Mercado financeiro não crê que Bolsonaro pare farra dos acionistas da Petrobras

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Foto: Fernando Frazão/Agência Brasil

A mudança na presidência da Petrobras é um aceno do presidente Jair Bolsonaro à população de que está buscando uma solução para o aumento dos combustíveis, mas, na prática, a política de preços da companhia deve seguir inalterada, afirmaram analistas ouvidos pelo Valor.

Na tarde de ontem, o Ministério de Minas e Energia confirmou a indicação do fundador do Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE) e especialista em energia, Adriano Pires, para a presidência da estatal. A troca ocorre depois de críticas de Bolsonaro à condução do general da reserva Joaquim Silva e Luna à frente da companhia.

Analistas apontam que Pires é um nome ligado ao mercado e que provavelmente dará continuidade à atual política de preços da estatal, em linha com os preços internacionais. “Para o acionista da Petrobras, nada vai mudar. Uma excelente escolha do ponto de vista de negócios, Pires é a favor do fim do monopólio da Petrobras no refino, que é exatamente a estratégia que a companhia tem hoje”, afirmou um analista de um grande banco. Segundo ele, com a confirmação de Pires, as ações da estatal devem subir amanhã.

Para Edmar Almeida, professor do Instituto de Energia da PUC-Rio, Pires conhece bem o mercado de derivados e entra na Petrobras no momento em que há uma forte pressão decorrente dos efeitos da guerra entre Rússia e Ucrânia sobre os combustíveis, notadamente do gás natural e o diesel. Mas Almeida não deixa de frisar que a nomeação de Pires para o comando da estatal é surpreendente, uma vez que o executivo sempre defendeu a paridade de preços.

“É surpreendente que o general Silva e Luna tenha sido substituído pelo Adriano [Pires], porque o Adriano defende as políticas que o general vem implementando na Petrobras. E o governo sabe disso”, afirma Almeida. “Tudo indica que havia um problema com relação à política de preços. Se a intenção é controlar a Petrobras, não é o Adriano que fará esse papel. Seria contraditório com a trajetória dele no setor de energia”, acrescenta.

Pires é próximo ao ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, com quem se encontrava com frequência, segundo fontes. Apesar de ser um nome ligado ao mercado, especialistas apontam que ele não tem experiência no comando de uma grande empresa, como a Petrobras.

Além disso, alguns analistas apontaram que pode haver conflito de interesses na indicação, dado que o CBIE presta consultoria a concorrentes da Petrobras. Por isso, poucos minutos antes da confirmação da indicação de Pires para o cargo, um analista ouvido sob anonimato duvidada que o executivo aceitasse o convite, dado que ele teria que se desvincular do CBIE para permanecer na Petrobras somente até o fim do ano, a depender do resultado das eleições presidenciais em outubro.

“Essa é apenas mais uma tentativa do governo de dizer que não pode intervir na Petrobras e que o máximo que pode fazer é trocar a presidência da companhia. Na prática, não vai mudar nada [na política de preços], pois o presidente da Petrobras sozinho não faz nada em relação a isso”, afirmou outro analista, que lembrou que Pires será o 40º presidente da estatal em 68 anos de história.

De acordo com o analista da Ativa Investimentos, Ilan Arbetman, o novo presidente da Petrobras deve manter a atual política de preços da companhia, ao mesmo tempo em que levantará debates sobre novas políticas públicas para o tema. “Não vejo espaço para que a política de paridade com os preços internacionais seja alterada completamente. Vejo uma urgência do presidente da República em mexer na pauta e mudar a percepção que o eleitorado tem sobre a questão dos preços de derivados no Brasil. Possivelmente, pode-se discutir a utilização de dividendos para alguma solução, que não altere a forma como a companhia gere os fluxos de caixa e que não mexa na paridade de preços”, disse Arbetman.

As críticas do presidente Jair Bolsonaro ao atual presidente da Petrobras se intensificaram depois do dia 10 de março, quando a companhia anunciou um reajuste de 18,7% para gasolina e 24,9% para diesel, como reflexo da alta do preço do barril de petróleo no mercado internacional com a guerra na Ucrânia.

Valor Econômico