Biden pôs Bolsonaro na “geladeira” desde que iniciou o mandato

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Foto: Reprodução

Joe Biden levou 60 semanas para se exibir ao lado de um representante do Brasil de Jair Bolsonaro.

Aconteceu na última segunda-feira (4) na Casa Branca, em Washington, quando recebeu o embaixador brasileiro Nestor Forster Jr.

A reunião foi divulgada quatro dias depois pelo diplomata. Não constou da agenda presidencial nem foi comentada pelos portavozes do governo americano.

Dela restou o registro do cumprimento protocolar, sem crédito ao autor da fotografia publicada por Forster Jr. em rede social, acompanhada de 51 palavras: “No dia 4 de abril, tive a honra de visitar o Presidente Biden, na Casa Branca, e transmitir-lhe os melhores votos do Presidente Bolsonaro e seu apreço pela amizade entre nossos países. Fundada em visão de longo prazo, a parceria que une o Brasil e os EUA é benéfica para ambos.”

Biden, 79 anos, tem mais tempo de estrada política do que o brasileiro possui de vida adulta. Elegeu-se senador pelo Delaware em 1972, quando Bolsonaro, com 17 anos, era matriculado na Escola Preparatória de Cadetes do Exército. Atravessou 36 anos no Senado, em seis mandatos consecutivos, antes de ser tornar vice-presidente nos oito anos do governo Obama e, em 2020, conquistar a presidência.

É o tipo de político heroico para humoristas. Na campanha de 2008, candidato a vice de Obama, foi a um comício em Columbia, no Missouri. No palanque, convocou um aliado local, o Democrata Chuck Graham: “Levanta-te, Chuck, deixe que eles te vejam!” Graham sorriu, e continuou na sua cadeira de rodas. Biden percebeu a gafe, e emendou um pedido para que a multidão se levantasse para saudar Graham.

Às vésperas da eleição, em Nashua (New Hampshire), teve um ataque de “sincericídio” sobre a sua escolha para compor a chapa com Obama: “Hillary Clinton [adversária na convenção Democrata) é tão qualificada, ou mais qualificada do que eu para ser vice-presidente dos Estados Unidos. Francamente, acho que poderia ter sido melhor opção do que eu.”

Biden foi publicamente hostilizado por Bolsonaro durante a disputa com Donald Trump, no período pós-eleitoral, na posse na Casa Branca e durante o primeiro ano de mandato.

Fez um aceno em agosto do ano passado. Mandou a Brasília Jake Sullivan, conselheiro de Segurança Nacional, e Juan González, assessor especial.

Eles entraram no Palácio do Planalto com uma oferta de integração militar do Brasil à Otan, sob o status de “parceiro global”, sonho antigo da diplomacia e das Forças Armadas brasileiras.

A reunião desandou quando Bolsonaro começou a agir de maneira irracional, repisando acusações sem provas de fraudes no sistema de votação brasileiro e retomou insinuações de fraude na eleição de Biden.

Biden, simplesmente, evitou Bolsonaro na ONU, em setembro, e na improvisada Cúpula da Democracia, em dezembro. Conversou com vários presidentes sul-americanos, como o argentino Alberto Fernández, o uruguaio Lacalle Pou, o colombiano Iván Duque e o recém-empossado chileno Gabriel Boric.

Há 15 meses mantém o brasileiro à margem e, pelas evidências sobre a reunião com o embaixador Forster Jr., segunda-feira passada, continua rarefeita a disposição para efetiva aproximação.

Porém, governar também é administrar ambiguidades. E o Brasil está se tornando um ponto de relativa incerteza na política externa dos EUA — motivo de queixas crescentes na comunidade empresarial americana.

Empresas dos Estados Unidos mantêm um estoque de aproximadamente US$ 400 bilhões em investimentos no Brasil, metade de seus ativos na América do Sul. E existem outros US$ 150 bilhões de ativos de empresas brasileiras nos EUA.

A letargia nos negócios está retratada nos resultados do comércio entre os dois países no primeiro trimestre: o mercado americano absorveu 11% das exportações brasileiras, enquanto o chinês ficou com 27%.

Na última década, a China tomou a dianteira na competição com os EUA pelo mercado brasileiro. E empresários americanos se queixam do governo Biden pela ausência de condições competitivas com a China numa “visão de longo prazo”.

Essa expressão foi usada na quinta-feira passada por Myron Brilliant, da Câmara de Comércio dos Estados Unidos, influente grupo de lobby. Por coincidência, aparece na mensagem pública do embaixador Forster Jr. sobre o encontro com Biden divulgada no dia seguinte.

O Brasil é país de médio desenvolvimento, sob Bolsonaro perdeu a pouca relevância que possuía na diplomacia, mas é importante em qualquer cenário para empresas americanas: é o maior mercado da América do Sul e está sob ofensiva econômica da China, o competidor de longo prazo dos EUA.

Reflexo disso está num recente e discreto movimento do Banco Central brasileiro: quadruplicou (para 5% do total) as reservas do país em moeda chinesa, cortando proporcionalmente dólares e euros.

A pressão empresarial pode ser uma condicionante para Biden em negociações com o Brasil. Porém, descontada a fotografia publicada por Forster Jr., não se percebe indício de real disposição da Casa Branca para “normalizar” relações com o governo Bolsonaro.

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