Sob o flagelo Bolsonaro, parte do PSOL escolhe Lula como alvo

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Foto: Ricardo Stuckert/Instituto Lula

O Partido Socialismo e Liberdade rachou. Um pedaço do Psol, organização que aglutina parte das forças de esquerda, planeja impedir a aliança com o Partido dos Trabalhadores.

A rebelião tem alvo: Lula. Ele é classificado, em manifesto, como “inimigo histórico das classes subalternas, destacado agente político do grande capital e do imperialismo.”

Com uma bancada de nove deputados federais, o Psol está sob ameaça de desidratação. Há temor de que aliado a Lula, o partido perca identidade, definhe nas urnas ou acabe convertido num “puxadinho” do PT.

A divisão resultou numa situação embaraçosa, por exemplo, para o líder do partido em São Paulo, Guilherme Boulos. Aliado de Lula, semana passada ele preferiu desistir da candidatura ao governo paulista e concorrer a uma vaga na Câmara dos Deputados.

A oposição interna é impulsionada por personagens relevantes na fundação do Psol, entre eles um rebelde de 83 anos — o ex-deputado federal petista Milton Temer, um dos primeiros dissidentes do governo Lula. Gravita em torno da ideia de uma candidatura presidencial própria, a do deputado Glauber Braga (RJ), casado com a líder da bancada do Psol na Câmara, Sâmia Bomfim (SP).

Os divergentes mantêm uma visão peculiar da campanha presidencial: “Sem um programa alternativo em disputa, as eleições de 2022 deixam o eleitor diante de alternativas tacanhas: escolher entre a dose máxima — Bolsonaro — e a dose mínima do veneno — Lula.” Nessa perspectiva, consideram Lula e Bolsonaro “inextrincavelmente associados.”

Argumentam: “Ambos constituem faces opostas da crise terminal da Nova República. Nenhum dos dois é capaz de dar-lhe uma solução real. Seria uma ingenuidade imaginar que alguém atolado no pântano pudesse se salvar puxando-se pelo próprio cabelo (…) O PT aproveita a situação para canalizar toda a insatisfação popular para as eleições; a extrema direita, para minar a fé nas eleições e alimentar uma solução despótica para o impasse político.”

“Ao longo de sua história”— acrescentam —, “Lula cumpriu papeis muito diferentes na luta de classes. O Lula romântico de 1989, embalado pelos ventos fortes das greves do ABC e da campanha das Diretas Já, portador de uma esperança genuína de reformismo social, está muito distante do Lula pragmático de 2002, que surfou no boom de commodities internacionais, sem jamais ultrapassar os limites de um pálido social-liberalismo. O escaldado Lula de 2022, fiador do acordo burguês para institucionalizar o novo regime, que assumirá um país em frangalhos, está comprometido até a alma com a estabilização de uma República Nova, rigorosamente neoliberal, que se pretende construir dos escombros da Nova República.”

Estão certos de que Lula “governará com e para o grande capital”, porque “a estratégia de impostura à esquerda e usurpação à direita, que fez o PT ocupar praticamente todos os espectros do circuito político, transformou Lula no alfa e ômega da política brasileira — o político-síntese do embuste que encarna todas as contradições do sistema político brasileiro.”

Se dizem surpreendidos com as negociações iniciadas pela cúpula do Psol com o PT “em torno de um apoio imediato à chapa Lula-Alckmin”, e, também, como os entendimentos para a formação de uma federação partidária com a Rede de Marina Silva — “um partido assumidamente burguês, financiado pela família Setúbal do Banco Itaú.”

O Partido Socialismo e Liberdade nasceu no inverno de 2004 em oposição ao governo Lula. Vai completar 18 anos em junho rachado por causa da candidatura de Lula.

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