Na Faria Lima, Bolsonaro vence Lula
Foto: Adriano Machado/Reuters
Assim como os Estados Unidos ou a Inglaterra, o Brasil também tem seu mercado de apostas sobre a eleição presidencial. E nessa bolsa, que funciona de maneira informal no mercado financeiro, o presidente Jair Bolsonaro está bem mais bem colocado do que nas pesquisas de opinião.
Nesse mercado, a aposta é em “quem será o presidente do Brasil a partir de janeiro de 2023” – diferente das pesquisas, que perguntam em quem a pessoa vai votar.
A cotação da última sexta-feira mostrava que, para esses operadores, as chances de Lula ganhar as eleições são de 46%, mais ou menos semelhantes ao do último levantamento do Datafolha, que mediu em 43% a intenção de voto do petista no último dia 25 de março.
Já Bolsonaro tem 26% das intenções de voto no Datafolha, mas figura na bolsa de apostas da Faria Lima com 40% de chances de ser o presidente.
É uma diferença considerável, especialmente porque, em 31 de janeiro, a “marcação” das apostas era bem diferente. Naquela ocasião, eram 51% de chances para Lula nesse mercado, contra 26,8% do presidente da República. Mais parecido com o Datafolha, que mostrava Lula batendo Bolsonaro por 48% a 22%, podendo até vencer no primeiro turno.
Os apostadores desse mercado são funcionários dos bancos, gestoras e corretoras da Faria Lima, que compram e vendem “Lula”, “Bolsonaro” e outros candidatos por meio de ofertas feitas pelo WhatsApp e marcadas em planilhas internas que só vão ser liquidadas na data da eleição.
Numa única lista, que circula entre investidores abonados, as apostas na eleição brasileira já movimentaram cerca de R$ 3 milhões. Tudo no fio do bigode, mas considerado muito seguro. No mercado, há histórias até de apostadores que não honraram os prejuízos acumulados com as apostas e acabaram demitidos pelo chefe.
Os quatro apostadores com quem conversei nos últimos dias estimam ser centenas deles, que no momento dividem suas atenções entre os resultados do campeonato brasileiro e as eleições de outubro.
Não é uma amostragem numericamente relevante ou estatisticamente representativa, mas tem a utilidade de expressar a leitura de cenário de quem está acostumado a ganhar dinheiro fazendo projeções com base nos acontecimentos políticos.
No exterior, onde essas bolsas são comuns, seus resultados são utilizados como ferramenta de análise e projeção de cenários. No Brasil, os apostadores estimam que o mercado informal é ainda mais relevante do que os de sites de apostas – que são populares para resultados do futebol, por exemplo, mas não tanto para a política.
O crescimento das apostas em Bolsonaro no mercado financeiro pode ser lido como um sinal de que, para a Faria Lima, as recentes movimentações políticas do presidente da República devem garantir a ele uma posição melhor nas urnas.
Nos últimos meses, Bolsonaro acatou a sugestão de aliados e parou de criticar a vacinação. Seu governo está gastando neste ano R$ 160 bilhões em um programas com grande impacto eleitoral.
Os outros candidatos que aparecem na bolsa de apostas do mercado financeiro são Eduardo Leite, que na sexta-feira tinha 2,5% de chances de ser eleito, Ciro Gomes, também com 2,5%.
Sergio Moro, João Doria, Simone Tebet e até Fernando Haddad estão entre os possíveis presidentes do Brasil em 2023, com 1% de chances cada um.
Por aí se vê que nem na Faria Lima, em que os candidatos da terceira via são sempre bem recebidos, suas chances são vistas como muito promissoras.