Universidade Federal contesta ascendência étnica e barra jovem negra

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Foto: Reprodução

Em post divulgado nas redes sociais, a estudante Williane Débora Dias Muniz, 21, relatou ter sido vítima de uma “injustiça” após ser desclassificada na avaliação feita pela Comissão de Heteroidentificação da Universidade Federal de Pernambuco. A instância é responsável por legitimar a entrada de estudantes por meio das cotas raciais. Autodeclarada parda, a jovem teve o recurso negado duas vezes e contestou a decisão da comissão. Williane disputava uma vaga no curso de Medicina, campus Recife, através das cotas para pretos e pardos no Sistema de Seleção Unificada (Sisu). Após o ocorrido, ela abriu uma manifestação no Ministério Público Federal contra a instituição.

Na sequência de registros compartilhados por Williane na internet, ela apresenta documentos que comprovam a cor parda. No entanto, o primeiro resultado da comissão, enviado por email para a jovem, informou que ela estava inapta para ocupar a vaga, pois segundo a instância não foi possível “identificar nesta [Williane] traços fenótipos negros”. A estudante recorreu da decisão. No dia 14 de março, recebeu a resposta do pedido de recurso. “No seu caso, o parecer da comissão de PP foi mantido (INDEFERIDO)”.

“Até quando nós, indivíduos, teremos a nossa raça questionada e invalidada?”, escreveu na publicação. A estudante ainda relatou estar vivenciando um dos piores momentos de sua vida. “Todo o esforço e luta para chegar até aqui foi invalidado por puro achismo da Comissão”, desabafou.

Segundo o edital que consta no site da universidade, a instância é formada por até cinco membros, entre docentes, técnicos ou estudantes regularizados. O documento menciona que os candidatos para integrar a comissão precisam ter experiência comprovada na área da promoção da igualdade racial e enfrentamento ao racismo. Para os candidatos autodeclarados pretos ou pardos, a comissão exige que não sejam utilizados acessórios e maquiagens, além de outras regras solicitadas para a gravação do vídeo avaliado pelos integrantes.

No processo que avalia o fenótipo do candidato, é observada a cor da pele, o formato do rosto, a textura do cabelo e outras características visíveis de uma pessoa. O edital salienta que em casos de pais ou avós negros, se o estudante não possuir fenótipos característicos, não está apto para a vaga.

Sobre esses critérios, Williane argumentou “possuir vários traços fenotípicos”. No email enviado para a assessoria da universidade, o Estadão questionou quais foram as causas para a desclassificação da jovem, além de indagar sobre o histórico da instituição em relação ao quadro de estudantes inaptos para vagas cotistas nos últimos dois anos. Não houve resposta.

COM A PALAVRA, A UNIVERSIDADE FEDERAL DE PERNAMBUCO

A reportagem do Estadão entrou em contato com a assessoria da UFPE por email e telefone, além de tentar se comunicar com a Comissão de Heteroidentificação da universidade, mas não houve retorno. O espaço está aberto para manifestação (jayanne.rodrigues@estadao.com)

Estadão