Bolsonaro se recusa a falar sobre indulto a Silveira
O presidente Jair Bolsonaro afirmou nesta sexta-feira, 22, em Porto Seguro (BA), que o indulto concedido na quinta-feira por ele ao deputado federal Daniel Silveira (PTB-RJ) simboliza a “garantia da nossa liberdade”.
“Ontem foi um dia importante para nosso País. Não pela pessoa que estava em jogo ou por quem foi protagonista desse episódio, mas o simbolismo de que temos, mais que o direito, a garantia da nossa liberdade”, disse Bolsonaro durante cerimônia de 522 anos da chegada dos portugueses ao Brasil.
Bolsonaro participou de cerimônia militar sem citar perdão concedido a Daniel Silveira Foto: Andre Borges/AFP
Silveira foi condenado a 8 anos e 9 meses de prisão pelo Supremo Tribunal Federal (STF) por incitar ataques contra ministros da Corte e incentivar atos antidemocráticos. Em decisão tomada ontem, no entanto, o presidente afrontou o STF e concedeu graça (perdão) ao parlamentar. O indulto é criticado por juristas, que questionam a legalidade do ato.
Ucrânia
Durante a cerimônia, Bolsonaro voltou a falar sobre as consequências econômicas da guerra na Ucrânia. “Vocês sabem o que está acontecendo no mundo, por questões externas à nossa vontade, com uma guerra a 10 mil quilômetros de distância, mas as consequências vêm para nossa pátria”, disse.
Ele afirmou também que não vai pregar a divisão no País. “Todos nós temos uma missão no Brasil. temos o mesmo objetivo, mesmo sangue, mesma raça, mesma nacionalidade. queremos unir nossos povos. jamais pregaremos a divisão entre nós. entre cor de pele, entre opções, entre regiões, entre o que quer que seja.”
Silêncio em cerimônia militar
Mais cedo, o presidente Jair Bolsonaro (PL) não se manifestou sobre o caso na manhã desta sexta-feira, 22, ao participar de uma cerimônia militar da na base aérea de Santa Cruz, na zona oeste do Rio. Sem discursar nem dar entrevistas, Bolsonaro ficou ao lado do governador Cláudio Castro (PL), do comandante da Aeronáutica, tenente-brigadeiro Carlos Almeida Baptista Junior e ministros de Estado, durante o batismo operacional dos aviões Gripen, integrados à Força Aérea Brasileira, no Dia da Aviação de Caça.
Bolsonaro é alvo de questionamentos de parlamentares e juristas após o STF condenar Silveira por incitar agressões a ministros e atentar contra a democracia. O deputado, que é aliado do presidente da República, defendeu, em vídeos, o fechamento da Corte. Foram dez votos pela condenação e um pela absolvição. Silveira elegeu-se em 2018, após ganhar projeção ao participar, na campanha eleitoral, de ato em que, ao lado de outros políticos, quebrou uma placa com o nome da vereadora Marielle Franco (PSOL). Marielle e o motorista Anderson Gomes tinham sido mortos a tiros em março do mesmo ano, em crime ainda não totalmente esclarecido.
Na manhã desta sexta, a Rede Sustentabilidade protocolou ação no STF pedindo que a Corte torne nulo o ato de Bolsonaro. O partido reconhece que o presidente da República tem o direito constitucional de conceder perdão a um condenado pela Justiça, mas esse direito, sustenta, não pode ser desvirtuado para fins pessoais.
Na noite de quinta, 21, Bolsonaro participou da live semanal e voltou a desafiar o Supremo: “Este é um decreto que vai ser cumprido”, afirmou.
A cerimônia nesta sexta-feira, na base aérea de Santa Cruz, contou com voos de demonstração das aeronaves F-39 Gripen, F-5 Tiger e A-29 Super Tucano. O presidente desembarcou no Rio por volta das 9h30.
Estadão