Moro fala em ‘clamor popular’ em seu favor

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Foto: Podemos

Sem avançar nas pesquisas desde novembro, quando se filiou ao Podemos e começou a pré-campanha à Presidência, o ex-juiz e ex-ministro Sergio Moro afirmou ontem, no Rio, que o crescimento de uma alternativa à polarização entre o presidente Jair Bolsonaro e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) deve vir pela pressão da sociedade, já que para a classe política a diferença entre um e outro seria apenas a de “atravessar a rua”.

“Essa terceira via tem que vir da pressão da sociedade e da população”, disse Moro, durante palestra na Associação Comercial do Rio de Janeiro. O ex-juiz respondia a pergunta feita por um dos presentes ao almoço, que o questionou se abriria mão da pré-candidatura, caso as pesquisas o mostrem atrás de outros presidenciáveis da terceira via, nos próximos meses.

Apesar do apelo à sociedade, Moro não protagonizou palestra das mais concorridas, mesmo diante de um potencial público de empresários receptivos às suas ideias a favor de reformas econômicas, privatizações e de cunho liberal. O ex-juiz que fez fama na Operação Lava-Jato foi ouvido por uma plateia de menos de cem pessoas distribuídas em dez mesas, além da dele próprio – onde era acompanhado, entre outros, pela mulher Rosângela e pelo ex-ministro Carlos Alberto dos Santos Cruz, também demitido do governo por Bolsonaro – e duas mesas reservadas à imprensa.

“Não posso renunciar à minha pré-candidatura para alguém que tenha 1% ou 2%”, diz Moro, sem citar Doria ou Simone
Moro relatou ter tido, na véspera, uma conversa com o presidente nacional do União Brasil, deputado federal Luciano Bivar (PE), e outra, na semana passada, com a senadora e pré-candidata do MDB Simone Tebet (MS). “Tenho falado com outros expoentes que podem construir essa proposta. Existe um movimento no mundo político para a construção de uma única candidatura”, disse.

O grupo que tenta representar a terceira via é formado ainda pelo governador de São Paulo, João Doria, que venceu as prévias para ser o candidato do PSDB à Presidência, e o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, que perdeu a disputa interna, mas renunciará ao cargo amanhã para se manter como alternativa.

Depois de jantar com Bivar, Moro postou mensagem no Twitter elogiano o dirigente e o apontou como alternativa do bloco, até mesmo para encabeçar a chapa. “Bivar seria um ótimo vice-presidente ou cabeça de chapa. Estaremos juntos de 2022 a 2026, pelo menos”, afirmou o ex-juiz.

“Se as pesquisas apontarem um candidato mais competitivo do que eu, não tenho nenhum problema [em abrir mão] () Agora, não posso renunciar à minha pré-candidatura para alguém que tenha 1% ou 2% nas pesquisas quando a gente tem lá 10%, 9%, 8%, a depender da pesquisa, e também taxas de rejeições menores”, disse.

Isolado até mesmo dentro do Podemos, Moro pôs em prática uma nova tentativa de aproximação com os políticos da chamada terceira via. O grupo, porém, demonstra resistência, mesmo que o ex-juiz seja o que melhor pontua nas pesquisas entre os candidatos do bloco.

Os outros postulantes defendem que o critério para a escolha não pode se basear apenas no índice de intenção de votos, mas sim em um conjunto de regras que ainda precisa ser definido e serão debatidas a partir de abril. Quem entrar no grupo deverá aceitá-las e, caso não seja o escolhido, retirar a candidatura e apoiar o nome ungido pelos demais.

Apesar da aproximação tentada por Moro, as reuniões entre MDB, PSDB e União Brasil têm mantido o Podemos de fora. O discurso é de que, para participar, ele precisa estar disposto a abrir mão da candidatura em prol dos demais – e, dentro do grupo, seu nome é um dos que mais enfrentam resistências da classe política e dos candidatos do Nordeste.

Moro, no entanto, continua se colocando como escolha natural do grupo. Ontem, após participar de evento no Rio de Janeiro, ele disse que não poderia abrir mão da sua candidatura para alguém que tem 1% ou 2% nas pesquisas. Segundo levantamento divulgado pelo Datafolha semana passada, ele tem 8% das intenções de voto, enquanto Doria marca 2% e Tebet e Leite têm apenas 1%.

Nas últimas semanas, até aliados do Podemos começaram a pôr em dúvida a viabilidade da candidatura de Moro. Um parlamentar próximo ao ex-juiz reconhece que ele está estacionado nas pesquisas desde novembro, quando se filiou ao partido, e que não seria viável lançá-lo na disputa presidencial sem o apoio de outros partidos.

Ele lembra que o Podemos é uma legenda pequena, que tem como objetivo, nas eleições de outubro, fazer uma boa bancada de deputados federais, e que por isso a campanha presidencial teria poucos recursos financeiros. Também aponta que a sigla tem pouco tempo na televisão, e que, por isso, a aliança com outros partidos maiores seria essencial.

A própria presidente do Podemos, deputada Renata Abreu (SP), admite que deixou o ex-juiz de lado nas últimas semanas para negociar filiações ao seu partido. Ela, no entanto, disse que vai retomar as articulações da campanha presidencial em abril, após o fim do período da janela partidária.

De toda maneira, não passou despercebido na classe política que Moro, ao invés de tentar participar das articulações para atrair novos parlamentares para a legenda e negociar a construção de palanques competitivos nos Estados, embarcou em uma viagem internacional para a Alemanha na fase crítica para essas definições. No período, possíveis candidatos do seu grupo, como o prefeito de Balneário Camburiú (SC), Fabrício Oliveira, desistiram de concorrer, o deixando sem palanque no Estado.

Valor Econômico