Economista do PT diz a investidores americanos que teto de gastos já era

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Foto: Sérgio Silva/Fundação Perseu Abramo/Divulgação

Tido como um dos principais economistas a bordo da Fundação Perseu Abramo, o think tank do Partido dos Trabalhadores (PT), Guilherme Mello esteve na última sexta-feira, dia 22, nos Estados Unidos, em evento organizado pela XP Inc para empresários e investidores. Na ocasião, Mello, que representava a candidatura do ex-presidente Lula, debateu sobre propostas para o desenvolvimento do país com seus pares de candidaturas rivais — o ex-ministro Henrique Meirelles representou João Doria (PSDB); a economista Elena Landau discursou a favor de Simone Tebet (MDB), e Nelson Marconi propagou as ideias de Ciro Gomes (PDT). Em entrevista a VEJA, Mello, cientista social e professor do Instituto de Economia da Unicamp, elogiou o nível do debate, mas descartou a condição de protagonista do programa econômico de Lula.

“O Lula tem um número de interlocutores muito grande. Eu participo de um grupo amplo de economistas das mais diferentes formações, das mais diferentes idades, com as mais distintas especializações. A mim, cabe um papel um pouco de tentar coordenar esses esforços, mas eu sou só uma peça nesta equipe, que tem muitas pessoas qualificadas e experientes”, afirma Mello. “O Lula tem outros interlocutores, inclusive fora do PT, e cada um deles traz um insight, uma visão diferente, que vai ajudando ele a compor como deveria ser conduzida a economia em um eventual novo governo dele.”

No evento, o principal tema questionado ao assessor econômico do PT foi a respeito de uma possível revogação da Lei do Teto de Gastos Públicos caso o partido volte ao poder. O ex-presidente Lula afirma, reiteradamente, que a regra deverá ser revista caso volte ao poder, o que gera certa apreensão no mercado financeiro. “A gente não está discutindo nesse momento qual vai ser o desenho de uma eventual nova regra, no sentido de dizer que vai ser uma regra de gasto ou uma regra de primário. O importante são os fundamentos, os princípios que a nova regra deve seguir. Agora, tudo vai depender das circunstâncias, da negociação, de ter uma maioria política no Congresso para aprovar”, revela Mello. “A gente está elencando uma série de princípios que nós acreditamos que, com base na experiência internacional e na literatura mais atualizada, um bom arcabouço fiscal deva ter.”

Na sequência, o economista e cientista social enumera qualidades procuradas pelo grupo de economistas da Perseu Abramo para a proposição de um novo arcabouço fiscal. “Estamos elencando uma série de princípios que nós acreditamos que um arcabouço fiscal deva ter. Ele deve ser, por exemplo, anticíclico, flexível, tem de ter a possibilidade de ser cumprido e deve privilegiar investimentos de melhor qualidade; investimentos que distribuam renda e que aumentem a produtividade no longo prazo”, afirma Mello. “A gente precisa recuperar a credibilidade em relação ao arcabouço fiscal, que hoje é desrespeitado sistematicamente, é menos transparente e impõe em uma redução do investimento pelo Estado. Se vencermos a eleição, com um ministro nomeado, vamos poder construir uma proposta final, mais bem desenhada, com base nos nossos princípios.”

Questionado se as ideias mais liberais terão espaço no plano econômico de Lula, Mello responde: “Tem que perguntar a ele qual o critério que será adotado. Mas eu não acredito que um eventual governo dele vá ficar apegado a um debate de natureza acadêmica, se é mais desenvolvimentista ou mais liberal, da Unicamp, da UFRJ ou da USP. Acho que ele vai escolher as pessoas certas para as posições certas para tocar um governo que, se for eleito, terá um desafio enorme pela frente”, afirma, engatando um comentário ácido acerca do atual ministro da Economia, Paulo Guedes. “O Lula não pretende estabelecer um nome para Posto Ipiranga. Talvez o pessoal tenha ficado mal-acostumado com o Guedes, que todos achavam que ia resolver tudo, mas, na verdade, não resolve nada e quem manda é o [presidente] Jair Bolsonaro.”

Mello ressaltou, ainda, que o partido não se opõe ao projeto de independência do Banco Central e que o próximo governo deve ter compromisso social e ambiental. “Até a Elena Landau, que é uma crítica histórica do partido, reconheceu no evento que o Lula, em seu primeiro governo, reduziu rapidamente o desmatamento na Amazônia. Hoje, a gente tem um cenário muito duro, onde a Amazônia está chegando no seu limite, onde os cientistas estão chamando do ponto de ‘não-retorno’. É preciso salientar o compromisso ambiental, social, a necessidade de ter políticas públicas bem desenhadas, e o compromisso com a responsabilidade fiscal”, disse Mello. O périplo do economista nos EUA acabou, avalia ele, com saldo positivo.

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