Lira e Renan se atacam em Alagoas

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Foto: Arte / Agência O Globo

O senador Renan Calheiros (MDB) e o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP), trocaram ataques explícitos nas redes sociais nesta sexta-feira. Caciques políticos em Alagoas e de famílias adversárias pelo poder no estado, a dupla discutiu por um imbróglio judicial que envolve a eleição do novo governador alagoano, o que deve ser decidido por meio de uma eleição indireta, já na semana que vem.

Por meio de seu perfil no Twitter, Calheiros comemorou uma decisão desta sexta-feira do presidente em exercício do Tribunal de Justiça de Alagoas, o desembargador José Carlos Malta Marques, que manteve a eleição indireta ao governo do estado para a próxima segunda-feira. O magistrado derrubou uma decisão de primeira instância, que havia suspendido o pleito, e atendeu ao pedido da procuradora-geral do Estado, Samya Suruagy. Ela alegou que, ao adiar a disputa por tempo indeterminado, poderia causar graves lesões à ordem pública jurídico constitucional e administrativa de Alagoas.

Ao comentar a decisão do TJ, Calheiros escreveu que “a independência dos poderes é sagrada”. Em seguida, acusou Arthur Lira de articular um “golpe para impedir a eleição para o governo de Alagoas na forma da Constituição” e classificou o movimento como “quarteladas, afrontas aos poderes e desacato às decisões judiciais”.

 

Pouco depois, Lira também citou diretamente Calheiros, que já presidiu o Senado por dois mandatos. O deputado disse que Calheiros “entende bem” sobre dar golpes. “Foi assim que ele tentou conduzir o Congresso Nacional e, várias vezes, desrespeitou decisões judiciais”, completou. Na sequência do post, Lira afirmou ainda que o senador “achaca e interfere nos poderes, desrespeita a vontade popular e quer fazer do Estado a extensão do seu latifúndio”.

 

Governado até este ano por Renan Filho (MDB), que renunciou para concorrer ao Senado em outubro, o estado de Alagoas passou a ser comandado pelo presidente do Tribunal de Justiça, o desembargador Klever Loureiro, que assumiu um mandato-tampão. Isso aconteceu porque o vice-governador, Luciano Barbosa (MDB), já havia renunciado em 2020, antes de ser eleito prefeito da cidade de Arapiraca. O presidente da Assembleia Legislativa de Alagoas, Marcelo Victor (MDB), deveria ser o próximo na linha de sucessão, mas também renunciou. Ele preferiu abdicar de seu cargo para tentar a reeleição como deputado estadual, o que não seria possível se assumisse o governo.

Desde então, Calheiros atua para manter o controle do estado, enquanto Lira tenta estragar os planos do senador. Em janeiro, a Assembleia Legislativa aprovou as regras para a eleição indireta com obrigatoriedade do voto aberto e a realização de eleições separadas para governador e vice, com decretação da vitória por maioria simples.

O modelo é contestado pelo PSB, que questionou o pleito na Justiça e sustenta que há inconstitucionalidades e ilegalidades no regramento escolhido. A Procuradoria-Geral de Alagoas, porém, entende que, segundo decisão recente do Supremo Tribunal Federal, o estado tem autonomia para decidir o formato da eleição indireta aos cargos de governador e vice.

O movimento de contestação encabeçado pelo PSB, no entanto, passa também pela disputa entre Lira e Calheiros, projetada para as eleições gerais de outubro. Ao governo do estado, o senador vai apoiar o deputado estadual Paulo Dantas, seu correligionário no MDB. Lira, por outro lado, vai se unir ao atual prefeito de Maceió, João Henrique Caldas, o JHC, que pertence justamente ao partido socialista e é também adversário político da família Calheiros. Juntos, eles vão fazer campanha para o senador Rodrigo Cunha (União), o escolhido pelo presidente da Câmara.

Por isso, o grupo de Lira tenta barrar a eleição, já que o candidato de Calheiros, Paulo Dantas, pode se fortalecer para a disputa se o MDB mantiver o controle da máquina pública. Candidato ao mandato-tampão pela Assembleia Legislativa, Dantas tem grandes chances de se eleger caso o pleito de fato aconteça, já que a bancada emedebista se tornou a maior da Casa, com 17 cadeiras, após o período de janela partidária. Para que o novo governador seja eleito, são necessários somente 14 votos.

O Globo