Bolsonaro tenta empurrar a culpa por gasto criminoso em Educação

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Foto: Eraldo Peres/AP Photo

O presidente Jair Bolsonaro (PL) afirmou nesta quinta-feira (7) que não tem “nada a ver” com a destinação de R$ 26 milhões do governo federal para compra de kits de robótica para escolas de pequenas cidades de Alagoas que sofrem com uma série de deficiências, como a falta de computadores, de internet e até de água encanada.

Como revelou a “Folha de S.Paulo”, o governo destinou recursos do MEC (Ministério da Educação) para a compra desse material. Todos os municípios têm contratos com uma mesma empresa de aliados do presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), responsável por controlar em Brasília a distribuição de parte das bilionárias emendas de relator do Orçamento, fonte dos recursos dos kits de robótica.

“Vai botar a culpa em mim? Não tenho nada a ver com isso”, disse Bolsonaro, em sua live semanal.
Ele citou que o repasse da verba ocorreu por meio das emendas de relator do Congresso, que são geridas pelo deputado que atua como relator do Orçamento da União. “Kit robótica, então, são RP9, não tem o que discutir”, disse, em referência à sigla que descreve essas emendas.

Embora a destinação da verba seja definida pelo Congresso, a liberação do recurso dependeu do FNDE, que é vinculado ao Executivo federal.

Ele também disse que a aquisição dos equipamentos é realizada pelas prefeituras que são responsáveis pelas verbas enviadas por decisão do Legislativo.

Segundo o presidente, esse caso não pode ser tratado como suspeita de corrupção do governo federal.

“Kit robótica para municípios de alguns Estados do Brasil: RP9, o dinheiro vai diretamente para o prefeito e o prefeito é que licita e compra esse material. Vai botar a culpa em mim? Suspeita de corrupção? Não tenho nada a ver com isso, o Orçamento aqui, quem dá destino é o relator do Orçamento, é o cara mais poderoso que eu, tem mais dinheiro”, disse.

Cada kit foi adquirido pelas prefeituras por R$ 14 mil, valor muito superior ao praticado no mercado e ao de produtos de ponta de nível internacional.

Além de ignorar prioridades, a liberação dos recursos federais para a compra de kits de robótica foi a jato. Em quatro casos os empenhos ocorreram em dezembro e, nos outros, entre agosto e outubro.

O dinheiro foi depositado para os municípios entre fevereiro e março – e é mais um exemplo da falta de critérios técnicos e do domínio do apadrinhamento político na definição da liberação de verbas do MEC na gestão Jair Bolsonaro. O empenho é a primeira etapa da execução orçamentária e reserva o recurso para determinada ação.

Na live desta quinta, Bolsonaro também comentou recentes declarações do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), seu principal concorrente nas eleições deste ano segundo as pesquisas de intenção de votos.

Ele criticou o fato de o petista ter dito que o aborto deveria ser tratado como assunto de saúde pública, em vez de ser considerado crime. “Para ele, abortar e cair um dente é a mesma coisa”, ironizou. Ele também atacou a afirmação de Lula de que a classe média brasileira ostenta “um padrão de vida acima do necessário”.

“Candidato falando abobrinha, querendo interferir no que as pessoas têm em casa. É o mesmo cara que fala que a pauta da família e de valores é uma coisa muito atrasada”, disse.

Bolsonaro também rebateu a declaração de Lula de que seria necessário intervir no preço dos combustíveis. Segundo ele, o resultado dessa política seria o “desabastecimento” do país.

Valor Econômico