PL se tornou um partido de extrema-direita
Foto: Cristiano Mariz/OGlobo
Maior vitorioso na janela partidária, ao sair de 43 para 78 deputados em mês, o PL terá dificuldades para dar uma guinada política no próximo ano, caso o presidente Jair Bolsonaro perca a reeleição. É consensual a tese entre os políticos de que o partido de Valdemar Costa Neto não demoraria para embarcar num eventual governo Lula, mas o quadro após o fim da janela partidária, contudo, mostra que esse malabarismo seria muito mais difícil do que imaginado no início e provavelmente provocaria uma guerra interna entre os grupos.
A “janela” é o período de 30 dias, seis meses antes da eleição, em que deputados e vereadores podem trocar de partido para concorrerem sem o risco de perderem o mandato por infidelidade.
A bancada do PL na Câmara não chegou a dobrar, mas hoje os bolsonaristas são maioria. Isso ocorreu porque 13 deputados deixaram a sigla por discordar do apoio a Bolsonaro, como o então secretário-geral do PL, o deputado Cristiano Vale (PA), ou por questões locais, como os ex-líderes da sigla na Câmara Aelton Freitas (MG) e José Rocha (BA).
O partido em Minas subiu de quatro para sete deputados federais, o que tornou difícil a reeleição de todos. “Para mim ficou impossível”, justificou Freitas. Ele e Vale foram para o PP, enquanto Rocha se filiou ao União Brasil. Antes deles, o vice-presidente da Câmara, Marcelo Ramos (AM), já havia migrado para o PSD por seguidos embates contra Bolsonaro.
Levantamento do Valor mostra que apenas 30 dos 78 deputados federais do PL já estavam no partido antes de Bolsonaro entrar em novembro. Parte deles, como o deputado Capitão Augusto (SP), pastor Marco Feliciano (SP) e policial Katia Sastre (SP), já era alinhada as ideias do presidente e fazia oposição ao PT. Mas havia políticos em redutos petistas e outros mais pragmáticos, com histórico de adesão aos projeto de governos anteriores.
As filiações findadas em abril tornaram a bancada majoritariamente bolsonarista e de direita. Dos 78, 48 são novos sendo só quatro egressos de partidos de esquerda, PDT e PSB, o que indica um adesismo ao governo maior na migração. É impossível prever a composição da sigla na próxima legislatura, mas muitos dos que tentarão uma vaga na Câmara são ligados ao presidente, como o ex-secretário nacional de Cultura Mario Frias e o ex-ministro do Meio Ambiente Ricardo Salles. A maioria dos deputados estaduais que ingressou também o fez por causa de Bolsonaro.
Vice-presidente do PL, Capitão Augusto viajou pelo país para acompanhar as filiações e disse que havia expectativas de crescimento, mas que o aumento tão expressivo se deveu mesmo ao presidente. Ele, porém, não comenta a possibilidade de adesão a um governo Lula porque diz que é “uma conjuntura fora da realidade”. “A gente não cogita o Lula vencer, nem conta com isso aí”, afirmou.
Também com a ressalva de que acredita na vitória de Bolsonaro, o deputado Zé Vitor (MG), um dos antigos do PL, avalia que a sigla provavelmente ficaria como independente.
“É impensável e impraticável integrar a base de um eventual governo Lula. Não há ambiente. Historicamente entendo que quase sempre estivemos aliados aos governos, mas é outro momento e quem está no partido hoje tem perfil de centro-direita e de direita”, disse.
No antigo PSL, a guerra interna ocorreu por causa do rompimento entre Bolsonaro e o presidente da sigla, o deputado Luciano Bivar (PE), mas os dois grupos ficaram ideologicamente à direita. Nessa janela, dos 53 deputados do PSL, apenas 13 ficaram na sigla (que se fundiu ao DEM e virou União). Um rompimento para aderir ao governo petista, projeta um bolsonarista sob anonimato, levaria a uma crise interna e o controle da bancada pelo grupo de oposição – a “briga de listas” para ver quem tinha mais apoio dividiu o PSL por três anos. Outro deputado, da ala “histórica” do PL, lembra que Valdemar da Costa Neto comanda o partido há mais de 20 anos, mesmo preso no mensalão, e tem habilidade para evitar a tomada da legenda.