Rio Grande do Sul inclinou-se para a extrema-direita

Todos os posts, Últimas notícias

Foto: Reprodução

Uma verdade sobre as eleições estaduais no Rio Grande do Sul que os próprios gaúchos se gabam ao contar é que eles gostam de rotatividade: desde a volta da escolha direta, em 1982, nunca reconduziram um governador ao cargo. A outra certeza é que nos últimos anos o eleitorado tem se inclinado à direita — ou ao menos rejeitado a esquerda. Embora vitoriosos nacionalmente, Lula e Dilma Rousseff perderam no estado em 2006, 2010 e 2014, sempre para o PSDB. Em 2018, Jair Bolsonaro, se dependesse da vontade local, teria sido eleito no primeiro turno — teve 52,6% contra o também petista Fernando Haddad. No segundo turno, levou dois de cada três votos, o que alçou o bolsonarismo a uma das principais forças por ali. Nas eleições deste ano, o minuano político dos pampas sopra novamente em direção à direita, mas o cenário ficou embaçado pelo racha entre duas candidaturas: a do ex-ministro Onyx Lorenzoni (PL) e a do senador Luis Carlos Heinze (PP), representantes dos dois principais partidos do Centrão, o bloco político que sustenta Bolsonaro.

Mais do que pertencerem à mesma vertente política, Onyx e Heinze são a imagem e semelhança de Bolsonaro. Compartilham a mesma cartilha ideológica, marcada pela pregação anticomunista, defesa de valores conservadores, críticas à imprensa e desconfiança do sistema eleitoral, entre outras coisas. Durante a pandemia, comungaram também da postura negacionista diante da Covid-19. Heinze se tornou uma das estrelas da CPI do Senado ao defender remédios ineficazes contra a doença e ao atacar as tentativas de investigação do governo federal. Onyx, por sua vez, repetiu falácias relacionadas à crise sanitária — por isso teve publicações excluídas das redes, por conter informações falsas — e foi à Justiça, como ministro do Trabalho, para barrar a exigência do passaporte da vacina nas empresas. A VEJA ele defendeu a atuação de Bolsonaro, criticou prefeitos e governadores por adotarem o isolamento social e disse não ver problema em questionar vacinas: “Uma das coisas mais básicas da ciência é sempre duvidar. Qual o problema em ter dúvidas? Nenhum”.

Na adesão ao bolsonarismo raiz, Onyx está bem na frente de Heinze. Ele foi um dos primeiros políticos a apostar na viabilidade eleitoral do deputado de baixo clero, algo que reforça frequentemente. Como recompensa, está no primeiro time do governo desde a transição. Ocupou pastas importantes como Casa Civil, Cidadania, Secretaria-Geral da Presidência e Trabalho e Previdência. Não brilhou em nenhuma delas (e sempre defendendo teses contrárias ao bom senso), mas ganhou projeção suficiente que o ajuda a liderar com folga no momento a corrida estadual gaúcha. Tem 20% das intenções de voto, segundo as pesquisas mais recentes.

Concorrente direto pelos votos conservadores no Rio Grande do Sul, Heinze ainda não passa dos 5% nesses levantamentos, mas é relativamente novo na disputa (lançou a candidatura no mês passado) e, por isso, aposta em um crescimento rápido. Duas legendas fortes no estado o apoiam: o PP foi quem mais levou prefeituras em 2020, e o PTB, o quarto. Onyx, porém, venceu a primeira batalha em busca de aliados de peso ao trazer para a sua chapa o vice-presidente Hamilton Mourão, que tentará a única vaga do estado ao Senado pelo Republicanos, outro partido do Centrão.

Evidentemente, membros de ambas as campanhas admitem que o melhor seria a união, mas o acerto é considerado distante. “Falei com o Bolsonaro diretamente antes de confirmar minha candidatura. O presidente sabe que aqui ele terá dois palanques”, diz Heinze. O palco dividido foi posto à prova na sexta 8, quando Bolsonaro visitou Pelotas, Bagé e Passo Fundo. Apesar do clima de comício, o presidente não fez menção à eleição estadual. Exaltou Onyx como um ex-ministro “polivalente” que serviu muito bem ao governo, e saudou Heinze só como um integrante de sua comitiva.

A boa notícia para os bolsonaristas é que o campo adversário também está dividido. A esquerda tem os pré-­candidatos do PT (Edegar Pretto) e do PSB (Beto Albuquerque). O PDT quer lançar o presidente do Grêmio, Romildo Bolzan. Mais ao centro, o PSDB tem o governador Ranolfo Vieira Júnior, que assumiu após a renúncia de Eduardo Leite. “Essa é uma das únicas eleições dos últimos anos em que não temos um candidato óbvio e favorito”, avalia Rodrigo Stumpf González, professor de ciência política da UFRGS. Para ele, a polarização nacional deve favorecer uma disputa entre direita e esquerda no segundo turno. Dentro desse panorama, a tendência é de acirramento nos próximos meses da briga entre Onyx e Heinze para saber qual deles empunhará na reta decisiva a bandeira do bolsonarismo nos pampas.

Veja