1/3 dos mesários teme ser alvo de violência nas eleições
Diante das investidas do presidente Jair Bolsonaro e de seus aliados contra o sistema eleitoral, uma pesquisa mostra que 30% dos eleitores convocados para trabalhar como mesários na eleição temem sofrer ataques e 70% acham que o TSE deveria adotar medidas de segurança adicionais este ano.
Entre aqueles que veem necessidade para mais medidas de segurança, 75% acham que o TSE (Tribunal Superior Eleitoral) deveria providenciar maior policiamento ou seguranças particulares, e 5%, mais fiscais.
O Instituto Ideia ouviu 651 mesários, que foram entrevistados de 28 de abril a 5 de maio —a margem de erro da pesquisa é de 2,85 pontos percentuais, para mais ou para menos. Segundo o TSE, em 2018, na última eleição presidencial, 2,1 milhões de eleitores trabalharam como mesários.
Nos Estados Unidos, onde o então presidente Donald Trump passou meses em 2020 questionando o sistema eleitoral, houve inúmeros ataques contra pessoas que trabalharam nas seções eleitorais, com doxxing (exposição de dados pessoais) e confrontos físicos.
Em estados americanos como Oregon, Califórnia, Maine, Minnesota e Washington, foram propostas leis que aumentam penas para quem agredir ou ameaçar pessoas que trabalham nas eleições e permitem que esses funcionários ocultem suas informações pessoais dos registros públicos, para evitar assédio.
Entre os entrevistados da pesquisa brasileira que trabalharam em eleições passadas, apenas 22% disseram ter tido algum tipo de problema. Dos que tiveram, 34% citaram confrontações verbais (xingamentos, acusações), 32%, hostilidade, 22%, ameaças, 21%, exposição de dados pessoais e 19%, ataques físicos.
Apesar de uma minoria relatar problemas passados, 30% temem sofrer ataques, e 62% não (8% não sabem). Dos que se preocupam com ataques este ano, 58% temem ameaças, 55% esperam ataques físicos, 52%, confrontações verbais, 47%, hostilidade e 36%, ataques com armas.
“A eleição costuma refletir o sentimento da campanha. Campanhas tensas se traduzem em processos eleitorais tensos. Se o período eleitoral elevar muito o calor da disputa, esse temor pode aumentar”, diz Maurício Moura, fundador do Instituto IDEIA e professor da Universidade George Washington.
Para entrevistar os mesários, o Instituto Ideia usou uma amostra nacional e fez, em média, 25 ligações para encontrar cada mesário.
O presidente do TSE, ministro Edson Fachin, reuniu-se com os ministros da Defesa e da Justiça e com o diretor da Polícia Federal e ressaltou a necessidade de as forças públicas de segurança estarem atentas e atuantes no período eleitoral.
Os presidentes dos tribunais regionais eleitorais têm se reunido com forças de segurança dos estados.
Servidores, magistrados, apoio logístico e mesários trabalham nas eleições. No dia do pleito, os mesários representam a Justiça Eleitoral e têm prerrogativas de agentes públicos. O mesário que é presidente da seção pode pedir a um coordenador para que acione a força policial caso necessário.
No treinamento deste ano para mesários, serão enfatizadas técnicas para enfrentamento da desinformação e resolução de conflitos.
“Abordaremos como o mesário deve agir na seção se for provocado, técnicas de mediação, de negociação”, diz Ana Claudia Mendonça, secretária de gestão de pessoas e coordenadora do grupo de trabalho de mesários no TSE.
“O tribunal conta com o apoio das forças federais e policiais para que as eleições ocorram com tranquilidade; acredito que a violência se dará mais no campo das ideias, da polarização nas redes sociais, e não violência física.”
Além de medo de agressões, muitos mesários manifestam desconfiança no sistema eleitoral e na urna eletrônica.
Quase metade dos mesários entrevistados dizem não confiar ou confiar pouco nas urnas eletrônicas (44%). São 43% dos mesários que concordam com a frase “Não haverá fraude na eleição de 2022”, enquanto 20% discordam e 36% não têm posicionamento. Entre os entrevistados na pesquisa, 31% acham que que os resultados da eleição serão contestados, e 28% acham que não.
“O sistema eleitoral brasileiro, mesmo com limitações e possibilidades de melhora, é uma referência positiva internacional. Nesse sentido, é preocupante a piora da percepção da opinião pública em relação ao processo”, diz Moura.
“Essa combinação de polarização da opinião pública, descrença crescente nas urnas e temor dos trabalhadores da eleição costuma produzir confusão. Os Estados Unidos são o maior exemplo disso.”
Não haverá fraude na eleição de 2022
Concordo: 43%
Nem concordo, nem discordo: 36%
Discordo: 20%
Os resultados das eleições não serão contestados
Concordo: 28%
Nem concordo, nem discordo: 41%
Discordo: 31%
Confiança na urna eletrônica
Confio muito: 52%
Confio pouco: 31%
Não confio: 13%
Não sei: 4%
Já teve algum problema como mesário em eleições passadas?
22%, sim
78%, não
Dos que tiveram problemas:
34% confrontações verbais (xingamentos, acusações)
32% hostilidade
22% ameaças
21% exposição de dados pessoais
21% assédio moral
19% ataques físicos
O TSE deveria adotar medidas de segurança adicionais para trabalhar nesta eleição
Concordo: 70%
Discordo: 11%
Nem concordo, nem discordo: 20%
Quais deveriam ser as medidas de segurança?
Maior policiamento/seguranças particulares: 75%
Ter mais fiscais: 5%
Ações contra os bocas de urnas: 4%
Revista dos eleitores: 2%
Oferecer o transporte de ida e volta dos mesários: 1%
Câmeras nos locais de votação: 1%
“Não haverá fraude na eleição de 2022”
Concordo: 43%
Nem concordo, nem discordo: 36%
Discordo: 20%
Concordância com a frase “Os resultados das eleições não serão contestados”
Concordo: 28%
Nem concordo, nem discordo: 41%
Discordo: 31%
Confiança na urna eletrônica
Confio muito: 52%
Confio pouco: 31%
Não confio: 13%
Não sei: 4%
Fonte: Instituto Ideia
Folha