PF pede ajuda ao exterior para investigar Bolsonaro
A delegada da Polícia Federal (PF) responsável por um inquérito que investiga o presidente Jair Bolsonaro quer a ajuda das autoridades sanitárias do Reino Unido e dos Estados Unidos para auxiliar nas apurações. Ela vai apurar as declarações de Bolsonaro em “live” realizada em 21 de outubro do ano passado, na qual o presidente apontou uma ligação entre a vacinação contra a Covid-19 e o desenvolvimento da Aids, o que não é verdade.
Em documento enviado ao Supremo Tribunal Federal (STF), a delegada Lorena Lima Nascimento disse que foi expedido um ofício à Coordenação-Geral de Cooperação Internacional da PF pedindo duas providências. A primeira delas é procurar o Departamento de Saúde e Assistência Social do Reino Unido para responder se teriam sido divulgadas em sites oficiais do país, conforme chegou a dizer Bolsonaro, a informação de que “os totalmente vacinados […] estão desenvolvendo a síndrome de imunodeficiência adquirida muito mais rápido do que o previsto”.
Ela também quer que seja procurado o Instituto Nacional de Alergia e Doenças Infecciosas – NIAID, dos Estados Unidos. O objetivo é “saber se existe alguma publicação de profissionais que compõem o instituto, em especial do médico imunologista Anthony Fauci do NIAID, concluindo que a maioria das mortes da gripe espanhola tenham acontecido devido a uma pneumonia bacteriana secundária, e que a proliferação essa bactéria esteja associada ao uso de máscaras”. Essa declaração também foi dada por Bolsonaro durante a transmissão ao vivo.
Como medidas iniciais da investigação, a Polícia Federal também vai transcrever o inteiro teor da transmissão ao vivo. Vai ainda identificar e pesquisar a confiabilidade dos sites que serviram de base para as informações replicadas por Bolsonaro, ou seja, “se existem relatos em outras fontes de informação sobre tais sítios serem conhecidos por transmitirem informações verdadeiras ou fake news”. A delegada também pediu ao ministro Alexandre de Moraes, relator do inquérito no STF, o compartilhamento de uma investigação preliminar sobre o assunto conduzida pela PGR.
Não há dúvidas de que as condutas noticiadas do Presidente da República, no sentido de propagação de notícias fraudulentas acerca da vacinação contra o Covid-19 utilizam-se do modus operandi de esquemas de divulgação em massa nas redes sociais, revelando-se imprescindível a adoção de medidas que elucidem os fatos investigados, especialmente diante da existência de uma organização criminosa – identificada no Inquérito 4.781/DF (que justificou a distribuição por prevenção desta Pet) e no Inquérito 4.874/DF”, diz trecho da decisão de Moraes, citando os inquéritos também relatados por ele que apuram ataques ao STF e atos antidemocráticos.
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Em manifestação enviada ao STF em 2021, Bolsonaro argumentou que a CPI estaria usurpando atribuições do Ministério Público. Também no ano passado, a Procuradoria-Geral da República (PGR) se manifestou de forma parecida. Moraes, por outro lado, destacou que a CPI pode sim pedir a abertura de inquérito. O Ministério Público, do qual a PGR faz parte, tem exclusividade para conduzir a ação penal, que é uma etapa mais avançado do processo.
O Globo