuticas, agenda relevante do seu mandato parlamentar.

Ribeiro não tem sequer o apoio do Centrão no Congresso, que ontem teve o seu representante-mor, o presidente da Câmara, Arthur Lira, cobrando explicações. Resta ao ministro da Educação se segurar no bom relacionamento com a família Bolsonaro (ontem, em declaração para a colunista Bela Megale, o senador Flávio disse que Ribeiro será o comandante da pasta em um segundo mandato do pai).

Além disso, os três anos de Bolsonaro no poder já demonstraram que o presidente sempre se incomoda toda vez que há alguma pressão externa para a troca de algum ministro, o que começou a acontecer na noite de ontem com a frase do vice-presidente da Frente Parlamentar Evangélica, Luis Miranda. “Já temos novo ministro da Educação?”.

O Globo