Endireitamento faz jovens abandonarem igrejas evangélicas

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Foto: Reprodução

Nos últimos oito anos, com o impeachmente da ex-presidenta Dilma Rousseff e com a eleição do atual presidente Jair Messias Bolsonaro, um processo tem se convencionado no seio do chamado movimento evangélico brasileiro. O processo ao qual me refiro é o da evasão das novas gerações de jovens das igrejas evangélicas em decorrência de seus posicionamentos políticos progressistas. Com a interrupção do governo PT, após quatorze anos no poder, e com a ascensão de uma direita ideologicamente extremista, os ambientes de expressões da fé evangélica foram radicalmente alterados como reflexo da adesão de seus líderes aos discursos autoritários e à racionalidade neoliberal.

A transmutação dos ambientes eclesiásticos consiste, antes de tudo, num banimento do pensamento contrário, sobretudo no que diz respeito à política e à cultura. Visto que concepções conservadoras – e muitas vezes, o pensamento reacionário -, encontram posição de hegemonia no segmento religioso, perspectivas progressistas ou posicionamentos políticos à esquerda, são rechaçados, condenados e suprimidos. Por essa razão, podemos estar diante de uma das maiores debandadas de jovens das igrejas evangélicas.

Em 2014, em minha tese de conclusão do curso de Teologia numa instituição confessional de ensino superior, trabalhei numa pesquisa de campo realizando inúmeras entrevistas com jovens afastados da comunhão de suas comunidades de fé e auferindo os principais fatores motivadores de suas deserções. Dentre as principais razões da fuga dos jovens de suas igrejas, figurava a falta de espaço para a expressão do pensamento contrário. Este Aspecto é chamativo, pois vai de encontro com os estudos de Jean W. Twenge, professora do Departamento de Psicologia da Universidade de San Diego, que em sua ampla pesquisa com jovens – especialmente com os nascidos a partir de 1995 -, constatou que eles valorizam o diálogo de forma inegociável, constituindo a geração mais inclusiva de toda a história.

À vista disso, entre os mais novos é natural a identificação com as ideias progressistas, o que per se tem o potencial de gerar conflitos nos ambientes eclesiásticos mais conservadores. Em minha experiência diária, tenho encontrado cada vez mais jovens evangélicos apossados por profundas crises de fé em decorrência de suas concepções políticas.

O estágio último dessas crises de fé experimentadas pelos mais jovens é o abandono de suas comunidades religiosas, o que em ambientes rígidos e autoritários se torna algo incontornável. Infelizmente, toda essa conjuntura de intolerância das igrejas evangélicas em relação às ideias progressistas tende a se intensificar nos próximos meses, o que causará mais egressões e provocará danos irreparáveis à imagem das igrejas perante os mais jovens.

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