Militares pressionam Bolsonaro a manter presidente da Petrobras no cargo

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Foto: Pedro Ladeira/Folhapress

Militares das mais altas patentes se juntaram para conter as articulações políticas pela retirada do general Joaquim Silva e Luna da presidência da Petrobras.

A movimentação defensiva surgiu no final de semana após filhos do presidente Jair Bolsonaro (PL) publicarem críticas contra a gestão do general em suas redes sociais.

Liderados pelo vice-presidente da República, general Hamilton Mourão, os militares se articularam para convencer Bolsonaro de que não há nada de errado na política de preços da Petrobras.

O grupo alega que, a partir de agora, as medidas aprovadas no Congresso serão suficientes para aparar as arestas entre a empresa, que defende os acionistas, e o governo, que detém o controle acionário.

A tendência, na avaliação dessa ala, é a de que os preços caiam não só com a redução do ICMS, como pela baixa na cotação do petróleo devido a um possível arrefecimento na guerra entre Rússia e Ucrânia.

Após quase dois meses sem fazer reajustes e às vésperas de mudanças drásticas na tributação de combustíveis, a Petrobras anunciou um reajuste de 19% sobre a gasolina nas refinarias e de 25% no diesel. Em postos de locais mais afastados do país, como no Acre, o litro da gasolina chegou a R$ 11.

Na semana passada, em reuniões privadas, Bolsonaro demonstrou contrariedade com a atitude da Petrobras.

O presidente queria ter o projeto de redução e uniformização do ICMS aprovado pelo Congresso antes do reajuste nas bombas. Se tivesse sido dessa forma, Bolsonaro teria apresentado uma solução imediata ao problema.

Assim, o presidente, que pretende disputar a reeleição, reduziria os danos em sua popularidade com o eleitorado.

Na Economia, assessores do ministro Paulo Guedes confirmaram o “jogo combinado”. A estratégia, no entanto, saiu do controle porque a Petrobras anunciou o reajuste antes do resultado final da votação do projeto de lei do ICMS no Congresso.

O general Silva e Luna, por sua vez, não demonstra constrangimento e afirmou à Reuters nesta segunda (14) que não deixará o cargo.

“Sou soldado. O campo de batalha é a minha zona de conforto. Não fujo do campo de batalha, abandonando a minha tropa. Não há crise”, disse.

Mesmo reservadamente o general tem indicado que não pedirá demissão.

Luna foi escolhido como presidente da Petrobras no ano passado, depois de uma operação similar à atual e que levou à saída do economista Roberto Castello Branco, nome ligado a Guedes.

Naquele momento, o desgaste também foi causado por reajustes de preços de combustíveis seguindo a política de repasse praticamente integral da cotação do petróleo. Desta vez, a Petrobras vinha contingenciando os repasses, o que gerou uma defasagem de cerca de 30% na gasolina e 40% no diesel.

Essa diferença levou a uma redução temporária de receita com impacto sobre o resultado da companhia. Acionistas da empresa fizeram chegar ao Palácio do Planalto alertas de que poderiam recorrer à Justiça para que essas perdas fossem cobertas pela União –algo previsto no estatuto da empresa.

A pandemia e a guerra na Ucrânia fizeram os preços do barril de petróleo dispararem, atingindo R$ 140 o barril, pressionando a Petrobras para fazer mais reajustes —que vinham sendo segurados.

Os combustíveis são um dos itens que mais pesam no cálculo da inflação medida pelo IPCA. Economistas já calculam que o teto da meta (5%) deve ser estourado novamente neste ano.

Após o reajuste anunciado pela Petrobras na semana passada, analistas de mercado ouvidos pelo Banco Central elevaram suas estimativas de inflação para acima dos 6%.

Com a alta do petróleo, muitos importadores deixaram de abastecer centros importantes do país, especialmente Norte e Nordeste, forçando a Petrobras a importar mais para atender essas regiões.

Silva e Luna chegou a afirmar que, sem o reajuste, para tornar essas operações locais rentáveis, haveria risco de desabastecimento.

No entanto, durante o fim de semana, políticos ligados ao ministro Ciro Nogueira (PP-PI), viram uma brecha para pressionar o Planalto pela troca do general como forma de ganhar mais espaço de controle no setor de energia, petróleo e gás.

Essa ala trava uma disputa com o ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque, por indicações em empresas e agências reguladoras do setor.

Líder nas pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Lula aproveitou o tema para atacar Bolsonaro nas redes sociais, o que deu mais força para o movimento interno no Planalto contra Silva e Luna.

Atento a esses movimentos, Mourão começou a se articular com outros generais para conter essa artilharia.

Liderados pelo vice-presidente, militares se mobilizaram para convencer a ala mais próxima de Bolsonaro a não colocar Rodolfo Landim no lugar de Silva e Luna.

Landim, presidente do Flamengo, vai assumir uma cadeira no conselho da estatal. Nos bastidores, assessores do presidente comentam que Landim renunciaria à presidência do conselho caso fosse escolhido para ocupar o comando da companhia.

Sua nomeação para o colegiado é vista dentro da empresa como um passo para facilitar eventual troca no comando da estatal, já que o presidente da companhia deve ser primeiro eleito para o conselho.

Assim, o governo evitaria a necessidade de manter um interino enquanto os prazos legais para a eleição de um novo conselheiro de administração são respeitados.

Nesta segunda-feira (14), Mourão afirmou que o general Silva e Luna, da Petrobras, aguenta a pressão, “como bom nordestino”.

“Silva e Luna é resiliente, sempre foi. Como bom nordestino, aguenta pressão.” O general é pernambucano.

Consultado, no entanto, Mourão negou integrar esse movimento de apoio ao presidente da Petrobras.

Folha