No litoral Paulista, Bolsonaro sente aumento da rejeição
O presidente Jair Bolsonaro (PL) encarou na passagem de cinco dias pelo Forte dos Andradas, em Guarujá (SP), durante o feriado de Carnaval, uma rotina quase inédita desde a primeira visita ao local, em abril de 2019.
Em sua décima vez hospedado no hotel de trânsito da fortificação, além das tradicionais manifestações de apoio, houve algumas de rejeição atípicas em visitas anteriores. O político deixou o litoral paulista no fim da tarde desta quarta-feira (2), de helicóptero, rumo a Brasília.
Pouco antes, pelo segundo dia seguido, ao sair de jet-ski para um passeio pelas praias do Tombo, Astúrias e Pitangueiras ouviu palavras hostis, além de ser exaltado por apoiadores.
Um homem chegou a ir em direção a Bolsonaro no mar gritando “Vai trabalhar, vagabundo”. Ele foi contido por apoiadores, que responderam: “Vagabundo é você”.
Ajudado por um de seus assessores especiais, o tenente Mosart Aragão, Bolsonaro deixou a praia instantes depois.
A cena foi semelhante à vivenciada por ele em Praia Grande, município vizinho, um dia antes. Na faixa de areia, além dos gritos de “mito” e cumprimentos amistosos, alguns críticos receberam Bolsonaro com palavras ofensivas e vaias. Os registros estão nas redes sociais.
A rota de fuga com Aragão já havia se repetido também em Santos e, principalmente, em Praia Grande. Nas visitas anteriores, eram raros os gritos ou provocações contrárias direcionadas a ele.
Próximo ao Natal, quando passou pelo município antes da ida para o litoral de Santa Catarina, uma provocação pontual enquanto fazia selfies e conversava com apoiadores causou estranheza.
Um homem que passava no local dirigiu gritos provocativos: “É Lula, Bolsonaro. Já era. Lula disparou”, em alusão a pesquisa divulgada pelo Datafolha. Uma das apoiadoras rebateu com xingamentos. Bolsonaro só sorriu.
Desta vez, enquanto algumas pessoas receberam o político aos gritos de “mito” e “fora, PT”, outras vaiaram e aproveitaram a passagem do presidente para criticá-lo com palavras como “genocida”, “vagabundo”, “a favor da Rússia”, “vai trabalhar” e “fora, Bolsonaro”.
Em Praia Grande, um dos presentes se aproximou do grupo de apoiadores gritando palavras como “genocida” e “lixo” direcionadas a Bolsonaro. O fato quase desencadeou uma briga com apoiadores.
Novamente, Bolsonaro foi afastado do local e descumpriu a rotina de conversar com apoiadores nos gradis preparados previamente por sua segurança sempre que visita a Fortaleza de Itaipu.
Pouco depois do ocorrido foi possível ver Aragão e Bolsonaro conversando mais afastados. Mesmo depois de imagens de emissoras de televisão circularem os xingamentos e o princípio de confusão, o assessor preferiu chamar de “fake news” o ocorrido.
Aragão também fez seguidas publicações com provocações às pesquisas dizendo que a verdadeira popularidade de Bolsonaro poderia ser medida pelos vídeos que publica nas redes sociais, também feito de forma constante pelo deputado federal Helio Lopes (PSL-RJ) e Max Guilherme, outro assessor especial.
O assessor, por muitas vezes, utilizou músicas de fundo tapando o som ambiente ou só publicando trechos curtos de cada ida às praias da região. Outros vídeos circulam nas redes com manifestações contrárias.
Logo nas primeiras visitas, Bolsonaro arrastava inúmeros apoiadores aos gradis preparados na proximidade da entrada principal do Forte dos Andradas. Eram comuns os cercadinhos lotados para recepcioná-lo com pessoas vestidas de verde amarelo ouvindo o funk “Proibidão do Bolsonaro”, paródia feita pelo MC Reaça da música “Baile de Favela”, de MC João.
Nas últimas visitas, porém, o cenário mudou: não são mais frequentes as aparições de apoiadores no local. Nesta passagem, o político parou apenas uma vez, na segunda (28), pouco antes de sair para um longo passeio de moto acompanhado de sua comitiva.
Os principais gritos contrários a Bolsonaro foram relacionados ao período de folga em meio à guerra na Ucrânia. Em entrevista à Jovem Pan, o político reclamou dos questionamentos a respeito do gasto com dinheiro público em viagens suas e de auxiliares do governo.
“Eu estou aqui num quarto no quartel do Exército no Guarujá. Não tem despesa nenhuma aqui. Quanto custa a diária desse quarto aqui? Cem reais, talvez. Eu estou chutando”, disse na entrevista.
Ele ainda concedeu uma inédita entrevista coletiva a jornalistas nas dependências do forte onde disse ter conversado “há pouco” com o presidente russo Vladimir Putin por duas horas. Depois, afirmou em rede social que se referia à conversa presencial quando da sua visita ao Kremlin, no último dia 16.
No período, o político se deslocou principalmente de jet-ski pelas praias da região. Além disso, andou de moto, comeu pastel na rua, utilizou a travessia de balsa entre Santos e Guarujá e conversou com apoiadores provocando grandes aglomerações. O roteiro foi semelhante ao de visitas anteriores.
O presidente disse que deve voltar à região no dia 11, com o ministro Tarcísio Freitas (Infraestrutura) para falar sobre túnel entre Santos e Guarujá. Também afirmou que pretende passar a Páscoa novamente na cidade.
Folha de SP