Surge prova de relação imprópria do ministro da Educação
Publicações nas redes sociais de um prefeito recém saído da cadeia contrariam o álibi do ministro da Educação, Milton Ribeiro, para justificar a manutenção de encontros com o pastor Arilton Moura, mesmo depois de encaminhar à Controladoria-Geral da União (CGU) denúncia contra Moura de supostas cobranças de propina na intermediação de verbas.
Na semana passada, o ministro disse em entrevistas que tinha informado à CGU, em agosto, sobre “conversas estranhas”. Ribeiro afirmou que, após encaminhar as denúncias, só manteve os encontros com o pastor para não levantar suspeitas. Em entrevista à CNN Brasil, Ribeiro alegou, no entanto, que “não aceitou nenhum tipo de agenda fora do MEC”.
As imagens publicadas pelo prefeito de Centro Novo do Maranhão, Junior Garimpeiro (Progressistas), desmentem essa versão. Cinco dias depois de sair da prisão sob suspeita de integrar uma organização criminosa armada que atua no garimpo ilegal de ouro, Junior Garimpeiro foi recebido pelo ministro num jantar reservado. Quem promoveu o encontro num apartamento de Brasília, em dezembro de 2021, foi o pastor Arilton, com quem o ministro estreitou os laços.
Como revelou o Estadão, o pastor pedia propina, até mesmo em barra de ouro, para liberar dinheiro na pasta. Junior Garimpeiro e o pastor ainda se reuniram com o ministro em setembro, na adega de um hotel de luxo, em São Luís. Nas duas ocasiões, registradas nas redes sociais por Garimpeiro, o religioso já estava sob suspeita de atuação indevida.
“Jantamos com o ministro, e dialogamos mais uma vez sobre pautas que são direcionadas para a construção da nova Educação de Centro Novo”, escreveu o prefeito em seu perfil no Instagram. Segundo o deputado federal licenciado Márcio Jerry (PCdoB-MA), na ocasião, Garimpeiro presenteou o ministro com um bracelete de ouro, a exemplo do que ostenta. Desde que assumiu, o prefeito decidiu que a cor amarela – sua preferida – devia estar nos prédios públicos da cidade. E assim ele o fez.
Prisão
Cinco dias antes do jantar reservado com o ministro, o prefeito estava preso, acusado de extração e venda ilegal de ouro. A PF apontou a existência de “uma organização criminosa armada com grande poderio econômico e político e com atuação na região de Centro Novo” por ao menos três anos. Segundo a investigação, os alvos foram os responsáveis pelo desmatamento ilegal de mais de 60 mil hectares de áreas para abertura de garimpos de ouro, sem autorização competente.
Junior Garimpeiro também publicou, em sua rede social, um encontro com Milton Ribeiro no Blue Tree São Luís Hotel, na capital maranhense, em 2 de setembro de 2021 – em outra reunião promovida pelo pastor. “Quero primeiro anunciar a conquista de 01 creche Tipo 1 para nossa querida Centro Novo e depois agradecer o carinho do Ministro da Educação, Milton Ribeiro, com o povo”, escreveu. “Em breve, iniciará a construção de creche de 10 salas para a alegria de todos.”
A agenda oficial do MEC mostra que o ministro abriu espaço privilegiado na sua agenda – sete reuniões ao todo no ano da pandemia – à cidade de apenas 22 mil habitantes, com 5,8 estudantes matriculados em 2020 na rede pública. A relação entre Milton Ribeiro e Junior Garimpeiro se estreitou com o intermédio dos pastores Gilmar Santos e Arilton. Numa das reuniões, em 2 de março, a entrada foi feita às 12h30, com saída às 20h10.
Evento
A proximidade de Ribeiro com os pastores e o prefeito levou para Centro Novo um evento oficial do ministério com prefeitos maranhenses em maio. A cidade fica a 260 km de São Luís. “O Junior Garimpeiro é uma pessoa especial, é alguém que eu acredito que tenha até um futuro aí na política”, disse o ministro na ocasião.
Durante a visita, Ribeiro afirmou que sua história com Centro Novo “começa com o Arilton”. “Quero dizer que (…) Esse homem aí que pegou no meu pé, insistiu para que eu desse atenção ao Maranhão. Então, estou aqui por sua causa. Muito obrigada, Arilton. Depois, aí conheci o Gilmar, líder da igreja, que também ficou no meu pé. E, por fim, quando conheci Junior, eu disse: ‘Junior, pode contar comigo. Eu vou ajudar.’” Procurados, Ribeiro, o prefeito e o pastor Arilton não retornaram. Pastor Gilmar não foi localizado. / COLABOROU EDUARDO GAYER
Estadão