Assessor de Lula para questões do mercado financeiro quer “submergir”

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Foto: Ana Paula Paiva/Valor

Identificado como uma espécie de representante do mercado na órbita do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, rótulo que rejeita, o economista Gabriel Galípolo deve submergir pelas próximas semanas. Ex-presidente do Banco Fator, professor, consultor da Fiesp, Galípolo foi catapultado para o centro do noticiário após acompanhar a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, num jantar com empresários.

O encontro representou avanço, segundo alguns dos presentes, pelo fato de Gleisi ter sinalizado que não teria óbice com a manutenção de Roberto Campos Neto na presidência do Banco Central. Também apontou que o partido não pretende fazer uma revogação da reforma trabalhista, mas melhoramentos.

A exposição excessiva pós-jantar, apurou a reportagem, não estava nos planos do economista. A decisão de dar um passo para trás, passou a dizer a interlocutores, seria um cuidado para não projetar um protagonismo que, internamente, afirma não almejar. Serviria ainda para não melindrar economistas que têm vínculos mais antigos e mais formais com o PT.

O recuo, porém, não significa uma renúncia à colaboração.

Quando quer se inteirar de algum tema, Lula costuma convidar colaboradores para uma conversa-debate a portas fechadas. Nesses encontros, atua ora como ouvinte, ora como inquiridor.

Galípolo vem colaborando informalmente com Lula em conversas assim há um ano, mas sem envolvimento orgânico com o partido ou com a Fundação Perseu Abramo, orgão que produziu documentos que servirão de base ao programa de governo. Suas intervenções sobre macroeconomia e infraestrutura teriam agradado ao ex-presidente. A afinidade, dizem conhecidos, foi rápida e mútua.

No fim de 2021, Lula convidou Galípolo para acompanhá-lo na tradicional visita de Natal que faz a catadores de recicláveis. Sem citá-lo nominalmente, disse que estava com “um banqueiro que já não é mais banqueiro e que está do nosso lado nessa briga para reconstruir a democracia”.

Gleisi e o ex-prefeito Fernando Haddad, pré-candidato do PT a governador de São Paulo, também passaram a ser interlocutores frequentes. Dias atrás, Galípolo assinou um artigo no jornal “Folha de S. Paulo” em parceria com Haddad em que defendem a criação de moeda sul-americana como forma de ampliar a integração regional e fortalecer a soberania dos países.

Mestre em economia pela PUC-SP, Galípolo, 40 anos, é dono de uma consultoria, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro, pesquisador do Centro Brasileiro de Relações Internacionais e conselheiro em dois grupos da Fiesp. Ele presidiu o Fator, um banco de investimento de médio porte, entre 2017 e 2021. Saiu para se dedicar mais à própria empresa.

Entre 2007 e 2008, durante o governo José Serra (PSDB) em São Paulo, trabalhou na assessoria econômica da Secretaria de Transportes Metropolitanos e na Secretaria de Economia e Planejamento. Depois de deixar o governo, se associou ao economista Luiz Gonzaga Belluzzo – também próximo de Lula – em uma consultoria, sociedade desfeita quando Belluzzo resolveu presidir o Palmeiras.

A parceria rendeu três livros que, na síntese de Belluzzo, “buscam discutir teorias econômicas e as falhas graves que apresentam”: “Manda Quem Pode, Obedece Quem tem Prejuízo” (2017), “A escassez na abundância capitalista” (2019) e “Dinheiro: o poder da abstração real” (2021).

“Conheci Galípolo quando ele ainda não tinha 20 anos”, diz Belluzzo. “É um sujeito muito talentoso, estuda muito, é empenhado, não largou a os estudos mesmo tendo a consultoria. Também tem muito interesse pela questão filosófica. É impossível compreender a economia e suas complexidades sem ler os filósofos.”

Belluzzo destaca que as especialidades do colega são investimentos públicos e parcerias público-privadas. “É alguém que foi avançando no conhecimento teórico e que, pela experiência em consultoria, banco e governo, sabe traduzir muito bem os conceitos para a prática”, resume. “Outra grande virtude é ser palmeirense.”

Valor Econômico